“Cristo fez-se pobre por vós” (2 Cor 8,9): Mensagem de Bento XVI para a Quaresma 2008
(29/1/2008) Um dos temas fundamentais do magistério de Bento XVI é que o cristianismo
não é uma teoria, mas sim uma Realidade, salvífica, que transforma e aperfeiçoa a
existência. É à luz desta certeza que o Papa lê o processo de renovação interior a
que os cristãos são chamados no período da Quaresma - tempo de oração, jejum e esmola.
Seis
os parágrafos da Mensagem:
1. A Quaresma é um tempo para aprofundar o sentido
e o valor do nosso ser cristãos. Para redescobrir a misericórdia de Deus, redescoberta
que nos leve a tornarmo-nos, nós também, mais misericordiosos com os nossos irmãos. Passos
concretos a realizar: oração, jejum e esmola. O Papa detém-se na prática da esmola
como um modo concreto de prestar ajuda a quem se encontra em situação de necessidade.
A esmola faz-nos tomar distância do apego aos bens materiais, de modo a não os idolatrar.
Será assim possível reforçar a disponibilidade a partilhar com os outros aquilo que,
por graça de Deus, possuímos.
2. Os bens materiais que possuímos, não há que
os considerar como propriedade exclusiva. Eles assumem uma valência social, segundo
o princípio do seu destino universal (Catecismo da Igreja Católica, 2404). “Se
alguém tem riquezas deste mundo e, vendo o seu irmão em necessidade, lhe fechar o
próprio coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?” (1 Jo 3,17). Nos países
com uma maioria da população cristã, assume um significado especial este apelo à partilha
dos bens com as multidões que sofrem pobreza e abandono. Antes de ser um acto de caridade,
é um dever de justiça,.
3. A esmola evangélica não é mera filantropia, nem
deve ser um modo camuflado de procurar o seu interesse pessoal e a aprovação dos outros,
ou um meio para nos pormos em evidência a nós próprios. Que a decisão sincera
de ajudar o próximo se concretize “em segredo”, à imitação de Jesus Cristo, o qual,
morrendo na cruz, deu-se ele próprio por nós.
4. Aproximando-nos dos outros,
a esmola aproxima-nos de Deus e pode- se tornar instrumento de autêntica conversão
e reconciliação com Ele e com os irmãos. Ultrapassa “ a dimensão material” e exprime
a verdade do nosso ser: fomos criados não para nós próprios, mas para Deus e para
os irmãos (cfr 2 Cor 5,15). A esmola faz com que experimentemos que a plenitude da
vida vem do amor; e leva à reconciliação com Deus, pois “a caridade cobre a multidão
dos pecados” (1 Pe 4,8).
5. A prática quaresmal da esmola é, portanto, um
meio para aprofundar a nossa vocação cristã. O amor inspira diversas formas de doação,
segundo as possibilidades e as condições de cada um, fazendo da nossa própria vida
um dom total.
6. A Quaresma convida todos a crescer na caridade e a reconhecer
nos pobres o próprio Cristo, num esforço pessoal e comunitário de adesão a Cristo,
no Nome do qual se encontra a verdadeira vida. E a ser testemunhas do seu amor. (Texto
integral da mensagem em "Documentos do Vaticano")