BENTO XVI: MORTE DE DOM RAHHO INSPIRE NOS IRAQUIANOS VONTADE DE VIVER EM PAZ E JUSTIÇA
Cidade do Vaticano, 17 mar (RV) - "Um homem de paz e de diálogo" entre os cristãos
e os muçulmanos de seu país, condenado a um fim "desumano", seguido de uma "indigna
sepultura". Com essas palavras, Bento XVI iniciou suas atividades de hoje recordando
o arcebispo caldeu morto em Mossul após ter sido seqüestrado, Dom Paulos Faraj Rahho.
Celebrando
na capela "Redemptoris Mater", na residência pontifícia vaticana, a missa em sufrágio
pelo prelado iraquiano, o papa usou palavras de solidariedade para com o Iraque: "Que
o exemplo de Dom Rahho possa ajudar todos os iraquianos de boa vontade na construção
de uma nação pacífica e solidária".
Bento XVI ressaltou a comoção pela morte
de um homem justo e a consciência, ditada pela fé, de que nessa morte se encontra
a semente e o exemplo para que cristãos e muçulmanos consigam finalmente construir,
no Iraque, uma convivência "fundada na fraternidade humana e no respeito recíproco".
O
Evangelho da missa desta manhã, com o episódio de Maria de Betânia que unge os pés
de Jesus, sugeriu ao papa o seguinte paralelo:
"Penso no sagrado Crisma que
ungiu a fronte de Dom Rahho no momento de seu Batismo e de sua Crisma: que ungiu suas
mãos no dia da Ordenação sacerdotal e, depois, a cabeça e as mãos quando foi consagrado.
Mas penso também nas tantas 'unções' de afeto filial, de amizade espiritual, de devoção
que os seus fiéis reservavam à sua pessoa, e que o acompanharam nas horas terríveis
do seqüestro e da dolorosa prisão, aonde talvez já tenha chegado ferido, até a agonia
e a morte. Até aquela sepultura, onde depois foram encontrados os seus restos mortais."
Contemplando
o mistério da dor da Semana Santa, Bento XVI fez uma analogia entre os sofrimentos
de Dom Rahho e o suplício sofrido pelo "Servo sofredor", descrito na liturgia do profeta
Isaías, tão misterioso em sua identidade quanto igual em tudo ao Cristo da Paixão.
O papa observou que o Servo é apresentado como aquele que trará, proclamará,
estabelecerá o direito: três verbos cuja "insistência", disse Bento XVI, "não pode
passar despercebida".
E o Servo que "realizará essa missão universal com a
força não violenta da verdade", prefigura Jesus, que, mesmo "diante de uma injusta
condenação, dá testemunho da verdade permanecendo fiel à lei do amor":
"Nesse
mesmo caminho, Dom Rahho tomou a sua cruz e seguiu o Senhor Jesus e, assim, contribuiu
para levar o direito a seu país martirizado e ao mundo inteiro, dando testemunho da
verdade. Ele foi um homem de paz e de diálogo. Sei que ele tinha uma predileção particular
pelos pobres e pelos portadores de deficiência, para os quais criou uma associação
pela assegurar-lhes assistência física e psíquica. A associação foi por ele denominada
'Alegria e Caridade', à qual havia confiado a tarefa de valorizar tais pessoas e de
auxiliar suas famílias, muitas das quais haviam aprendido dele a não esconder tais
familiares e a ver neles o próprio Cristo. Que o seu exemplo ajude todos os iraquianos
de boa vontade, cristãos e muçulmanos, a construir uma convivência pacífica, fundamentada
na fraternidade humana e no respeito recíproco."
Bento XVI fez votos de que
especialmente os cristãos do país sejam os primeiros a acreditar num "futuro melhor"
para o Iraque: "Como o amado arcebispo Paulos se consumou sem reservas a serviço de
seu povo, assim os cristãos saibam perseverar no compromisso da construção de uma
sociedade pacífica e solidária no caminho do progresso e da paz". (RL/BF)