CARDEAL KASPER COMENTA NOVA FORMULAÇÃO DA ORAÇÃO DA SEXTA-FEIRA SANTA PELOS JUDEUS
Cidade do Vaticano, 11 abr (RV) - A nova formulação da oração da Sexta-Feira
Santa pelos judeus, feita pelo papa Bento XVI, "é oportuna". É o que afirma o presidente
do 'Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos' e da 'Comissão para
as relações religiosas com o judaísmo', Cardeal Walter Kasper. Num artigo publicado
na edição desta sexta-feira do jornal vaticano "L'Osservatore Romano", o purpurado
ressalta que a nova formulação da oração trouxe "importantes melhoramentos do texto
de 1962".
A nova formulação do texto de 1962 "fala de Jesus como o Cristo e
a Salvação de todos os homens, portanto, também dos judeus", afirma o Cardeal Kasper,
ressaltando que ela está "fundada no conjunto do Novo Testamento" e expressa "aquilo
que até então já era pressuposto como óbvio, mas que não havia sido tematizado suficientemente.
Portanto, não se trata, como muitos entenderam _ continua o purpurado _ "de uma afirmação
nova e não amistosa em relação aos judeus".
Em seguida, o Cardeal Kasper reitera
a necessidade de "uma grande sensibilidade na relação judaico-cristã": "Se hoje nos
comprometemos a esse respeito recíproco _ escreve _ ele deve fundar-se no fato que
reconhecemos reciprocamente a nossa diversidade".
Por isso _ continua o purpurado
_ "não esperamos que os judeus concordem sobre o conteúdo cristológico da oração da
Sexta-Feira Santa, mas que respeitem que nós rezemos como cristãos segundo a nossa
fé, como naturalmente também nós o fazemos em relação ao modo deles de rezar".
Daí,
o purpurado faz a pergunta fundamental: "Devem os cristãos rezar pela conversão dos
judeus? Pode haver uma missão voltada para os judeus?" Na oração reformulada "não
se encontra a palavra conversão" _ observa o cardeal _ mas ela "está indiretamente
incluída na invocação de iluminar os judeus a fim de que reconheçam Jesus Cristo".
Em resposta a isso, o purpurado observa que "a Igreja católica, diferentemente de
alguns círculos evangélicos, não tem uma missão voltada para os judeus organizada
e institucionalizada". Um problema, porém _ ressalta ele _ que não foi ainda esclarecido
teologicamente.
-O mérito da nova formulação da oração da Sexta-Feira Santa
_ continua o purpurado _ é justamente o de oferecer uma "primeira indicação para uma
substancial resposta teológica". O Cardeal Kasper parte da Carta de Paulo aos Romanos,
na qual o apóstolo define a salvação dos judeus como "um profundo mistério da eleição
mediante a graça divina".
Com o termo 'mistério' _ ressalta o presidente da
Comissão para as relações religiosas com o judaísmo _ "Paulo entende a eterna vontade
salvífica de Deus", em referência à "união escatológica dos povos em Sião, prometido
pelos profetas e por Jesus, e à paz universal que depois surgirá".
-"A reformulada
oração da Sexta-Feira Santa _ afirma ainda o Cardeal Kasper _ expressa essa esperança
numa oração de intercessão dirigida a Deus", uma oração que, no fundo _ acrescenta
ele _ "repete a invocação do Pai-Nosso, 'Venha a nós o vosso reino'". (RL)