BENTO XVI: CRISTÃOS TESTEMUNHEM SUA UNIDADE NA ORAÇÃO, NUM MUNDO QUE "SOFRE PELA AUSÊNCIA
DE DEUS"
Cidade do Vaticano, 23 jan (RV) - "Uma imploração conjunta, feita a um só coração
e a uma só alma": esse é o sentido espiritual da Semana de Oração pela Unidade dos
Cristãos, que está se realizando na Europa, de 18 a 25 de janeiro, à qual Bento XVI
dedicou, esta manhã, a catequese da Audiência Geral, realizada na Sala Paulo VI, no
Vaticano.
O Santo Padre evidenciou as etapas desse evento que, este ano, celebra
100 anos de vida, e fez votos de que os cristãos saibam dar um testemunho de unidade,
para tornar "acessível" a face de Deus ao mundo que "sofre" por Sua ausência.
"Pedindo
a graça da unidade, os cristãos devem se unir à mesma oração de Cristo, e se comprometam
a atuar ativamente, a fim de que toda a comunidade O acolha e O reconheça como único
Pastor e Senhor, e possa, assim, experimentar a alegria de Seu amor" _ disse o papa.
No
início de sua catequese, Bento XVI explicou o valor do que chama de "concorde imploração
feita a uma só alma e a um só coração", reflexo da invocação que dois mil anos atrás,
Jesus elevou por primeiro, com o seu. "ut unun sint", "para que todos sejam um".
Esse
valor, no início de 2008, apresenta _ explicou o pontífice _ um leque de significados
ainda mais amplo, porque exatamente um século atrás _ depois séculos de hostilidade
_ os cristãos das várias confissões redescobriram, para além das divisões, a força
unificadora da oração em comum.
Bento XVI fez uma retrospectiva da história
da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, a partir da intuição definitiva "verdadeiramente
fecunda", do pastor anglicano, Rev. Paul Wattson, que, em 1908, lançou a iniciativa
de um Oitavário de Oração, que se tornou, 20 anos depois, graças à contribuição decisiva
do Abbé Couturier de Lyon, a atual Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.
E
quando 40 anos atrás, também os padres conciliares do Vaticano II, perceberam "a urgência
da unidade" entre os cristãos, a Semana de Oração _ reconheceu o pontífice _ tornou-se
"um dos momentos mais qualificadores e profícuos" do caminho ecumênico.
Após
os acenos históricos, Bento XVI se deteve sobre o fulcro espiritual do ecumenismo,
ou seja, sobre aquilo que "o vivificou", isto é, a oração, que converte o coração
e impele à "santidade de vida": "Orai continuamente!". Essa palavra de São Paulo é
o tema da semana deste ano; é, ao mesmo tempo, o convite que jamais cessa de ecoar
em nossas comunidades, para que a oração seja a luz, a força e a orientação dos nossos
passos, em atitude de humilde e dócil escuta do nosso comum Senhor."
Um passo
além da oração é a "oração comum", sobre cuja importância se detém o decreto conciliar
sobre o ecumenismo _ Unitatis Redintegratio. Nesse tipo de oração, defende Bento XVI,
a fé indivisa em Cristo brilha mais que as divisões confessionais: "Na oração comum,
as comunidades cristãs se colocam juntas, diante do Senhor e, tomando consciência
das contradições geradas pela divisão, manifestam a vontade de obedecer à Sua vontade,
recorrendo confiantes a Seu socorro onipotente (...) A oração comum não é, portanto,
um ato de voluntarismo ou puramente sociológico, mas é expressão da fé que une todos
os discípulos de Cristo."
"O mundo sofre pela ausência de Deus, pela inacessibilidade
de Deus, e deseja conhecer a face de Deus. Mas como poderiam e podem os homens de
hoje conhecer essa face de Deus na face de Jesus Cristo, se nós, cristãos, estamos
divididos, se um ensina contra o outro, se um está contra o outro? Somente na unidade,
podemos mostrar realmente a esse mundo _ que precisa da face de Deus, da face de Cristo,
que é a face de Deus _ podemos mostrar ao mundo essa face."
Ao término da catequese
e das saudações em várias línguas, Bento XVI concluiu a Audiência Geral, recordando
a figura de São Francisco de Sales _ padroeiro da imprensa católica _ cuja memória
litúrgica se celebra amanhã, quinta-feira, 24 de janeiro. "Bispo de Genebra, num período
de graves conflitos _ ressaltou o papa _ ele foi homem de paz e de comunhão. Mestre
de vida espiritual, ele ensinou que a perfeição cristã é acessível a toda pessoa."
O
Santo Padre despediu-se dos presentes concedendo a todos a sua bênção apostólica.
(RL/AF)