CARDEAL VANHOYE: NOVA ALIANÇA FUNDADA NO SANGUE DE JESUS NOS RENOVA E NOS COLOCA EM
RELAÇÃO ÍNTIMA COM DEUS
Cidade do Vaticano, 13 fev (RV) - Os exercícios espirituais da Quaresma, iniciados
neste domingo, na Capela Redemptoris Mater, da residência apostólica vaticana, na
presença do papa e da Cúria Romana, chegam hoje a seu quarto dia. Nas duas meditações
desta manhã, o pregador _ Cardeal Albert Vanhoye _ se deteve sobre o modo como a Carta
aos Hebreus apresenta a promessa da Nova Aliança e sobre a página evangélica das bodas
de Caná.
A Carta aos Hebreus _ ressaltou o cardeal _ estabelece uma estreita
ligação entre o sacerdócio de Cristo e a Nova Aliança, da qual Jesus é mediador. O
texto apresenta uma longa citação do oráculo de Jeremias, anúncio da Nova Aliança.
Reiteradamente,
o povo de Israel foi infiel a Deus. E, no entanto, Deus envia Jeremias para anunciar
uma Aliança realmente Nova, diferente da que foi feita com os pais _ explicou o purpurado
francês. Deus quer fazer uma mudança radical. Uma Aliança que se fundamenta em quatro
elementos.
"Primeiro aspecto: a nova aliança será interior e não exterior.
Segundo aspecto: será uma relação de perfeita pertença recíproca entre Deus e o povo.
Terceiro aspecto: não será uma instituição coletiva, será uma relação pessoal de cada
um com Deus. Quarto aspecto: essa relação será fundada no completo perdão dos pecados."
Portanto, uma transformação do coração.
No Sinai _ disse o cardeal _ Deus
havia inscrito suas leis em tábuas de pedra, leis externas a serem observadas, mas
que não mudavam o coração das pessoas. Era indispensável uma transformação interior
e Deus a promete. Uma vez mudado o coração, instaura-se uma perfeita relação recíproca
entre Deus e o povo.
A Nova Aliança se apresenta como uma situação diferente,
sem mais necessidade de advertências. O oráculo abre perspectivas maravilhosas, mas
não explica como essa extraordinária promessa de Deus poderá realizar-se.
"É
o que nos revela, ao invés, Jesus, na última ceia, quando institui a Eucaristia. Jesus
toma o cálice e diz: "Este é o meu sangue da aliança". A nova aliança deveria ser
fundada no sangue, um sangue derramado, para a remissão dos pecados, segundo a promessa
da nova aliança."
A Nova Aliança é, portanto, fundada no sangue de Jesus. Por
isso, devemos tomar consciência dessa Aliança que nos renova completamente e nos coloca
em relação profunda com Deus por meio de Cristo _ exortou o purpurado.
A segunda
meditação foi dedicada às bodas de Caná, que se celebram justamente para estabelecer
uma aliança _ afirmou. O purpurado recordou que a Aliança entre Deus e o Seu povo
é apresentada no Antigo Testamento justamente como núpcias.
A idolatria, pelo
contrário, é apresentada como uma infidelidade, um adultério do povo de Israel, como
no episódio do bezerro de ouro. Todavia, também nos momentos mais trágicos, o Senhor
não renuncia a seu projeto de união no amor e promete uma nova aliança.
Portanto,
em Caná cumpre-se o milagre da transformação da água em vinho. Jesus dá início a seus
sinais milagrosos e manifesta a sua glória. Mas qual é a glória de Jesus? _ pergunta-se
o Cardeal Vanhoye, respondendo: É justamente a glória do esposo. É a glória do amor
generoso que doa o vinho bom para realizar as núpcias.
Nessa página evangélica,
ficamos impressionados com a figura de Maria _ acrescentou o Cardeal Vanhoye. A Mãe
havia falado ao filho das dificuldades do esposo pela falta de vinho. E Jesus responde
de uma maneira que revela a evolução de sua relação com a Mãe.
"Um comentário
patrístico explica que agora não é mais a hora de Maria, isto é, o tempo no qual a
Mãe deve conduzir o filho na vida, é a hora de Jesus, a hora na qual Jesus deve tomar
a iniciativa e realizar o plano de Deus. Jesus não deve mais obedecer a Maria, deve
assumir a sua missão de Messias."
Esse Evangelho nos coloca diante da escolha
de duas atitudes espirituais opostas, a da docilidade de Maria e a de quem não quer
aceitar nenhuma mudança de relação, proposta por Jesus.
O Cardeal Vanhoye concluiu
a meditação com o convite de São Paulo, em sua Epístola aos Romanos, a nos transformarmos,
renovando nossa mente. (RL/AF)