Um «Programa» Libertador: Corresponsabilidade para a Nova Evangelização: o Bispo do
Porto D. Manuel Clemente na homilia da Missa Crismal
(20/3/2008) Amados irmãos e irmãs, aqui reunidos em Missa Crismal, preenchida pelo
Espírito que nos unge e define com o nome de Cristo, para a mesma missão: Disse
ele de si mesmo, na sinagoga de Nazaré, que o Espírito o ungira “para anunciar a boa
nova aos pobres”. E especificou: “Ele – sempre o Espírito – me enviou a proclamar
a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos,
a proclamar o ano da graça do Senhor”. E concluiu, com palavras que ressoam sempre:
“Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir”. Estamos
nós aqui, bispos, presbíteros e diáconos; estamos nós aqui, consagrados em tantas
vocações de especial consagração; estamos nós aqui, baptizados como “membros de Cristo,
sacerdote, profeta e rei”. Estamos como ele na sinagoga de Nazaré. E muito mais está
ele connosco, nesta catedral do Porto, partilhando com todos e cada um, segundo a
vocação e o estado próprios, o Espírito que o ungiu e a missão que declarou. –
Grande mistério este, por isso mesmo preenchido de Céu e de terra, de Céu para a terra,
esta nossa terra e diocese, no mais concreto das suas alegrias e dores, no mais substancial
da sua esperança. E, no Espírito de Cristo, nós somos a resposta de Deus a tal esperança!
Um “programa” libertador Esta a realidade que sabemos e celebramos.
Mas que havemos de precisar neste tempo e circunstância. Havemos de “programar”, se
quisermos usar a palavra. Com esta advertência: assim como a iniciativa é do Espírito,
assim também o programa está feito no que tem de permanente. Ouvimo-lo: a) anunciar
a boa nova aos pobres; b) proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos; c)
restituir a liberdade aos oprimidos; d) proclamar o ano da graça do Senhor. A
primeira reflexão que havemos de fazer, agora e depois, nas várias instâncias de partilha
e corresponsabilidade pastoral diocesanas, é sobre cada uma das alíneas de tão garantido
programa. Garantido, por ter origem divina; garantido por não faltarem decerto nem
pobres a quem anunciar a boa nova, nem cativos a remir e cegueiras a curar, nem oprimidos
a libertar, nem graça a proclamar. E temos necessariamente de apurar pobrezas e cativeiros,
cegueiras e opressões, caso a caso, paróquia a paróquia, sector a sector. Façamo-lo
no Espírito, cujos dons incluem sabedoria e inteligência, conselho e ciência. Pobres
eram, no povo bíblico, os que punham a esperança no seu Deus, só com Deus contando.
Pobres são todos os que continuam a olhar para nós, esperando dos crentes a luz da
fé, o alento da esperança e a caridade concreta. Podem sê-lo expressa ou implicitamente,
batendo-nos à porta por necessidade física ou espiritual, hoje tão redobradas uma
e outra, ou batendo-nos numa face à espera que lhes demos a outra, incluindo aqui
certas manifestações de aparente rejeição da Igreja que, no fundo, encobrem uma desilusão
ou extravasam um apelo, mesmo que negativamente formulado. Cristo sabia responder
a uns e a outros, detendo-se diante de cada solicitação, magnânimo diante de cada
interpelação. Sabia de Quem provinha e a Quem os queria levar, transportando ovelhas
perdidas e procurando as transviadas, todos os pobres afinal. Redimir cativos,
dar tudo por eles, no Espírito de Cristo… Especialmente numa sociedade que promete
como liberdades outros tantos cativeiros. Desde cedo, cada vez mais cedo, os mais
novos são induzidos a ligar a felicidade ao modo de vestir e calçar, ao modo de folgar
ou vencer, ao modo de parecer ou seduzir, ao modo de consumir - e se consumirem a
si mesmos e aos outros. Para cada um destes itens, promete-se a maneira mais fácil,
com dinheiro próprio ou alheio. Com o tempo, cada vez menos tempo, o enredo é total
e o cativeiro completo: sem terem aprendido a desenvolver o que têm realmente de mais
livre, como interioridade, abertura religiosa, fruição estética e realização ética,
muitos dos nossos contemporâneos mais novos - e outros que não chegaram a amadurecer
- já nem serão capazes, por si sós, de consumar a humanidade que transportam. Cativos
e cegos, quando a certa altura – melhor se diria afundamento e depressão – já nem
conseguem divisar alternativas. Temos de estar próximos, muito próximos de todos eles.
