Milhares de pessoas no adeus ao arcebispo caldeu Paulos Faraj Rahho. Medo e frustração
da comunidade cristã iraquiana
(15/3/2008) Milhares de pessoas saíram à rua no Iraque para o funeral do Arcebispo
caldeu Paulos Faraj Rahho, encontrado sem vida esta Quinta-feira após ter sido raptado
no dia 29 de Fevereiro, em Mossul, no norte do país. A celebração, presidida pelo
Cardeal Emmanuel III Delly, Patriarca dos Caldeus, decorreu em Karamles, localidade
situada nos arredores de Mossul. O líder da Igreja caldeia falou do Arcebispo Rahho
como "um homem dedicado à fé", lembrando a sua "honestidade, lealdade e paz". Segundo
o relato feito pela agência AsiaNews, a comunidade católica reagiu a este desfecho
com um misto de medo, frustração e raiva. D. Paulos Faraj Rahho, segunda figura da
hierarquia caldeia, era tido como um símbolo do diálogo com a comunidade muçulmana.
Muitos temem que se esteja a caminhar para o “extermínio” da comunidade cristã,
que se encontra neste território desde a pregação dos primeiros Apóstolos de Jesus,
há quase 20 séculos. O rapto não foi ainda reivindicado, mas a polícia iraquiana está
convencida de que por detrás do acto criminoso está o dedo da al-Qaeda. No funeral
de D. Rahho marcaram presença representantes das várias comunidades cristãs, muçulmanas
e líderes políticos do país. Antes da cerimónia, o féretro foi conduzido em procissão
pelas ruas da aldeia, com os fiéis a marcarem presença em todo o percurso, com flores
e ramos de oliveira. A televisão cristã "Ishtar" transmitiu as imagens do cortejo
fúnebre, onde era visível a presença de vários homens armados, reveladores do forte
dispositivo de segurança montado para esta ocasião. A morte do Arcebispo caldeu
de Mossul é o primeiro caso a atingir um membro do episcopado local. Em Junho de 2007,
um padre e três diáconos foram assassinados em Mossul, capital da província de Nínive.
Na mesma cidade, em Janeiro de 2005, fora sequestrado o arcebispo da comunidade siro-católica,
D. Basile Georges Casmoussa. Bento XVI manifestou-se "profundamente comovido e
entristecido" com a notícia da morte do Arcebispo iraquiano Paulos Faraj Rahho, encontrado
sem vida na localidade de Mossul após quase duas semanas de rapto. Num comunicado
assinado pelo director dos serviços de informação do Vaticano, Pe. Federico Lombardi,
é referido que o Papa espera que “este trágico acontecimento volte a exigir, com mais
força, o empenho de todos e em particular da comunidade internacional pela pacificação
de um país tão atormentado”. Posteriormente, num telegrama enviado ao Patriarca
de Babilónia dos Caldeus, Cardeal Emmanuel III Delly, o Papa classificou a “trágica
morte” do Arcebispo Rahho como “um acto de violência desumana” que “ofende a dignidade
humana e prejudica gravemente a causa da convivência fraterna do amado povo iraquiano”.
Para os EUA,, esta morte prova a "brutalidade dos extremistas com que se confronta
o mundo". A França reagiu também à notícia da descoberta do corpo do Arcebispo, considerando
a sua morte como "um acto odioso". O Secretário de Estado do Vaticano manifestou
a sua condenação a um acto “muito grave, desumano”, referindo que “esta guerra não
leva a nenhum resultado”. Já o representante do Papa em Bagdad, Núncio Francis
Assisi Chullikatt, refere esta Sexta-feira ao jornal Vaticano L’Osservatore Romano
que “foi feito tudo o que era possível” para resgatar D. Rahho, condenando “um acto
cruento contra toda a comunidade cristã, que desde sempre trabalho pelo diálogo e
a reconciliação do povo cristão”. Segundo dados da AsiaNews, só em 2007 foram
mortos 47 cristãos no Iraque. No passado os cristãos no Iraque somavam dois milhões,
na sua maioria caldeus - uma das mais antigas comunidades do Oriente, remontando ao
século II. Actualmente os cristãos naquele país estão reduzidos a pouco mais de
600 mil. A situação de anarquia, insegurança e fundamentalismo islâmico tem forçado
os cristãos a abandonarem o seu país à procura de refúgio em países vizinhos como
o Líbano, a Síria e a Jordânia onde vivem ilegalmente e da caridade dos cristãos locais.