Cidade do Vaticano, 11 mar (RV) - Realizou-se ontem no Vaticano uma conferência
sobre o tema "Israel e Santa Sé: reflexões sobre a cultura judaico-cristã". O evento
foi promovido pelo Pontifício Conselho para a Cultura e pela embaixada de Israel junto
à Santa Sé.
Um das questões discutidas na conferência foi a polêmica causada
pela modificação do texto da oração da Sexta-feira Santa da liturgia pré-conciliar.
Segundo a comunidade judaica internacional, a oração é ofensiva porque implica o conceito
de "conversão" dos judeus.
A propósito, o presidente do Pontifício Conselho
para a Cultura, Dom Gianfranco Ravasi, afirmou que entre judeus e cristãos haverá
sempre dificuldades, porque cada comunidade deve manter um equilíbrio entre a expressão
da própria identidade e a vontade de diálogo.
Para Dom Gianfranco Ravasi, dentro
de um âmbito de reciprocidade entre judeus e católicos ao modificar as orações que
cada fé considera potencialmente ofensiva, deve-se considerar que "cada comunidade
tem características que são próprias e afirmam o próprio percurso de salvação".
Como
católico, afirmou Dom Ravasi, "é natural que eu deseje que a identidade de Cristo
como salvador seja conhecida e também acolhida por outros, sem que isso naturalmente
se torne uma norma ou uma escolha de imposição". O objetivo da relação entre as duas
comunidades é que cada uma "conserve a própria face, sem que esta face seja agressiva",
concluiu Dom Ravasi.
Já o embaixador de Israel junto à Santa Sé, Oded Ben-Hur,
durante a conferência apresentou um projeto comum entre os dois Estados. O projeto
inclui uma agenda recíproca que toque pontos como a luta contra o anti-semitismo e
o terrorismo, promova intercâmbios culturais, acadêmicos e, por fim, incentive as
peregrinações, "máxima expressão do diálogo necessário no Oriente Médio".
À
margem do encontro entre Santa Sé e Israel, Dom Gianfranco Ravasi voltou a falar da
idéia de convidar alguns ateus para participar das próximas reuniões do Pontifício
Conselho para a Cultura.
"É importante confrontar-se com quem propõe outro
modelo ou com quem critica de maneira inteligente o seu modelo, não com quem tem somente
o prazer e a vontade de denegrir a Igreja", afirmou Dom Ravasi, que acrescentou: ''Por
exemplo, gostaria de ouvir o meu amigo Umberto Eco sobre o que ele tem a dizer a respeito
de Sto. Tomás de Aquino ou convidar pensadores como Juergen Habermas, Massimo Cacciari
e Vincenzo Vitiello''. (BF)