A verdadeira oração nunca é egocêntrica, a oração é o motor do mundo: Bento XVI, na
Missa de Quarta-feira de Cinzas
Celebrando na basílica de Santa Sabina, Bento XVI sublinhou a importância da oração,
advertindo que é a ausência de Deus que “aliena” o homem. “Não é a presença de
Deus que aliena o homem, mas a sua ausência: sem o verdadeiro Deus, Pai do Senhor
Jesus Cristo, as esperanças tornam-se ilusões que induzem à evasão da realidade”,
disse o Papa, na linha do que tinha já afirmado na sua última encíclica, “Spe Salvi”.
“A verdadeira oração nunca é egocêntrica, mas sempre centrada sobre o outro.
Como tal, ela exercita o orante ao ‘êxtase’ da caridade, à capacidade de sair de si
próprio para tornar-se próximo do outro, no serviço humilde e desinteressado.
A verdadeira oração é o motor do mundo, porque o mantém aberto a Deus. De facto, não
é a presença de Deus a alienar o homem, mas a sua ausência: sem o verdadeiro Deus,
Pai do Senhor Jesus Cristo, as esperanças tornam-se ilusões que levam a fugir da realidade.
Falar com Deus, permanecer na sua presença, deixar-se iluminar e purificar pela
sua Palavra, introduz-nos no coração da realidade…, introduz-nos, por assim dizer,
no coração pulsante do universo.” “Em harmónica ligação com a oração – observou
ainda o Papa – também o jejum e a esmola podem ser considerados lugares de aprendizagem
e exercício da esperança cristã”. “Graças à acção conjunta da oração, do jejum e da
esmola, a Quaresma, no seu conjunto, forma os cristãos a serem homens e mulheres de
esperança”. Quase a concluir a sua homilia, na Eucaristia de quarta-feira de
Cinzas, o Papa deteve-se a considerar o sofrimento, recordando, como na sua Encíclica
sobre a esperança, que “a medida da humanidade determina-se essencialmente na relação
com o sofrimento e com a pessoa que sofre”. “A Páscoa - para a qual tende a Quaresma
– é o mistério que dá sentido ao sofrimento humano, a partir da sobreabundância da
com-paixão de Deus, realizada em Jesus Cristo. O caminho quaresmal, estando completamente
inundado da luz pascal, faz-nos reviver o que acontece no coração divino-humano de
Cristo quando subia a Jerusalém pela última vez, para se oferecer a si mesmo em expiação…
O sofrimento de Cristo está todo permeado da luz do amor: o amor do Pai que
permite ao Filho ir confiadamente ao encontro do seu último ‘baptismo’ (como ele próprio
define o culminar da sua missão… Deus não pode padecer, mas pode e quer com-padecer.
Da paixão de Cristo pode entrar em cada sofrimento humano a con-solatio – a
consolação do amor participe de Deus e surge assim a estrela da esperança”.