Sem fariseísmo nem sobranceria, de modo simples e fraterno, como quem partilha o que
lhe foi dado; de modo comprometido e solidário, como quem cumpre uma missão e nela
se cumpre a si mesmo. Esta liberdade sim, temos de a restituir aos oprimidos.
Membros que somos duma sociedade que lha tira, só assim seremos membros dum “povo”
que lha devolve. O Espírito que faz de Jesus o Cristo (= Messias), continua em nós
a sua obra messiânica, libertadora. Disse-o o Concílio de modo inultrapassável: “O
povo messiânico, ainda que não abranja de facto todos os homens e apareça frequentemente
como um pequeno rebanho, constitui para toda a Humanidade um germe fecundíssimo de
unidade, de esperança e de salvação. Estabelecido por Cristo em ordem à comunhão de
vida, amor e verdade, nas mãos d’Ele serve também de instrumento da redenção universal,
e é enviado a todo o mundo, como luz desse mundo e sal da terra” (Lumen Gentium, 9).
Comecemos então pelo que nos está mais próximo, verificando cada comunidade e
grupo eclesial o que há a fazer de mais urgente no seu próprio meio social, em termos
de acção concreta e libertadora. Não se perdendo no geral, que imobiliza, mas incidindo
em algo de particular, concreto e possível, como se deve sempre começar. Não nos sintamos
poucos, se nos contarmos por dezenas: na sinagoga de Nazaré, Cristo era só ele; com
o seu Espírito, hoje somos muitos mais, sempre com Ele. Como aliás prometeu, do modo
mais solene e decisivo: “Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim também fará
as obras que Eu realizo; e fará obras maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai,
e o que pedirdes em meu nome Eu o farei, de modo que, no Filho, se manifeste a glória
do Pai. Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, Eu o farei” (Jo 14, 12-14). Cabe
perguntar: - Porque demoramos, se há tanta gente à espera? Do programa de Nazaré
– que queremos todos retomar no Porto – consta um último propósito: “proclamar o ano
da graça do Senhor”. É tradição católica celebrar de tempos a tempos um ano jubilar,
como ainda há oito anos aconteceu. Mas, além de o fazermos normalmente de 25 em 25
anos, podemos dizer que, em Cristo, a vida da Igreja há-de ser jubileu permanente.
Na verdade, depois de o anunciar, o mesmo Cristo acrescentou: “Cumpriu-se hoje mesmo
esta passagem da Escritura que acabais de ouvir”. E o “hoje” de Jesus nunca acabará.
Retomemos então as prescrições jubilares, segundo a antiga tradição bíblica, vazada
agora nas actuais condições e urgências: terminar com toda a espécie de escravidão;
ajudar os necessitados, começando pelos mais próximos; concretizar a fraternidade,
nas nossas comunidades e além delas; respeitar o destino universal dos bens; recomeçar
a vida colectiva segundo Deus, corrigindo as desigualdades acumuladas. E havendo
na tradição sabática e jubilar o aceno certo ao repouso festivo, viver e expandir
o “ano da graça do Senhor”, há-de levar-nos também a valorizar nas comunidades e famílias
a vivência dominical, de celebração, louvor e partilha, na oferta de Cristo em quem
todo o “programa” divino e humano, religioso e solidário, perpetuamente se cumpre
e relança. A marcação dominical da vida é fundamental para todos os cristãos, como
celebração e experiência do Ressuscitado; também como momento de gratidão e repouso,
familiar e comunitariamente vividos. A reconfiguração comunitária Mas
todos sabemos que, em tempos de grande dispersão e movimento, como são os nossos,
a ligação das pessoas e famílias a uma comunidade fixa, no território e na prática,
sobretudo em meio urbano, traz desafios novos à acção pastoral. A sociedade europeia
mudou muito nos dois últimos milénios, passando da concentração urbana dos primeiros
cinco séculos à dispersão rural que atravessou a Idade Média; verificou-se depois,
paulatinamente, um novo surto urbano que, nos nossos dias, chegou às grandes áreas
