Todos os dias morrem mais de 26 mil crianças antes de completar cinco anos.
(23/1/2008) O número anual de mortes de crianças no mundo desceu de 20 para 9,7 milhões
entre 1990 e 2006. Mas mesmo assim há mais de 26 mil menores que, diariamente, morrem
antes de completar cinco anos, na sua maioria por causas evitáveis. Esta é a principal
conclusão de um relatório ontem apresentado em Genebra por responsáveis da UNICEF.
O documento sobre a situação mundial da infância e sobrevivência infantil,
reúne dados de 2006, da UNICEF, OMS e Banco Mundial. A agência das Nações Unidas para
a infância refere que 80% das mortes de crianças com menos de cinco anos em 2006 ocorreram
no continente africano e no sul asiático. Na lista da mortalidade infantil a Serra
Leoa surge em primeiro lugar com 270 mortes por mil nados vivos. Há países a obter
já resultados de políticas sanitárias simples e que, assim, viram descer a mortalidade
na primeira infância. A UNICEF salienta exemplos como os da Índia, Etiópia ou Bangladesh.
E refere que os progressos destes países foi obtido através de medidas como a melhoria
das condições de higiene ou seguimento da gravidez e pós-parto. E é em planos desses
que as autoridades devem insistir. Moçambique surge apontado como um caso já com realidade
um pouco alterada. Graças a iniciativas como a educação para o aleitamento materno,
a mortalidade das crianças com menos de cinco anos diminuiu em 62%. O relatório
da UNICEF aponta também melhorias relativamente à realidade em Timor Leste e Cabo
Verde. Mas, se procurarmos os dados relativos a outros países de língua oficial portuguesa,
verificamos que Angola e a Guiné-Bissau têm números impressionantes de mortalidade
infantil. Angola, por exemplo, regista 260 mortes em cada mil nascimentos, mais até
que o Afeganistão. A relação entre elevadas mortalidades e a vivência recente ou presente
de um conflito armado nas últimas duas décadas é estabelecida pelo relatório. Dos
11 países onde 20 por cento ou mais das crianças morrem antes dos cinco anos de idade
(Afeganistão, Angola, Burkina Faso, Chade, República Democrática do Congo, Guiné Equatorial,
Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Níger e Serra Leoa), mais de metade sofreram um conflito
armado de grandes proporções desde 1989". A agência das Nações Unidas para
a Infância, face à observação de como alguns países evoluíram, lança um desafio e
um conselho aos governos dos países em desenvolvimento medidas como a prestação de
assistência por agentes locais com alguma formação em saúde e higiene são suficientes
para baixar drasticamente a mortalidade infantil. Progressos desses são já visíveis
em países como a Etiópia e Cuba. O relatório "Situação Mundial da Infância 2008: A
Sobrevivência Infantil" deixa mesmo uma mensagem aos governos, para que não se resumam
a esperar ajudas humanitárias internacionais. Os sistemas nacionais de saúde devem,
assim, fortalecer-se. O caso é particularmente gritante na África sub-sariana, cujos
países vêem nascer um quarto das crianças do planeta; o problema é que também as vêem
morrer na proporção de uma por cada seis nascimentos. Na apresentação do relatório,
esta terça feira em Genebra, foi realçado que a sobrevivência infantil não é somente
um imperativo em termos de direitos humanos, como um imperativo de desenvolvimento.