PAPA NO COLISEU DE ROMA: "É POSSÍVEL PERMANECER INDIFERENTE PERANTE A MORTE DO SENHOR?"
Cidade do Vaticano, 22 mar (RV) - Sábado Santo é o Dia da Mãe de Jesus. Hoje,
a Igreja observa rigoroso silêncio e recolhimento diante do corpo morto de Cristo
e nos convida a abrir-nos à misericórdia de Deus.
Hoje à noite, Bento XVI
preside, na Basílica Vaticana, à solene Vigília Pascal e à celebração eucarística
da Ressurreição de Cristo. No entanto, esta manhã, na Basílica papal de Santa Maria
Maior, em Roma, o Cardeal Bernard Francis Law celebrou a "Hora da Mãe": com esta celebração,
a Igreja contempla a espera de Maria pela Ressurreição de seu Filho Jesus.
Entretanto,
ontem, Sexta-feira Santa, a Igreja celebrou os mistérios da Paixão e Morte de Nosso
Salvador.
Na parte da tarde, na Basílica Vaticana, Bento XVI presidiu à celebração
da Paixão do Senhor com a Liturgia da Palavra, a Adoração da Cruz e o Rito da Comunhão.
A homilia, como todos os anos, foi confiada ao pregador oficial da Casa Pontifícia,
o frei capuchinho Raniero Cantalamessa.
Em sua meditação, o pregador destacou
que "a unidade dos cristãos é um dom que deve ser acolhido": eis a feliz notícia a
ser proclamada na Sexta-Feira Santa. A unidade deve ser também visível e comunitária.
É o Espírito Santo que nos conduz à plena unidade, mediante um ecumenismo doutrinal,
institucional e espiritual. O ecumenismo espiritual, concluiu o capuchinho, nasce
do arrependimento e do perdão e se alimenta com a oração.
Enfim, ontem à noite,
o Santo Padre presidiu, no Coliseu de Roma, ao tradicional rito da Via-Sacra.
Bento
XVI acompanhou o rito da Colina do Palatino, recebendo a Cruz das mãos do Cardeal
Camillo Ruini, seu vigário para a Diocese de Roma, que, por sua vez, a recebeu de
uma jovem chinesa, símbolo daquela Igreja cujos episódios ecoaram nas meditações para
a Via-Sacra feitas pelo arcebispo de Hong Kong, Cardeal Joseph Zen Ze-Kiun.
Ao
final das 14 estações da Via-Sacra, o Bispo de Roma fez uma breve reflexão, frisando
que "também este ano percorremos o caminho da cruz, a Via-Sacra, voltando a evocar
com fé as etapas da paixão de Cristo".
"Nossos olhos voltaram a contemplar
os sofrimentos e a angústia que o Nosso Redentor teve de suportar na hora da grande
dor, cume da sua missão terrena", disse o papa.
Jesus morre na cruz e jaz
no sepulcro. O dia da Sexta-Feira Santa, tão impregnado de tristeza humana e de religioso
silêncio, se encerra no silêncio da meditação e da oração, afirmou o Papa.
O
pontífice se interrogou: "É possível permanecer indiferente perante a morte do Senhor,
do Filho de Deus? Por nós, por nossa salvação, Ele se fez homem para poder sofrer
e morrer. Dirijamos a Cristo hoje nossos olhares, freqüentemente distraídos por dissipados
e efêmeros interesses terrenos. Detenhamo-nos a contemplar sua Cruz. A Cruz, manancial
de vida e escola de justiça e de paz, é patrimônio universal de perdão e de misericórdia.
É prova permanente de um amor oblativo e infinito, que levou Deus a fazer-se homem,
vulnerável como nós, até morrer na Cruz".
Através do caminho doloroso da Cruz,
continuou o papa, os homens de todas as épocas, reconciliados e redimidos pelo sangue
de Cristo, se converteram em amigos de Deus, filhos do Pai celestial. "Amigo", assim
nos chama Jesus, porque é autêntico amigo de todos nós.
Infelizmente, disse
Bento XVI, nem sempre conseguimos perceber a profundidade deste amor sem fronteiras
que Deus tem por nós. Para Ele não há diferença de raça e cultura. Jesus morreu para
libertar a antiga humanidade da ignorância de Deus, do círculo de ódio e violência,
da escravidão do pecado. Eis o motivo pelo qual a Cruz nos torna irmãos e irmãs.
O
papa então se perguntou novamente: "O que fizemos com este dom? O que fizemos com
a revelação do rosto de Deus em Cristo, com a revelação do amor de Deus que vence
o ódio? Tantos, em nossa época, ainda não conhecem a Deus e não podem encontrá-Lo
no Cristo crucificado. Tantos estão em busca de um amor ou de uma liberdade que exclui
Deus. Tantos acreditam não ter necessidade de Deus".
E concluiu: "Queridos
amigos: após termos vivido juntos a Paixão de Jesus, deixemos que, nesta noite, seu
Sacrifício na Cruz nos interpele. Vamos permitir que Ele ponha em crise as nossas
certezas humanas. Vamos abrir-Lhe o nosso coração. Jesus é a Verdade que nos torna
livres de amar. Não tenhamos medo: ao morrer, o Senhor destruiu o pecado e salvou
os pecadores, todos nós".
Eis a verdade da Sexta-Feira Santa: na Cruz, o Redentor
nos fez filhos adotivos de Deus, que nos criou à sua imagem e semelhança. Permaneçamos,
portanto, em adoração diante a cruz.
Por fim, o papa elevou a Deus a seguinte
prece: "Cristo, dai-nos a paz que buscamos, a alegria que desejamos, o amor que preenche
nosso coração sedento de infinito. Esta deve ser a nossa oração, nesta noite, a Jesus,
Filho de Deus, morto por nós na Cruz e ressuscitado no terceiro dia". (MT/BF)