INICIADA VISITA 'AD LIMINA' DOS BISPOS DA GUATEMALA: POBREZA E DEFESA DA VIDA, DESAFIOS
DA IGREJA NO PAÍS
Cidade do Vaticano, 03 mar (RV) - Teve início esta manhã, no Vaticano, a qüinqüenal
visita 'ad Limina' dos bispos da Guatemala.
Trata-se de país com uma história
sofrida: ex-colônia espanhola, independente desde 1839, foi submetido a vários regimes
ditatoriais e guerras civis, tendo voltado, em 1985, a um governo civil contestado
várias vezes pelos militares, até o acordo de paz de 1996. Dois anos depois, foi assassinado
um de seus principais artífices, o bispo auxiliar e vigário-geral da Arquidiocese
de Cidade da Guatemala, Dom Juan José Gerardi, grande defensor dos direitos humanos.
Hoje,
a Guatemala busca embocar, em meio a muitas dificuldades, o caminho do desenvolvimento
democrático e do relançamento econômico. A Rádio Vaticano entrevistou o arcebispo
da capital, Cardeal Rodolfo Quezada Torunõ, que foi recebido esta manhã pelo Santo
Padre, acompanhado de sete prelados.
O purpurado nos diz quais são, a seu
ver, os desafios mais urgentes da Igreja na Guatemala:
Cardeal Rodolfo
Quezada Torunõ:- "Parece-me que os mais urgentes são quatro. O primeiro é a pobreza
do nosso povo, pois 60% da população guatemalteca encontra-se numa situação de pobreza.
O segundo desafio é uma ação incisiva contra as seitas neopentecostais. O terceiro,
parece-me, é uma verdadeira inculturação da cultura indígena. Nós temos 22 etnias
diferentes na nação. E, por fim, o desafio de tornar-se uma Igreja mais madura, que
defenda a vida."
P. Como realizar essa nova evangelização e, no caso da
Guatemala, a inculturação do Evangelho? Cardeal Rodolfo Quezada Torunõ:-
"Em primeiro lugar, é necessário reconhecer que as etnias presentes em nosso país
não são um problema; são, sobretudo, um desafio, porque essa cultura indígena tem
verdadeiramente muitos, muitíssimos valores. Devemos reconhecê-los, descobri-los e,
sobretudo, valorizá-los, porque essas etnias indígenas sempre foram consideradas de
segunda classe."
P. Há uma urgência na luta pela defesa da vida na Guatemala,
diante de projetos de lei como a planificação familiar e o aborto. Qual é o panorama
legislativo do novo governo do país? Cardeal Rodolfo Quezada Torunõ:-
"É preciso distinguir entre o Congresso da República e o governo. Esse governo quer
fazer algo de novo no âmbito da solidariedade. Assim esperamos! Todavia, no Congresso,
muitos deputados foram reeleitos. E tivemos problemas com essas leis ambíguas, que
praticamente ajudam o aborto. Esperamos não ter outros problemas. Mas nós bispos somos
claros nesse sentido, para defender a vida a qualquer preço. Portanto, creio que nos
encontramos no caminho que devemos percorrer." (RL/BF)