MÉDICOS ITALIANOS PROPÕEM REANIMAR FETOS DE ABORTOS, POIS "TÊM DIREITO DE SOBREVIVER"
Cidade do Vaticano, 05 fev (RV) - Um grupo de ginecologistas italianos propôs,
no último fim de semana, que os fetos nascidos de forma natural ou não, recebam toda
a assistência médica necessária para sobreviver, mesmo que sejam fruto de um aborto
e independentemente da vontade de sua mãe.
A proposta está gerando grande
polêmica na Itália, onde a discussão sobre o aborto já havia sido retomada, por um
pedido de ab-rogação da lei sobre o aborto, apoiado pela Igreja Católica. A moção
prevê que a reanimação seja aplicada também nos casos de aborto provocado, nos quais
a mãe deseja interromper a gravidez.
No documento, assinado por diretores
das clínicas ginecológicas das principais Universidades de Roma, os médicos sugerem
que ainda que prematuro, o feto deve ser considerado um bebê nascido e, no momento
do nascimento, a lei lhe atribui a plenitude do direito à vida e da assistência à
saúde, porque o que prevalece é o interesse da criança.
Alguns médicos, entretanto,
não concordam com a iniciativa. "O limite mínimo para a qualidade da vida humana tem
como referência 24 semanas de gestação" _ afirma o Dr. Gianpaolo Donzelli, diretor
do departamento de Medicina Neonatal do Hospital Meyer, de Florença, em declaração
ao jornal "La Repubblica". "Antes disso, é quase impossível que haja uma resposta
positiva do paciente" _ acrescenta.
A ministra da Saúde italiana, Livia Turco,
também criticou a proposta: "Praticar a reanimação contra a vontade da mãe é uma crueldade
insensata" _ disse Lívia Turco aos jornais italianos. Segundo os especialistas,
a cada ano, na Itália, nascem cerca de mil crianças prematuras, ou seja, com menos
de 26 semanas de gestação. Há chances de um feto sobreviver, se nascer a partir da
22ª semana de gestão, mas o risco de que desenvolva doenças e sofra danos cerebrais
é muito alto. Eles consideram que entre a 22ª e a 23ª semana, os órgãos vitais já
estão formados, mas não estão bem desenvolvidos, e o feto ainda não pode respirar
sozinho.
Entre a 26ª e a 27ª semana, o sistema cardiocirculatório já se desenvolveu,
mas o respiratório ainda não, e só entre a 29ª e a 30ª semana o sistema cerebral pode
ser considerado desenvolvido. Mas ainda assim, a prematuridade é considerada grave.
A declaração dos médicos se insere no quadro das iniciativas recentes, lançadas
ou apoiadas pela Igreja Católica, com o objetivo de rever a lei italiana que autoriza
o aborto.
Na Itália, a lei nº 194, aprovada em 1978, garante que as mães possam
abortar durante qualquer fase da gravidez, mas geralmente os casos de aborto provocado
não ultrapassam a 24ª semana. (CM/AF)