2008-04-18 12:47:27

BENTO XVI AOS LÍDERES RELIGIOSOS: "SOCIEDADE UNIDA PODE SURGIR DA PLURALIDADE"


Washington, 18 abr (RV) - O Santo Padre deixará dentro de alguns instantes a sede da nunciatura apostólica em Washington, onde pernoitou nas últimas três noites, e se transferirá para Nova York, segunda e última etapa da sua visita aos Estados Unidos. Após percorrer 330 km em uma hora de vôo, o Santo Padre vai chegar ao aeroporto internacional John Fitzgerald Kennedy de Nova York às 9h45 desta manhã, hora local. O Papa será recebido pelo arcebispo de Nova York, Cardeal Edward M. Egan, pelo observador permanente da Santa Sé na ONU, Arcebispo Celestino Migliore, pelo prefeito da cidade, Michael Bloomberg, pelo bispo de Brooklyn, Dom Nicholas DiMarzio, pelo bispo de Rockville Centre, Dom William Francis Murphy e por algumas autoridades civis, num total de 15 pessoas. Não estão previstos discursos ou formalidades.

Bento XVI deixará o aeroporto internacional John Fitzgerald Kennedy de helicóptero em direção a Manhattan, até a sede das Nações Unidas, onde será recebido pelo secretário-geral, Ban Ki-moon. Em seguida, o Santo Padre manterá um encontro com os representantes da ONU na Sala da Assembléia Geral. Está previsto também um discurso aos funcionários da organização.

A sede da ONU é um complexo arquitetônico inaugurado em 1952 e projetado pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemayer. A Assembléia Geral da ONU é formada por 192 estados-membros. Desde 2 de abril de 1964, a Santa Sé mantém uma representação na ONU e goza do status de observador permanente, com direito a acompanhar os trabalhos, mas sem direito de voto ativo ou passivo. O atual observador permanente é o arcebispo Celestino Migliore, que, aliás, hospedará o Santo Padre durante sua permanência em Nova York.

Na tarde de hoje, outros dois importantes encontros aguardam o pontífice: uma visita a uma sinagoga de Manhattan, onde voltará a fazer os seus augúrios pela Páscoa hebraica, que começa amanhã. Enfim, um encontro ecumênico com outras comunidades cristãs na Igreja de São José.

Já na tarde de ontem, seu último compromisso foi o encontro de Bento XVI com representantes de outras religiões no Centro Cultural Papa João Paulo II.

O papa foi saudado pelo bispo auxiliar de Milwaukee, Dom Richard J. Sklba, responsável pela Comissão Episcopal para o Ecumenismo e o Diálogo inter-religioso. Estavam presentes no encontro cerca de 200 representantes de cinco comunidades religiosas: judaica, muçulmana, hindu, budista e jainista.

No seu discurso, Bento XVI pediu aos líderes das diferentes religiões para debater suas diferenças com "calma e clareza" e poder, assim, não só alcançar a paz, mas também descobrir a verdade compartilhada por todos. "Em nossa tentativa de descobrir os pontos comuns, talvez deixamos de lado a responsabilidade de discutir nossas diferenças com calma e clareza”.

O evento na sede do Centro Cultural João Paulo II começou às 18h locais, conforme o previsto. Mas, por motivos de segurança, os convidados tiveram que chegar ao centro horas antes de o encontro ter início. Durante essas horas, houve uma animada troca de idéias entre os líderes dos diferentes credos.

Bento XVI disse que esse diálogo não deve parar na identificação de uma "série de valores comuns", mas ir em frente para descobrir a base na qual se assentam. "Não temos nada a temer, já que a verdade nos revela a relação essencial entre o mundo e Deus", disse o papa, elogiando a convivência pacífica nos Estados Unidos entre pessoas de diferentes crenças.

"Hoje, em escolas de todo o país, jovens e crianças cristãos, judeus, muçulmanos, hindus e budistas estudam juntos e aprendem uns com os outros", afirmou.

Bento XVI expressou seu desejo de que outras sociedades sigam o exemplo americano e se dêem conta de que "uma sociedade unida pode surgir da pluralidade", e defendeu a liberdade religiosa como um "direito civil básico".

O pontífice insistiu em afirmar que a defesa da liberdade religiosa é uma tarefa que nunca acaba e lembrou que mesmo nas sociedades tolerantes os credos minoritários sofrem injustiças, discriminações e preconceitos.

O diálogo entre as diferentes crenças beneficia tanto os indivíduos, quanto a sociedade em seu conjunto: "À medida que nos conhecemos melhor, nos damos conta de que sentimos um apreço por valores éticos reverenciados por todas as pessoas de boa vontade".

O papa destacou que os líderes religiosos têm uma grande responsabilidade ao transmitir à sociedade o necessário respeito pela vida e pela liberdade, assim como facilitar a paz e a justiça e ensinar às crianças a diferença entre o bem e o mal.

O Santo Padre indicou que vivemos momentos históricos nos quais com freqüência se evitam questões profundas como: "Qual é a origem e o destino da humanidade?" ou "Que é o bem e o mal?". Ao longo da história, disse, o ser humano sempre encontrou a resposta a essas dúvidas na fé.

"Os líderes religiosos têm a obrigação especial de colocar essas perguntas profundas no primeiro plano da consciência humana, de voltar a despertar a humanidade perante o mistério da existência humana e conseguir com que haja espaço para a reflexão e a oração em um mundo frenético", afirmou.

Ao encerrar seu discurso, Bento XVI insistiu que os líderes religiosos podem ser instrumentos da paz ao defender a vida e a liberdade de religião no mundo todo.

O Bispo Richard Sklba apresentou ao pontífice, no final do encontro, cinco jovens representantes de diferentes religiões. Eles trabalharam em favor da paz e do diálogo entre os diversos credos em suas respectivas comunidades e entregaram ao pontífice vários símbolos de paz. A seguir, o papa cumprimentou dez líderes religiosos norte-americanos.

Depois, foi a vez de Bento XVI se encontrar com representantes da comunidade judaica e lhes entregar uma Mensagem por ocasião Páscoa, que tem início neste sábado.

O papa escreve: "Com respeito e amizade, peço à comunidade judaica que aceite os meus votos de Pesah num espírito de abertura às reais possibilidades de cooperação que se abrem diante de nós, enquanto contemplamos as urgentes necessidades do nosso mundo e olhamos com compaixão para os sofrimentos de milhões de nossos irmãos e irmãs em toda a Terra. Naturalmente, a nossa compartilhada esperança de paz no mundo abraça o Médio Oriente e, de modo particular, a Terra Santa. Possa a recordação das misericórdias do Senhor, que judeus e cristãos celebram neste tempo de festa, inspirar todos os responsáveis pelo futuro daquela região – onde tiveram realmente lugar os acontecimentos ligados à revelação de Deus – renovados esforços e, principalmente, novas atitudes e uma nova purificação dos corações!". (SP/BF)







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