metropolitanas e quase esvazia algumas zonas rurais. A cada uma destas épocas
correspondeu um modo específico de organização comunitária, passando-se da comunidade
episcopal dos primeiros séculos à proliferação paroquial. No entanto, as actuais comunidades
não correspondem já à fixação populacional de outros tempos, porque a circulação constante
– geográfica e informática -, a realidade escolar e profissional e a individualização
sócio-cultural das existências ou distendem a vinculação à comunidade de origem ou
favorecem a prática fora da paróquia de residência, por conveniência ou escolha. No
entanto, a dimensão comunitária continua a ser essencial à iniciação e à vida cristã
e as nossas paróquias transmitem e sustentam uma tradição valiosíssima. Estamos
perante um “problema” pastoral novo, que nos cabe enfrentar com determinação: a reconfiguração
da vida comunitária, para que a prática dominical e a dimensão colectiva da caminhada
cristã não se diluam, antes se reencontrem, numa sociologia nova, bem mais complexa
e diferenciada. A agregação eclesial, que contava muito com o papel da família
e da localidade, conta agora – e cada vez mais – com a dinâmica dos movimentos e grupos,
assim como das circunstâncias pessoais. Isto para dizer que, sem descuidar nada do
que herdámos da prática anterior, a reconfiguração da vida comunitária terá de se
fazer de modo cada vez mais inter-paroquial, vicarial e diocesano e na colaboração
com as novas comunidades e movimentos. Assim é cada vez mais a vida das pessoas, assim
terá de ir sendo a vida da Igreja. O presbitério diocesano e outros agentes
pastorais Refiro, bem a propósito, o nosso presbitério diocesano, cujo grande
valor sublinho, com o conhecimento de causa que um ano de episcopado aqui me vai dando.
Valor tem – e muito! – um presbitério que, consideravelmente reduzido em quantidade
e adiantado em média etária, demonstra capacidade notável de servir a Igreja do Porto.
Os números falam por si. Com uma população de mais de dois milhões de habitantes
e uma prática dominical que há sete anos rondaria os vinte por cento, temos 477 paróquias,
servidas por 263 párocos. A média etária dos párocos é de 59.53 anos. O número total
de padres com alguma nomeação é de 410, sendo 337 seculares e 73 religiosos e de outras
dioceses: 9 padres até aos 29 anos, 59 dos 30 aos 39, 44 dos 40 aos 49, 26 dos 50
aos 59; a seguir, os grupos mais numerosos, com 89 dos 60 aos 69, 115 dos 70 aos 79
e 60 dos 80 aos 89; e também 8 com mais de 90. Um clero “heróico”, já lhe chamei,
pela dedicação ao Povo de Deus, tantas vezes verificada e muito além do que seria
de esperar, dadas as condições de idade e de saúde. Um clero a quem a Igreja do Porto
sempre ficará grata, mas continuará a pedir que sirva enquanto lhe for possível, por
manifesta dificuldade de substituição directa. Mais normal será, nos próximos anos,
atribuir, a quem já tem uma ou mais paróquias a seu cargo, que alargue a responsabilidade
às que forem ficando vagas, com a necessária redução do serviço sacerdotal naquela
ou naquelas que já serve. Mas também com a valorização de outros serviços, designadamente
os laicais, que aliás revelam na nossa diocese uma grande potencialidade e generosidade
apostólicas. Será ocasião para ir apurando mais o serviço especificamente presbiteral,
mormente quanto à pregação, à presidência eucarística, ao acompanhamento espiritual
e à reconciliação sacramental, de que hoje se sente mais falta do lado da oferta do
que da procura, como certamente o trabalho reforçado desta Quaresma nos voltou a mostrar.
Como sabemos, este é um grave problema da generalidade das Igrejas do centro e
oeste da Europa. Entre outras razões, prende-se com o grande decréscimo da natalidade,
muito acentuado entre nós. As famílias católicas e numerosas, sobretudo do meio rural,
eram o viveiro habitual de vocações sacerdotais e religiosas, masculinas e femininas.
