Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa : na abertura dos trabalhos,
em Fátima, o Presidente dos Bispos convida os católicos a assumirem direitos e responsabilidades
da cidadania
(31/3/2008) O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga,
defendeu em Fátima que a Igreja “tem de viver em relação permanente e responsável
com a Sociedade e relativizar o Estado”. Na abertura dos trabalhos da Assembleia
Plenária, que decorre até 4 de Abril, o Arcebispo de Braga frisou que um Estado “pode
proteger ou hostilizar e fazê-lo de um modo claro ou camuflado”. “Todos conhecemos
o que deveríamos poder esperar duma autoridade legitimamente constituída: sublinhar
a liberdade de culto e de consciência e ao mesmo tempo proporcionar todas as condições
para que ela seja exercida em espírito de igualdade e tolerância”, indicou. Advogando
uma “laicidade inclusiva”, D. Jorge Ortiga observou que os católicos não podem “aceitar
ser excluídos dum processo de humanização integral”. “O Estado democrático não
pode ser militantemente ateu e deixar de reconhecer, respeitar e procurar satisfazer
a opção dos cidadãos a quem proporciona as condições necessárias para viver a sua
religião, respeitando as outras crenças”, atirou. O presidente da CEP sublinhou
que a Igreja tem sempre “o caminho do serviço a todos e, preferencialmente, aos mais
pobres” e assegurou a todos os portugueses “uma partilha efectiva das suas alegrias
e sofrimentos”. “Conscientes duma evolução da pobreza em Portugal e atentos às
interpelações que a Escola e outras instâncias lançam à sociedade, reafirmamos o compromisso
de ser peregrinos duma mesma viagem e colocamos o que temos e somos ao serviço do
Bem Comum”, prosseguiu. Intervenção Pública O Arcebispo de Braga deixou
claro que “ a Igreja nunca poderá prescindir de dar o seu contributo à edificação
dum país mais justo” e que “a intervenção na vida social é estruturante do cristianismo”.
Neste contexto, contudo, falou de “uma singular contradição”: “Por um lado, verificamos
a tolerância como base duma sociedade pluralista onde todas as posições culturais,
ideológicas, éticas devem ser consideradas legitimas e igualmente dignas de consideração;
por outro lado, presenciamos uma incrível exclusão da presença católica dos ambientes
públicos e políticos quase que pretendendo refugiar-nos no simples âmbito privado”.
“Estas atitudes são contrárias ao principio da liberdade, da simples tolerância
e duma efectiva democracia onde todos, na diversidade de pensamento, são chamados
a participar na construção do bem comum”, acusou. Segundo o presidente da CEP;
os cristãos portugueses “devem, por isso, manifestar que nunca abdicarão, em princípios
e acções, dos seus direitos e das responsabilidades inerentes que derivam da simples
cidadania”. “Os cristãos, como exigência da fé, devem acordar para uma maior responsabilidade
sociopolítica e, neste contexto de pós-modernidade, afirmar a sua capacidade de intervenção,
não tendo medo de congregar ideias, suscitar iniciativas e delinear uma cultura”,
acrescentou. D. Jorge Ortiga falou ainda do “programa para recordar a implantação
da República” que será delineado nestes dias. “Não nos preparando para celebrar
um centenário, queremos evocar para reconhecer que os acontecimentos adversos suscitaram
coerência e fidelidade. Importante foi o testemunho que classifico de comunitário,
ou seja, de interpretação conjunta duma resposta de todos e de cada um perante uma
nova situação”, explicou. Fim de ciclo O Presidente da CEP lembrou
que “com esta Assembleia Plenária encerramos um triénio durante o qual procuramos
reflectir sobre a conjuntura que nos toca viver, consciencializando-nos da mudança
cultural a suscitar novas opções pastorais”. “Toca-nos demonstrar que o cristianismo
não é um passado amargo e contraditório da felicidade humana mas encerra uma possibilidade
infinita de promoção de vida em todas as suas dimensões”, indicou. “A responsabilidade
de transmitir a fé acompanhou-nos e o Santo Padre veio confirmar as nossas intenções
aconselhando uma verificação da ‘eficácia dos percursos de iniciação actuais’ e recordando
que ‘a palavra de ordem era, e é, construir caminhos de comunhão’”, disse ainda. Segundo
este responsável “a Igreja, como comunidade de crentes, tem de recuperar a alegria
do anúncio centralizado em Cristo, e não em meros moralismos e tradições, e fazê-lo
como acção de todo o povo de Deus, a acontecer dentro e fora da comunidade”. Tendo
como pano de fundo a celebração do Ano Paulino, o Arcebispo de Braga disse que “S.
Paulo ousou olhar ‘para fora’ da Igreja que nascia. Hoje sabemos que a Igreja deve
estar onde o humano acontece”. “A arte, a literatura, a música, os diversos âmbitos
da ciência, os desafios do ambiente e da natureza são ou continuam a ser ‘areópagos’
a usar”, apontou. Por tudo isto, refere D. Jorge Ortiga, “urge passar da herança
à proposição, da transmissão como dado estruturado à proposição inovadora, delineando
uma pastoral de itinerância, que sai dos espaços habituais, entra na aventura do encontro
com o quotidiano de todos (cristãos praticantes, indiferentes ou ateus) e oferece
a arte dum viver comunitário como alternativo à convivência social que, perante a
fragmentação e interesses, pessoais ou partidários”. (Ecclesia )