Cidade do Vaticano, 08 jan (RV) - O papa recebeu em audiência, na manhã desta
segunda-feira, os membros do corpo diplomático acreditado junto à Santa Sé, composto
por 176 nações, para a troca de votos de Feliz Ano Novo.
Em seu discurso, Bento
XVI abordou numerosas questões de atualidade cenário político e social internacional,
com destaque para as crises e conflitos que afligem o mundo, e afirmou que "a segurança
e a estabilidade no mundo continuam a ser frágeis".
No continente africano,
sublinhou a crise em Darfur, Sudão, desejando sucesso à operação conjunta _ ONU-UA
(Nações Unidas-União Africana _ em favor das populações locais. Além disso, falou
ainda da violência na Somália, sobre o processo de paz na República Democrática do
Congo e sobre a recente crise no Quênia, com um convite: "Convido todos os habitantes,
em particular as autoridades políticas, a buscarem, através do diálogo, uma solução
pacifica, fundamentada na justiça e na fraternidade. A Igreja Católica não é indiferente
aos gemidos de dor que se elevam nessas regiões. A Igreja faz apelos em favor dos
refugiados e desabrigados, e se empenha em favorecer a reconciliação, a justiça e
a paz."
Bento XVI disse da "preocupação" da comunidade internacional com a
situação no Oriente Médio, e congratulou-se pelas conclusões da recente conferência
de Annapolis (EUA), da qual emergiram sinais de "abandono do recurso a soluções parciais
ou unilaterais, em favor de uma abordagem global, que respeita os interesses e os
direitos dos povos da região".
Em seu discurso, não faltou um apelo a israelenses
e palestinos: "Apelo, mais uma vez, a israelenses e palestinos, para que concentrem
suas energias na "aplicação dos compromissos assumidos" (...) "E convido a comunidade
internacional a dar apoio aos dois povos, com convicção e compreensão para com os
sofrimentos e temores de ambos."
Iraque, Irã, Líbano, Afeganistão, Sri Lanka,
Mianmar, Coréia do Norte e Chipre foram outras das situações de crise que o papa abordou,
em seu discurso aos diplomatas acreditados junto à Santa Sé, destacando a importância
da paz para a resolução dos problemas enfrentados por diversas nações e para a construção
do futuro da humanidade.
"A paz não pode ser uma simples palavra ou uma
aspiração ilusória, mas sim um compromisso e um modo de vida que exigem que se satisfaçam
as legítimas aspirações de todos, como o acesso à alimentação, à água e à energia,
à tecnologia e aos medicamentos, bem como o controle das alterações climáticas. Só
assim, se pode construir o futuro da humanidade; só assim, se favorece o desenvolvimento
integral, para hoje e para amanhã" _ advertiu.
A bioética e suas implicações
morais foi um capítulo à parte na alocução do Santo Padre: "Gostaria de lembrar, juntamente
com tantos pesquisadores e cientistas, que as novas fronteiras da bioética não impõem
uma escolha entre ciência e moral, mas exigem, antes, um uso moral da ciência. Por
outro lado, alegro-me pelo fato que, no dia 18 de dezembro passado, a Assembléia Geral
da ONU tenha adotado uma resolução, exortando seus Estados-membros a instituírem uma
moratória da aplicação da pena de morte. Faço votos de que essa iniciativa estimule
o debate publico sobre o caráter sagrado da vida humana."
Bento XVI pediu maiores
esforços, por parte da comunidade internacional, em favor da segurança, a fim de impedir
"o acesso dos terroristas a armas de destruição em massa".
O Santo Padre recordou
emocionado, sua visita, em maio do ano passado, ao Brasil, e mencionou Cuba, "que
este ano celebra o 10º aniversário da visita de meu venerado antecessor" _ recordou.
Sobre a situação econômica e social do Brasil e da América Latina em geral,
questionou: "Como não desejar uma cooperação crescente entre os povos da América Latina,
assim como o fim das tensões internas em cada um dos países que a compõem, para que
possam convergir nos grandes valores inspirados pelo Evangelho?" O papa concluiu
seu discurso, afirmando que "a diplomacia é, de certo modo, a arte da esperança".
A
Santa Sé mantém relações diplomáticas com 176 países; além da União Européia e da
Soberana Ordem Militar dos Cavaleiros de Malta. Além disso, mantém relações de natureza
especial com a Federação Russa (uma missão com embaixador) e com a Organização para
a Libertação da Palestina-OLP (um escritório com diretor). A Santa Sé participa também,
de diferentes organizações e organismos intergovernamentais internacionais e regionais.
A Santa Sé (ou Sé Apostólica), do ponto de vista legal, distingue-se do Vaticano,
ou mais precisamente do Estado da Cidade do Vaticano. Este último "é um instrumento
para a independência da Santa Sé que, por sua vez, tem uma natureza e uma identidade
próprias, sui generis, enquanto representação do governo central da Igreja".
O sujeito de Direito Internacional é a Santa Sé. As relações e acordos diplomáticos
(concordatas) com outros Estados soberanos, portanto, são estabelecidos com ela e
não com o Vaticano, que é um território sobre o qual a Santa Sé tem soberania. Com
poucas exceções _ como a China e a Coréia do Norte _ a Santa Sé possui representações
diplomáticas (nunciaturas) em quase todos os países do mundo. (JD/CM/AF)