– Onde estão elas hoje? Entretanto, temos no Seminário Maior vinte e cinco seminaristas
da diocese do Porto, quatro deles como candidatos. Demos graças a Deus por eles e
acompanhemo-los sempre com toda a esperança e muita estima, como aos do Seminário
do Bom Pastor e do Pré-Seminário. A eles e aos seus formadores. Todos reconhecemos
e agradecemos o trabalho do Secretariado Diocesano da Pastoral das Vocações, do Pré-Seminário
e dos Seminários, com as suas generosas equipas. Mas a tarefa é também nossa, na medida
em que efectivarmos em toda a parte um imprescindível clima vocacional. Graças
a Deus, emergem realidades novas e promissoras, vocacionalmente falando: vocações
jovens e adultas, de proveniência universitária ou profissional, para se juntarem
às que felizmente continuam a provir de famílias e paróquias. Para umas e outras,
insisto na oração constante da Diocese, paróquia a paróquia. E estou certo de que
um clima vocacional generalizado e insistente, interpelando e acompanhando possíveis
candidatos ao sacerdócio e à vida religiosa, dará copiosos frutos. Complementarmente,
retomou-se a formação para o diaconado permanente. Falando ao clero de Roma a 6 de
Fevereiro último, o Papa Bento XVI deixou palavras de grande convicção teológica e
pastoral quanto a este grau do sacramento da Ordem. Como as seguintes: “Gostaria também
de expressar a minha alegria e a minha gratidão ao Concílio, porque restaurou este
importante ministério na Igreja universal. Devo dizer que quando eu era Arcebispo
de Munique […] favoreci muito este ministério, porque me parece que pertence à riqueza
do ministério sacramental na Igreja. Ao mesmo tempo, pode ser também uma ligação entre
o mundo laico, o mundo profissional e o mundo do ministério sacerdotal. Porque muitos
diáconos continuam a desempenhar as suas profissões e mantêm as suas posições, importantes
ou até de vida simples, e ao sábado e domingo trabalham na Igreja. Testemunham assim
ao mundo de hoje, também no mundo do trabalho, a presença da fé, o ministério sacramental
e a dimensão diaconal do sacramento da Ordem” (L’Osservatore Romano, ed. port., 16
de Fevereiro de 2008, p. 5). Por minha parte, fiquei muito feliz com a adesão
geral do clero do Porto ao relançamento da formação para o diaconado permanente: temos
neste momento quase seis dezenas de pré-candidatos em tempo propedêutico. Daqui a
alguns anos ir-se-ão generalizando pelas paróquias e vigararias estes preciosos colaboradores
do presbitério, com tanta aplicação no plano da pregação, dos sacramentos e da acção
sócio-pastoral! E aproveito para agradecer reconhecidamente o trabalho entretanto
já feito e em execução pelos diáconos com que a diocese conta desde há dezasseis anos.
Corresponsabilidade para a nova evangelização Uma última palavra vos
quero dizer nesta circunstância, que também poderia ter sido a primeira, pois é o
que nos há-de mover como Diocese: é urgente evangelizar! Urgente evangelizar o meio
envolvente, que tanto ganhará no reencontro com o Evangelho de Cristo! Urgente evangelizar
a cultura e evangelizar na cultura, para que os diversos sectores e ambientes se refresquem
na água viva do Espírito! Urgente incentivar o testemunho laical, da família à escola,
da escola à profissão, da prisão ao hospital, ao tempo livre até, para que realmente
liberte. O nosso horizonte próximo será necessariamente a missão. E a missão de
vizinhança, que especialmente urge. Aplica-se também à nossa diocese a constatação
feita por João Paulo II, há escassos cinco anos, na exortação apostólica pós-sinodal
Ecclesia in Europa, nº 46: “Com efeito, a Europa faz parte já daqueles espaços tradicionalmente
cristãos, onde, para além duma nova evangelização, se requer em determinados casos
a primeira evangelização. A Igreja não pode subtrair-se ao dever dum corajoso diagnóstico,
que lhe permita predispor as terapias mais oportunas. Mesmo no ‘velho’ continente
existem extensas áreas sociais e culturais onde se torna necessária uma verdadeira
e própria missio ad gentes”. Mas falemos, para já, de “nova evangelização”. Nova
evangelização capaz de reavivar o brasido religioso que ainda subjaz a tantas manifestações
do nosso povo católico. Sofre desvios por falta de catequese, sofre concorrência por
via doutras propostas, não católicas ou neo-pagãs… No essencial número 34 da exortação
apostólica pós-sinodal Christifideles Laici, de há vinte anos, João Paulo II já foi
peremptório: “Noutras regiões ou nações, porém, conservam-se bem vivas ainda tradições
de piedade e de religiosidade popular cristã: mas esse património moral e espiritual
corre o risco de esbater-se sob o impacto de múltiplos processos, entre os quais sobressaem
a secularização e a difusão das seitas. Só uma nova evangelização poderá garantir
o crescimento de uma fé límpida e profunda, capaz de converter tais tradições numa
força de liberdade autêntica”. É o que temos por diante, a nova evangelização.
