Europa e EUA ponderam boicotar festa em Pequim: comunidade internacional pede diálogo
ao governo chinês, para a conjuntura no Tibete
(10/4/2008) Ao mesmo tempo que milhares de manifestantes contra a repressão da China
no Tibete invadiram ontem as ruas de São Francisco - onde a chama olímpica cumpria
mais uma atormentada etapa da sua atribulada viagem pelo Mundo -, o Parlamento Europeu
convidou os estados membros da União Europeia a ponderarem o boicote da cerimónia
de abertura dos Jogos Olímpicos (JO) de Pequim, em 8 de Agosto próximo. Uma batalha
de frases contra e a favor do Governo de Pequim, escaramuças entre activistas dos
direitos humanos e partidários do regime chinês, manifestações junto ao consulado
deste país em São Francisco, além de várias prisões e extraordinárias medidas de segurança
marcaram ontem a passagem do símbolo olímpico pelos EUA. Para evitar qualquer acção
inesperada, uma parte do percurso foi efectuado numa lancha rápida, estando o resto
fortemente policiado. Em sinal de protesto e também por receio de ferimentos ou lesões
que impossibilitassem a sua participação nos Jogos, três atletas recusaram-se a transportar
a tocha. Além do clima de tensão vivido em São Francisco, só por si sinónimo de
revés para Pequim e para o seu propósito de separar as Olimpíadas de questões políticas
incómodas, horas antes o regime chinês sofrera outro desaire, este no seu próprio
território. Monges budistas interromperam uma viagem de jornalistas estrangeiros
e chineses, organizada pelo Governo ao mosteiro de Labrang na cidade de Xiahe, na
província de Gansu, gritando palavras de ordem a favor do Dalai Lama e pedindo respeito
pelos direitos humanos no Tibete. No plano diplomático, Pequim viu-se também confrontado
com críticas de governantes dos Estados Unidos, australianos e japoneses. O Presidente
George W. Bush, que se encontra de visita a Singapura, falou ontem publicamente sobre
a questão do Tibete, voltando a insistir na necessidade de diálogo directo entre o
Governo chinês e o Dalai Lama. Os Estados Unidos que, inicialmente, tinham adoptado
um registo relativamente discreto, têm subido o nível dos reparos à actuação chinesa,
tendo terça-feira uma porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, admitido abertamente
a possibilidade de Bush estar ausente na cerimónia de abertura dos Jogos, a 8 de Agosto
em Pequim. O distanciamento da Administração Bush face à China na questão do Tibete
acompanha um movimento crescente de reparos críticos e notícias da possível ausência
de governantes internacionais nas cerimónias de 8 de Agosto. Além dos EUA, a Austrália
manifestou críticas ao sucedido no Tibete. O primeiro-ministro do Governo de Camberra,
Kevin Rudd, disse em termos inequívocos que o seu país considera "existirem problemas
consideráveis de direitos humanos" no Tibete. O governante australiano falava
no seu primeiro dia de visita à China e proferiu as suas críticas em mandarim, língua
que fala correctamente. Em sentido semelhante se pronunciou o chefe do Governo
japonês, Yasuo Fukuda, que classificou a China "como principal responsável" pela presente
conjuntura no Tibete e pediu, também ele, a Pequim para "resolver o problema através
do diálogo”.