Paz autentica e duradoira, se desarmamento assume natureza ética e espiritual. Recuperar
a confiança, cultivar o diálogo, alimentar a solidariedade perseguindo o caminho de
um humanismo integral e solidário: Bento XVI numa mensagem ao Conselho pontifício
Justiça e Paz
(12/4/2008) Os consideráveis recursos materiais e humanos usados em despesas militares
e armamentos são de facto subtraídos aos projectos de desenvolvimento dos povos, especialmente
daqueles mais pobres e necessitados de ajuda. Esta denuncia do Papa está contida
numa mensagem ao conselho pontifício Justiça e Paz, reunido no Vaticano para debater
o tema “desarmamento, desenvolvimento e paz. Perspectivas para um desarmamento integral.
Bento XVI salienta além disso a existência de autenticas guerras do bem-estar, desencadeadas
pelo egoísmo de quem quer manter o próprio nível de vida. E renova o apelo aos Estados
para que reduzam as despesas militares para os armamentos e tomem em seria consideração
a ideia de criar um fundo mundial destinado a projectos de desenvolvimento pacifico
dos povos. A produção e o comercio de armas - salienta Bento XVI – estão em continuo
aumento e vão assumindo um papel de reboque na economia mundial. Permanece o direito
á defesa da parte dos Estados, mas deve ser proporcionada aos perigos que o Estado
corre. Até quando estiver presente o perigo de uma ofensa o armamento dos Estados
será necessário por razões de legitima defesa, que é um direito inalienável dos estados,
estando também ligado ao dever dos próprios estados de defenderem a segurança e a
paz dos povos. Contudo não deve ser considerado licito qualquer nível de armamento. Podem
existir - observa o Papa – guerras desencadeadas por graves violações dos direitos
humanos, pela injustiça e pela miséria, mas não se deve esquecer o risco de autenticas
guerras do bem-estar, isto é, causadas pela vontade de expandir ou conservar o domínio
económico em prejuízo dos outros. O simples bem-estar material, sem um desenvolvimento
moral e espiritual coerente – sublinha o Papa na sua mensagem ao Conselho Pontifício
Justiça e Paz – pode cegar o homem ao ponto de o levar a mater o próprio irmão. Hoje,
mais do que no passado, é necessária uma opção decidida da comunidade internacional
a favor da paz. No plano económico é necessário empenhar-se para que a economia seja
orientada para o serviço da pessoa humana, a solidariedade e não só para o lucro.
No plano jurídico, os estados são chamados a renovar o próprio empenho, em particular
o respeito dos tratados internacionais já em vigor sobre o desarmamento e o controlo
de todos os tipos de armas, bem como a ratificação e a consequente entrada em vigor
dos instrumentos já adoptados..como é o caso do Tratado sobre a proibição geral dos
ensaios nucleares e as várias negociações em curso . Finalmente são pedidos esforços
contra a proliferação de armas ligeiras e de pequeno calibre, que alimentam as guerras
locais e a violência urbana, e matam demasiadas pessoas todos os dias no mundo inteiro.
Na mensagem ao conselho pontifício justiça e paz Bento XVI salienta ainda que fenómenos
como o terrorismo á escala mundial tornam lábil a fronteira entre a paz e a guerra
prejudicando seriamente a esperança no futuro da humanidade. Ao lado do terrorismo
preocupam o Papa tensões e guerras que continuam em varias partes do mundo. E também
lá, onde não se vive a tragedia da guerra - salienta - são difusos os sentimentos
de medo e insegurança. E tudo isto – acrescenta o Papa – é o resultado de injustiças
estruturais. No mundo – denuncia Bento XVI – permanecem áreas sem um nível adequado
de desenvolvimento humano e material, não são poucos os povos e pessoas privados de
direitos e liberdades elementares. Dirigindo o olhar ás situações concretas nas
quais a humanidade vive hoje, poderíamos ser investidos por sentimentos de desconforto
e resignação: nas relações internacionais, ás vezes parecem prevalecer - observa Bento
XVI nesta sua mensagem ao Conselho Pontifico Justiça e Paz – a desconfiança e a solidão;
os povos sentem-se divididos e uns contra os outros. Uma guerra total, de terrível
profecia, corre o perigo de transformar-se numa trágica realidade. Para superar esta
situação – salienta o Papa – é necessária certamente uma acção comum no plano politico,
económico e jurídico, mas ainda antes é necessária uma reflexão partilhada no plano
moral e espiritual; é cada vez mais urgente promover um novo humanismo, que ilumine
o homem na compreensão de si mesmo e do sentido do próprio caminho na historia. Isto
é, para Bento XVI o desenvolvimento não pode reduzir-se a simples crescimento económico:
deve compreender a dimensão moral e espiritual: um autentico humanismo integral não
pode não ser ao mesmo tempo solidário. Para o Papa chegou a hora de mudar o curso
da historia, de recuperar a confiança, de cultivar o diálogo, de alimentar a solidariedade
perseguindo o caminho de um humanismo integral e solidário, em cujo contexto – é a
conclusão de Bento XVI – também a questão do desarmamento assume uma natureza ética
e espiritual e a humanidade poderá caminhar em direcção a uma auspiciada paz autentica
e duradoira.