Iraque um dos países mais perigosos do mundo e uma das crises humanitárias mais graves
do planeta.
(19/3/2008) Cinco anos depois da invasão do Iraque ninguém está livre de culpas.
Entre as forças internacionais no terreno, comandadas pelos Estados Unidos, o Governo
de Bagdad, a polícia e os militares iraquianos, milícias, e ainda as empresas privadas
de segurança, todos têm culpas na violação de direitos humanos. A juntar à violência
armada e aos conflitos entre grupos étnicos e religiosos, a pobreza e a escassez de
bens essenciais à sobrevivência fazem hoje do Iraque um dos países mais perigosos
do mundo e uma das crises humanitárias mais graves do planeta. As conclusões são da
Amnistia Internacional ,organização de defesa dos direitos humanos, que expõe a indignação
num relatório publicado esta segunda feira.
Ninguém sabe ao certo quantos
foram os civis iraquianos que perderam a vida no conflito que teve início em Março
de 2003. A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que, entre o começo da ofensiva
e Junho de 2006, morreram mais de 150 mil civis. Entre combatentes e civis, os números
disponíveis variam entre os 34 mil mortos, segundo as autoridades iraquianas, e os
600 mil, dizem os Estados Unidos. A missão das Nações Unidas no Iraque, a UNAMI, diz
que só em 2006 morreram mais de 34 mil pessoas.
O que se sabe com certeza
é que são oito milhões os iraquianos que hoje dependem da ajuda humanitária para sobreviverem.
Mais de quatro em cada dez não tem mais do que um dólar por dia e dois em cada três
não têm qualquer acesso a água potável. Em consequência da pobreza extrema, combinada
com a violência e a impunidade, o relatório da Amnistia Internacional revela que "a
situação de direitos humanos no Iraque é desastrosa", apesar de, nos últimos meses,
se ter registado um decréscimo na violência.
-Pouco ou nada foi feito
no capítulo da reconstrução e revitalização económica. A grande parte dos fundos é
usada na área da segurança e, aponta a Amnistia Internacional, "pouco foi empregue
nos milhões de iraquianos que vivem na pobreza". O resultado é, entre outras coisas,
"o colapso virtual dos sistemas de saúde e de educação". O relatório não poupa
nenhum dos actores no terreno. Às forças internacionais sob comando norte-americano,
a Amnistia Internacional condena o uso excessivo da força, assassinatos deliberados,
ataques desproporcionais e indiscriminados e a prática rotineira de tortura nos centros
de detenção e prisões no Iraque. Sob custódia internacional e das forças de segurança
do Governo estão actualmente cerca de 60 mil detidos. A maioria sem acusação formal
e sem acesso a julgamento. O documento aponta ainda que, depois da re-introdução da
pena de morte no país em 2004, centenas já morreram em resultado de julgamentos injustos.
Além disso, a organização acusa as empresas privadas de segurança de operarem sob
a égide da impunidade, sendo responsáveis por centenas de mortes.
-O
relatório termina com as recomendações da Amnistia Internacional aos protagonistas
do conflito. Às forças multinacionais e ao Governo iraquiano a organização pede
a acusação formal dos milhares de detidos e a libertação daqueles sobre os quais não
pedem quaisquer acusações. Exige ainda a investigação de todos os crimes de violação
de direitos humanos e da Convenção da ONU contra a Tortura. É no capítulo dos
refugiados que a Amnistia Internacional pede aos governos dos 27 Estados membros da
União Europeia e aos Estados Unidos para prestarem auxílio financeiro e técnico aos
vizinhos do Iraque para responder às necessidades básicas daqueles que fogem do país.
A organização condena o regresso forçado a território iraquiano e pede à Síria e à
Jordânia para que não impeçam a entrada de refugiados.