BENTO XVI: É NECESSÁRIO REFORÇAR DIÁLOGO ENTRE CIÊNCIA E FÉ E CHAMAR HUMANIDADE AOS
"VALORES ALTOS"
Cidade do Vaticano, 08 mar (RV) - A secularização, com os seus condicionamentos
que levam à negação de Deus, penetrou "há tempo" também dentro da Igreja. A afirmação
de Bento XVI abriu seu discurso dirigido esta manhã, na Sala Clementina, no Vaticano,
aos participantes da plenária do Pontifício Conselho para a Cultura, que nesses dias
se reuniu para debater o tema "A Igreja e o desafio da secularização". Para vencer
tal desafio é preciso apostar nos "valores altos da existência" e no diálogo respeitoso
entre ciência e fé, afirmou o pontífice.
Na cidade secularizada, há espaço
para entender e viver aquilo que o presidente do referido organismo vaticano, Dom
Gianfranco Ravasi, em sua saudação ao papa, definiu como uma "sadia secularidade":
trata-se da consciência de que o mundo não deve ser idolatrado, porque há uma dimensão
ideal que o supera. A secularização, ao invés, é o seu oposto, pois é o espaço no
qual a transcendência deixa de ser um ponto de referência e prioriza um "estéril culto
do indivíduo".
Bento XVI, portanto, voltou a estigmatizar aquela "soberba da
razão" que está na base de um modo, muito difuso e atual, de entender a existência.
Trata-se de uma "ameaça" que não atinge somente os fiéis imersos no mundo,
mas também a própria Igreja: "A secularização desnatura a fé cristã a partir de dentro
e de modo profundo e, conseqüentemente, o estilo de vida e o comportamento diário
dos fiéis. Eles vivem no mundo e são comumente marcados, se não condicionados, pela
cultura da imagem, que impõe modelos e impulsos contraditórios na negação prática
de Deus: não há mais a necessidade de Deus, de pensar n'Ele e de voltar a Ele. Ademais,
a mentalidade hedonista e consumista predominante favorece, nos fiéis e nos pastores,
uma deriva rumo à superficialidade e a um egocentrismo prejudicial à vida eclesial".
Nesse
contexto cultural, "há o risco de se cair numa atrofia espiritual e num vazio do coração,
caracterizados, por vezes, por formas substitutivas de pertença religiosa e de vago
espiritualismo", observou o Santo Padre.
Portanto, é necessário hoje reagir
mediante a evocação dos valores altos da existência e que podem satisfazer a inquietude
do coração humano em busca da felicidade: a dignidade da pessoa humana e a sua liberdade,
a igualdade entre todos os homens, o sentido da vida e da morte e daquilo que nos
aguarda após a conclusão da existência terrena.
Recordando a idéia basilar
que induziu João Paulo II a instituir o organismo vaticano para a cultura, Bento XVI
repetiu a necessidade de reforçar de modo "fecundo" o diálogo entre ciência e fé:
"Que esse diálogo continue distinguindo as características específicas da ciência
e da fé. De fato, cada um tem seus próprios métodos, âmbitos, objetos de pesquisa,
finalidades e limites e deve respeitar e reconhecer à outra a sua legítima possibilidade
de exercício autônomo segundo os próprios princípios; ambas são chamadas a servir
o homem e a humanidade, favorecendo o desenvolvimento e o crescimento de cada um e
de todos". (RL/BF)