E nesta nos empenharemos todos, clérigos, consagrados e leigos, em corresponsabilidade
activa e criativa. Vamos divisando o ano de 2010 como ocasião propícia para uma “missão
diocesana” que não podemos pospor. Cumpre-se a primeira década do novo milénio: -
Porque não tentar?! E não pensemos em grandes acções, extraordinárias e vultosas,
embora alguns momentos envolventes e festivos possam acontecer. Será sobretudo a altura
para todas as comunidades cristãs da diocese – paróquias e capelanias, congregações,
associações e movimentos – oferecerem aos circunstantes o Cristo vivo que transportam
e as transporta a elas, com aqueles “novo ardor, novos métodos e novas expressões”
que João Paulo II requeria para a “nova evangelização”, há um quarto de século. Os
primeiros agentes desta missão serão precisamente as comunidades, embora se requeira
o precioso concurso daquelas congregações e associações que nasceram para a missão
popular, há mais ou menos tempo. Pois, como diz também o citado número da Christifideles
Laici, “é urgente, sem dúvida, refazer em toda a parte o tecido cristão da sociedade
humana. Mas a condição é a de se refazer o tecido cristão das próprias comunidades
eclesiais”. E, se as comunidades cristãs hão-de ser o sujeito principal da missão,
elas serão também o seu melhor fruto e maior lucro. Como diz ainda o mesmo trecho:
“Esta nova evangelização, dirigida não apenas aos indivíduos mas a inteiras faixas
de população, nas suas diversas situações, ambientes e culturas, tem por fim formar
comunidades eclesiais maduras, onde a fé desabroche e realize todo o seu significado
originário de adesão à pessoa de Cristo e ao seu Evangelho, de encontro e de comunhão
sacramental com Ele, de existência vivida na caridade e no serviço. Os fiéis leigos
têm a sua parte a desempenhar na formação de tais comunidades eclesiais, não só com
uma participação activa e responsável na vida comunitária e, portanto, com o seu insubstituível
testemunho, mas também com o entusiasmo e com a acção missionárias dirigida a quantos
não crêem ainda ou já não vivem a fé recebida no Baptismo”. Não tenhamos dúvidas
neste ponto, porque será decerto como sempre foi: a vida duma diocese – como da Igreja
toda – nunca se resolve dentro de si mesma, no sentido intimista do termo, ou em reorganizações
tentadas para melhorar o funcionamento interno. A vida da Igreja apenas progride na
retomada franca e generosa da missão, no anúncio de Cristo e no serviço ao mundo.
As comunidades amadurecem quando a generalidade dos seus membros, na variedade dos
ministérios e carismas, se unificam nas duas projecções que unicamente hão-de ter:
o louvor divino e o apostolado multiforme. Em absoluta circularidade, aliás: o louvor
divino impulsiona-nos necessariamente à evangelização e à caridade universais, de
um só Pai para uma só humanidade, através da Igreja de Cristo unida na missão que
o Espírito impulsiona; retornando tudo em acção de graças ao mesmo Pai, que tudo origina.
Ensine-nos isto mesmo e sempre mais Nossa Senhora da Assunção, padroeira da Diocese,
que já nos eleva consigo, na obediência cooperante com a vontade salvífica de Deus.
Ensine-nos São Paulo, que a Igreja retoma como mestre e estímulo de toda a evangelização,
no ano que em breve lhe dedicará. E que no próximo ano, de novo em Missa Crismal,
o “programa” messiânico de Jesus em Nazaré esteja ainda mais presente e activado na
nossa Igreja diocesana do Porto: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele
me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres…”. Sé do Porto, 20 de Março de
2008 D. Manuel Clemente, Bispo do Porto