Bento XVI exorta os Bispos católicos dos Estados Unidos a contrastarem o individualismo
e o materialismo com o Evangelho da vida e da esperança.
(17/4/2008) Numa “terra de grande fé” como os Estados Unidos, com cidadãos “conhecidos
pela grande vitalidade, criatividade… generosidade”, Bento XVI exorta os Bispos a
contrastarem o individualismo e o materialismo com o Evangelho da vida e da esperança.
Na longa alocução dirigida aos membros da Conferência Episcopal norte-americana,nesta
quarta feira á noite, o Papa evocou também a família como primeiro lugar da evangelização
e “a profunda vergonha” do abuso sexual de menores, que tanto afectou as comunidades
católicas do país pelo grave comportamento de um certo número de homens da Igreja.
“Chamados hoje a difundir a mensagem do Evangelho”, o Papa convidou os bispos
americanos a interrogarem-se sobre as condições para realizarem essa missão. Antes
de mais, observou, há que abater algumas barreiras. A começar pela “subtil influência
do secularismo” que leva as pessoas, não obstante um genuíno espírito religioso, a
não viverem coerentemente a sua fé no comportamento de cada dia. “Será porventura
coerente professar a nossa fé na igreja ao domingo, e depois, ao longo da semana,
promover práticas de negócios ou actividades médicas contrárias a essa fé? – interrogou-se
o Papa. Será coerente para católicos praticantes ignorar ou explorar pobres e pessoas
marginalizadas, promover comportamentos sexuais contrários ao ensinamento moral católica,
ou adoptar posições que contradizem o direito à vida, de cada ser humano?” “Há
que resistir a cada tendência a considerar a religião como um facto privado. Só quando
a fé permeia todos os aspectos da vida é que os cristãos se tornam abertos à potência
transformadora do Evangelho”.
Outro obstáculo para um encontro com Deus,
numa sociedade rica, é o materialismo “As pessoas têm necessidade que lhes seja recordado
o fim último da existência – advertiu o Papa. Precisam de reconhecer que têm dentro
uma profunda sede de Deus. Precisam de ter a oportunidade de beber do poço do Seu
amor infinito”. “É fácil cair no erro de pensar conseguir obter com os nossos
próprios esforços a realização de necessidades mais profundas. É uma ilusão. Sem Deus,
que nos dá aquilo que sozinhos não podemos alcançar, as nossas vidas são, em última
análise, vazias”. Toda a actividade pastoral há-de ter como objectivo ajudar
as pessoas a entrar em relação vital com Jesus Cristo, nossa esperança. “Numa sociedade
que dá tanto valor à liberdade pessoal e à autonomia, é fácil perder de vista a nossa
dependência dos outros, como também as responsabilidades que temos em relação a eles.
Uma acentuar do individualismo que influenciou até mesmo a Igreja”. Ora, “nós fomos
criados como seres sociais que só no amor a Deus e ao próximo podemos encontrar a
nossa plenitude”. Se isto não é aceite pela cultura de hoje– isso quer dizer que há
que evangelizar de novo a cultura – comentou Bento XVI. Falando do laicado católico,
sobre cuja formação cristã haverá que investir cada vez mais. “É vosso dever fazer
com que a formação moral oferecida em cada um dos níveis da vida eclesial reflicta
o autêntico ensinamento do Evangelho da vida” – sublinhou o Papa, que logo referiu
a “profunda preocupação” que em todos suscita a situação da família no interior da
sociedade, com o aumento incessante do divórcio e da infidelidade conjugal e o “alarmante
decréscimo dos matrimónios católicos”, dando lugar a um aumento da simples coabitação,
Nega-se assim aos filhos o ambiente de que carecem para crescerem como seres humanos
e vêm a faltar os pilares da sociedade, necessários para “manter a coesão e o centro
moral da comunidade”.
Foi neste contexto que Bento XVI evocou, “de entre
os sinais contrários ao Evangelho da vida, um que causa profunda vergonha: o abuso
sexual de menores”. O Papa recordou “o enorme sofrimento” sentido por pastores e comunidades
“quando homens da Igreja atraiçoaram as suas obrigações e tarefas sacerdotais com
esse comportamento gravemente imoral”. “Vós dais justamente a prioridade à manifestação
de compaixão e apoio às vítimas: é uma responsabilidade que vos vem de Deus, como
pastores, tratar das feridas causadas por toda e qualquer violação da confiança, favorecer
a cura, promover a reconciliação e abordar com amorosa preocupação todos os foram
assim tão seriamente lesados”.
A este propósito, ao mesmo tempo que sublinhava
a necessidade de manter as medidas adequadas a “promover um ambiente seguro que ofereça
maior protecção aos jovens”, Bento XVI não deixou de observar que “as crianças têm
direito a crescer numa sã compreensão da sexualidade e do papel que lhe toca nas relações
humanas”. Deveriam por isso ser-lhe poupadas “as manifestações degradantes e a manipulação
grosseira da sexualidade”. “Que sentido tem falar de protecção das crianças quando
se podem ver a pornografia e a violência em tantas casas, através dos meios de comunicação
tão amplamente disponíveis?” É urgente reafirmar os valores que sustentam a sociedade,
oferecendo a jovens e adultos uma sólida formação moral – advertiu o Papa.
Bento
XVI recomendou aos Bispos dos Estados Unidos especial atenção e apoio aos padres,
dando-lhes o exemplo de uma vida pastoral e espiritual centrada em Cristo, bom Pastor. “Precisamos
de redescobrir a alegria de viver uma existência centrada em Cristo, cultivando as
virtudes e mergulhando-nos na oração. Quando os fiéis sabem que o seu pastor é um
homem que reza e dedica a própria vida ao seu serviço, retomam aquele calor e afecto
que nutre e mantém a vida de toda a comunidade”.