2008-02-08 15:49:35

Cardeal Kasper explica nova versão da oração pelos judeus: não podemos calar a nossa fé em Cristo salvador de todos


Em entrevista à nossa Emissora, o Cardeal Walter Kasper, presidente da Comissão para as Relações Religiosas com o Judaísmo, considerou que a nova oração de Sexta-feira Santa pelos judeus não é um "obstáculo ao diálogo". Este responsável sublinhou que o Papa quis retirar do antigo Missal Romano de 1962 partes que fossem consideradas “ofensivas” pelos judeus, sem anular “as diferenças” entre a Igreja Católica e o Judaísmo.
“Temos muito em comum: Moisés e Abraão, os profetas, o próprio Jesus era um judeu, a sua mãe era judia, mas há uma diferença específica, porque acreditamos que Jesus é o Messias, o Filho de Deus e isso não podemos esconder”, observou.
O cardeal Kasper comentava assim várias reacções do mundo hebraico à decisão de Bento XVI, que modificou a oração de Sexta-feira Santa pelos judeus, contida no Missal Romano de 1962, cujo uso foi “liberalizado” com o Motu proprio Summorum Pontificum, em Julho de 2007.
Nas suas declarações à Rádio Vaticano, o purpurado admitiu que a história das relações católico-judaicas é “complexa e difícil”, com várias sensibilidades e sublinhou que o Papa quis apenas sublinhar que “Jesus é o salvador de todos os homens, também dos judeus”. "Isto não quer dizer que tenhamos intenção de fazer missão no mundo judaico", assegura.

O quotidiano da Santa Sé, “L’Osservatore Romano”, publicou na sua edição de Quarta-feira uma nota da Secretaria de Estado, na qual se anunciam as referidas modificações, que entram em vigor já a partir do dia 21 de Março.
O Oremus et pro Iudaeis do Missal anterior ao Concílio Vaticano II, publicado no pontificado de João XIII, já não incluía a expressão “pérfidos judeus”, mas pedia a oração dos fiéis para o Senhor retirasse dos seus corações “a cegueira” e a “obscuridão”.
O novo texto de Bento XVI pede oração pelos judeus para que o Senhor “ilumine o seu coração” para que reconheçam em Jesus “o salvador de todos os homens” e todo o povo de Israel “seja salvo”.
Na sequência destas alterações, a assembleia dos Rabinos italianos pronunciou-se por uma "pausa" do diálogo com a Igreja Católica depois da publicação pelo Vaticano da "nova oração pelos judeus", em latim, que continua a apelar à sua conversão, revela um comunicado divulgado hoje à noite. A nova versão desta oração não satisfez o rabino-chefe de Roma, Riccardo Di Segni, que viu nela "um obstáculo" à continuação do diálogo entre judeus e cristãos. "Trata-se de uma marcha atrás de 43 anos que impõe uma pausa de reflexão no diálogo judaico-cristão", disse Di Segni, que manteve boas relações com João Paulo II e já foi recebido por Bento XVI no Vaticano.

A oração do novo Missal Romano, aprovado por Paulo VI após o Concílio Vaticano II, reza “pelo povo judeu, para que Deus nosso Senhor, que falou aos seus pais pelos antigos Profetas, o faça progredir no amor do seu nome e na fidelidade à sua Aliança”.
Segundo o Cardeal Walter Kasper, a versão de Bento XVI para o Missal de 1962 não coloca em causa a visão da Igreja sobre a validade da "Aliança com o Povo de Israel", lembrando que "o próprio Jesus a validou com a sua morte". O Papa (refere), cita uma passagem da Carta de São Paulo aos Romanos onde se pode ler que "que todo o Israel será salvo" após a entrada da "totalidade dos gentios" na Igreja.
Para o Cardeal Kasper, é importante que os cristãos ofereçam a todos "um testemunho da sua fé", evitando, contudo, "a linguagem do desprezo" que marcou a relação com os judeus no passado. "Temos respeito na nossa diferença, respeitando a identidade do outro", conclui.









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