CONGREGAÇÕES RELIGIOSAS DENUNCIAM "EPIDEMIA" DE ESTUPROS ÉTNICOS NA R.D. DO CONGO
Katanga, 05 mar (RV) - As congregações religiosas masculinas e femininas, que
trabalham na província de Katanga, no leste da República Democrática do Congo, divulgaram
um comunicado para denunciar uma "epidemia" de estupros étnicos.
"Diante da
situação desumana e injustificada que continua no leste do país, caracterizada por
violências de todo tipo, por abusos sexuais em série e pela banalização da vida de
nossos irmãos e irmãs, nós superioras e superiores maiores das congregações religiosas
que trabalham na província de Katanga não podemos nos calar", afirma o comunicado.
Apesar
da paz assinada em 2003 e das eleições de 2006, o leste da República Democrática do
Congo ainda está tumultuada pela presença de grupos armados. Quem sofre é a população
civil. As violências sexuais, em especial, atingiram proporções alarmantes e são consideradas
por muitos observadores como um verdadeiro e autêntico instrumento de guerra para
forçar as populações a deixarem o território onde vivem.
Na declaração, os
responsáveis pelas congregações religiosas afirmam que as violências sexuais são fatos
"terríveis e inumeráveis, que constituem uma tragédia comparável a uma epidemia, cuja
eliminação deve mobilizar a todos".
Diante da tragédia, os superiores religiosos
afirmam "constatar com tristeza que não só a maior parte desses crimes permanece impune,
mas que os autores dessas ações são reincidentes, sem nenhum medo das conseqüências.
Deploramos a indiferença cúmplice e culpável seja das autoridades civis e militares,
seja da comunidade internacional, diante de uma catástrofe humanitária entre as piores
da história da humanidade".
Os superiores das congregações religiosas propõem
algumas recomendações para enfrentar a situação: aplicação dos artigos da Constituição
que prevêem estender a paz a todo o território nacional; reforma e fortalecimento
do sistema judiciário; reformas jurídicas e culturais para que a mulher não seja considerada
um ser inferior; criação de estruturas estatais que cuidem das vítimas; e aplicação
severa das leis que punem os crimes sexuais. (BF)