Santa Sé condena tráfico de seres humanos: "um dos fenómenos mais vergonhosos do nosso
tempo
(15/2/2008) O tráfico de seres humanos é um dos fenómenos mais vergonhosos do nosso
tempo, denunciou em Viena o Arcebispo Agostinho Marchetto, secretário do Conselho
Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes (CPPMI), que se referiu às
vítimas deste crime como “os escravos da época moderna”. A intervenção deste responsável
ocorreu no primeiro Fórum Global Contra o Tráfico de Pessoas das Nações Unidas, que
decorre desde Quarta-feira na capital da Áustria. A Santa Sé, disse o representante
do Papa, “valoriza e apoia os esforços empreendidos em vários âmbitos para combater
o tráfico de seres humanos, que é um problema multidimensional e um dos fenómenos
mais vergonhosos do nosso tempo”. Para este Arcebispo italiano, é preciso ter
em consideração “o perigo real sofrido pelas numerosas pessoas que, perante a pobreza,
a falta de oportunidades e de coesão social, se vêem obrigadas a deixar os seus países
de origem, em busca de um futuro melhor”. O secretário do CPPMI lembrou outros
factores que contribuem para o crescimento deste crime, como os conflitos armados,
a ausência de regras específicas e de estruturas sócio culturais em vários países,
bem como a falta de conhecimento dos próprios direitos por parte das próprias vítimas.
Cerca de 2,5 milhões de pessoas em todo o mundo são vítimas anualmente de tráfico
humano e de suas várias formas de exploração, trabalho forçado ou prostituição, segundo
estimativas divulgadas pelas Nações Unidas neste Fórum. Soluções para o drama “A Santa Sé apoia todas as iniciativas justas que contribuam para suprimir este
fenómeno imoral e criminoso e para promover a recuperação e o bem-estar das vítimas”,
referiu D. Marchetto em Viena. Segundo o representante da Santa Sé neste Fórum,
“todos os esforços para enfrentar as actividades criminosas relacionadas com este
flagelo (tráfico de seres humanos, ndr) devem centrar-se nos direitos humanos e dirigir-se
também aos que protagonizam a procura da exploração sexual”. O Arcebispo Marchetto
destacou em especial, a acção da Igreja junto das mulheres, principais vítimas deste
tráfico, com “ajuda material, lares de acolhimento, promoção da reinserção na sociedade”
e mesmo auxílio concreto para “escapar de quem as escraviza por meio da violência
sexual”. Noutro âmbito, falou da acção da Igreja Católica em países que sofrem
violentos conflitos, como a República Democrática do Congo, a Serra Leoa e a Libéria,
para salvar as crianças-soldado, que acabam também por ser vendidas. “Admitindo
que não existem soluções fáceis, a Santa Sé sublinha a importância de tutelar as vítimas
do tráfico de seres humanos, de estabelecer penas justas para castigar este crime
e de promover medidas preventivas”, afirmou. No que se refere à ajuda que se deve
oferecer às vítimas, o Arcebispo Marchetto insistiu nos cuidados médicos e psicológicos,
bem como nas permissões de residência e de emprego que facilitam a reinserção social.
Por outro lado, afirmou, quando se ajuda estas pessoas a regressarem aos seus
países de origem, “é indispensável que se acompanhe esta ajuda com projectos de ajuda
e microcréditos”, que se poderiam financiar confiscando “os bens dos próprios traficantes”.