Paquistão: oposição vence legislativas e prepara coligação de governo
(20/2/2008) A oposição paquistanesa venceu as eleições legislativas e festejou a
vitória nas principais cidades do país. O partido que apoia o Presidente Pervez Musharraf
foi por seu turno batido em toda a linha, o que coloca em dúvida o futuro político
do chefe de Estado, no poder desde 1999. Os resultados ainda não são definitivos,
mas o Partido do Povo Paquistanês (PPP), liderado pelo viúvo de Benazir Bhutto, Asif
Zardari, tem nas suas mãos a definição do próximo Governo, pois elegeu 86 deputados
na assembleia de 272 lugares. Com os deputados da Liga Muçulmana de Nawaz Sharif (PML-N),
os dois partidos democráticos moderados terão um mínimo de 152 lugares. A base
de poder do Presidente foi duramente abalada, mas a vitória não permitirá a qualquer
dos dois maiores partidos formar governo sem a participação do outro. A oposição ficou
aquém dos dois terços indispensáveis para a intenção declarada de Sharif: destituir
o Presidente, que em 1999 liderou o golpe contra o seu Governo. Para afastar Musharraf,
seria preciso juntar dois terços dos deputados, mas também do Senado, que é dominado
por aliados do Presidente. A hipótese de destituição teria outra dificuldade: a
incógnita sobre a posição do exército. As forças armadas paquistanesas são o árbitro
crucial e, depois de terem estado sob controlo de Musharraf estão desde Novembro sob
comando de Ashfaq Kayani, um general que liderou os poderosos serviços de informação
e que é aliado do Presidente. A diplomacia americana já declarou esperar que o
futuro chefe de Governo "possa trabalhar" com Musharraf. Os americanos desejam que
o seu principal aliado na região, na chamada "guerra contra o terror", mantenha algum
controlo. Após meio ano de incerteza, a transição democrática foi marcada pelo
islamismo. Musharraf perdeu apoio após ter ordenado o assalto à Mesquita Vermelha
de Islamabad; Benazir Bhutto foi assassinada num violento ataque suicida; e os militares
perderam centenas de homens em confrontos com rebeldes pró-talibãs, nas zonas tribais
do noroeste. Os americanos elogiaram o "primeiro passo em direcção à plena restauração
da democracia", mas dificilmente deixarão cair o seu aliado, à falta de alternativa.