NO PARLAMENTO, CARD. PELL PEDE DESCULPA AOS ABORÍGINES E OS CONVIDA PARA DMJ
Canberra, 19 fev (RV) - "À sombra da cruz, cometeram-se muitos abusos contra
os aborígines australianos." Depois do pedido de desculpas, dias atrás, do premiê
Kevin Rudd, ontem foi a vez do arcebispo de Sydney, cardeal George Pell, que colheu
a ocasião da chegada ao parlamento dos dois símbolos do Dia Mundial da Juventude (DMJ),
para fazer o mea-culpa em nome da Igreja pelos crimes cometidos contra os aborígines.
"É o momento de rezar pela justiça, a paz e a igualdade em nosso país", disse
o Cardeal Pell, ressaltando que, justamente neste momento, é preciso reconhecer que,
em tempos passados de nossa história, a cruz não foi levada com fidelidade por aqueles
que professavam seguir Cristo.
As palavras do arcebispo de Sydney não são inéditas.
Outros homens da Igreja na Austrália tocaram recentemente o doloroso tema da evangelização
dos nativos e seus métodos. Mas o local escolhido pelo Cardeal Pell, o parlamento,
para reabrir esta ferida da sociedade australiana é significativo. Mesmo porque o
discurso foi proferido diante do premiê Rudd, que, apenas poucos dias atrás, falando
em nome da Austrália "oficial", da política, do parlamento, da sociedade "branca",
pediu perdão aos aborígines. Perdão, em particular, à "geração roubada", a dezenas
de milhares de aborígines que foram subtraídos com a força, quando crianças, às suas
mães e confiados a missões cristãs ou a famílias brancas, segundo uma política de
assimilação abolida somente em 1970.
A cruz do DMJ (de mais de três metros,
que será içada por ocasião do evento juvenil, em julho) e o ícone de Maria estão acompanhados
de um ''message stick'' (bastão de madeira característico, inciso com símbolos, usado
para levar mensagens de uma "nação" aborígine a outra). Esta decisão também denota
um significado particular: o convite a todos os jovens indígenas da Austrália a participar
do DMJ.
"Não devemos ignorar as verdades 'ruins'", escreve o Cardeal Pell
em um artigo publicado ontem por um jornal de Sydney: "Os maus-tratos sistemáticos
contra muitos aborígines, por tantas gerações, foram perpetrados por uma pequena minoria,
mas tolerados e permitidos na opinião da maioria, que demonstrou indiferença, hostilidade
e preconceito ao longo de gerações".
A posição da Igreja australiana em relação
aos aborígines não é nova, tanto que o próprio cardeal Pell recordou que, em 1998,
a Conferência Episcopal Australiana pediu perdão por toda a responsabilidade da Igreja
ao dividir e destruir famílias indígenas, e reconheceu a triste seqüência de injustiças
sofridas pelos aborígines desde a chegada dos europeus. (CM/BF)