Em Portugal, católicos chamados a combater a pobreza:Mensagem
de Quaresma da Comissão Nacional Justiça e Paz alerta para o drama crescente que ameaça
a paz social
(11/2/2008) Nesta Quaresma de 2008, em Portugal a Comissão Nacional Justiça e Paz
(CNJP) convida todos os cristãos e as suas comunidades a escutar o clamor dos pobres
e a abrir caminhos de justiça para erradicar a pobreza no País. Na sua habitual
reflexão para este tempo litúrgico, o organismo laical da Conferência Episcopal Portuguesa
procura “mobilizar as consciências para que, colectivamente, se reconheça que a pobreza
é uma situação intolerável à luz de critérios éticos e dos direitos humanos fundamentais
e pode constituir um risco e uma ameaça, para a democracia, a sustentabilidade do
crescimento económico e para a paz social”. “Ao escolher este tema de reflexão,
para a Quaresma de 2008, queremos não só alargar o debate sobre a pobreza como também
abrir caminhos para a criatividade colectiva na procura de soluções que a possam resolver,
superando as causas que a geram e minimizando as suas manifestações mais agudas”,
refere a mensagem. Para a CNJP, “a pobreza é uma realidade complexa e multifacetada,
que nas sociedades contemporâneas se apresenta com vários rostos e múltiplas causas,
exigindo, por isso, respostas diversificadas”, em especial nos ambientes urbanos.
“Embora com rostos diversos, os pobres têm em comum uma dignidade humana ofendida,
a humilhação da sua exclusão social, a insegurança face ao dia de amanhã e a um projecto
de futuro, a perda de autonomia na sua realização pessoal e, não raro, o justo sentimento
de serem vítimas da injustiça social”, pode ler-se. Acreditando na possibilidade
de se vencer a pobreza, o documento assinala que, em primeiro lugar, “importa afirmar
que não se resolverá o problema da pobreza sem um quadro de referência ética comummente
aceite”. “Ética pessoal, com as correspondentes implicações no comportamento dos
pobres e dos não-pobres. Ética social com tradução no modo como se organiza a vida
colectiva e a participação de todos na actividade económica e na repartição dos respectivos
custos e benefícios”, precisa. Esta mensagem quaresmal pede “políticas económicas
que gerem empregos dignos, democratizem o acesso à propriedade por parte das famílias
de rendimentos médios e médios-baixos, e promovam uma distribuição menos desigual
do rendimento criado em cada ano pela actividade económica”. “Para além disso,
é igualmente indispensável um programa eficaz de combate à pobreza, que tenha em conta,
nomeadamente, os grupos mais vulneráveis”, prossegue. A CNJP defende a necessidade
de “desmontar os preconceitos que impedem uma visão clara sobre o empobrecimento,
a começar pela ideia de que em Portugal não existe pobreza (nega-se a um só tempo
a evidência estatística e a própria experiência empírica) ou a de que só é pobre quem
quer”. A reflexão agora apresentada vem dar continuidade à petição apresentada
à Assembleia da República em Outubro passado, por iniciativa da CNJP, que recolheu
mais de 23 mil assinaturas. Nela solicitava-se que a pobreza seja reconhecida como
uma violação dos direitos humanos.