BENTO XVI: CONFLITOS PELA SUPREMACIA DIFICULTAM MISSÃO DOS QUE TRABALHAM PARA CONSTRUIR
MUNDO JUSTO E SOLIDÁRIO
Cidade do Vaticano, 06 jan (RV) - A Igreja celebra neste domingo, 6 de janeiro,
Dia de Reis, a Epifania do Senhor. Bento XVI presidiu à celebração eucarística na
Basílica de São Pedro e, a seguir, rezou a oração mariana do Angelus, com os fiéis
e peregrinos reunidos na Praça São Pedro, apesar da inclemência do tempo em Roma e
em toda a Itália.
O termo grego Epifania, traduzido por "manifestação", significa
a chegada ou o advento de um rei ou um imperador, e a aparição de um deus ou uma intervenção
milagrosa. É São Paulo quem consagra o uso cristão da palavra, aplicando-a, a Jesus
e ao mistério salvífico revelado: "Essa graça, que nos foi dada em Cristo Jesus, antes
dos tempos eternos, foi manifestada agora pela Aparição de nosso Salvador, o Cristo
Jesus" _ diz em sua segunda carta a Timóteo. "A graça de Deus se manifestou para a
salvação de todos os homens. Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas,
e a viver neste mundo com autodomínio, justiça e piedade" _ acrescenta São Paulo.
Liturgicamente,
a Epifania prolonga o tempo do Natal, aprofundando seu Mistério. Enquanto a solenidade
de 25 de dezembro celebra a Encarnação do Verbo, a solenidade de 6 de janeiro (no
Brasil, no domingo entre os dias 2 e 8 de janeiro) sublinha as manifestações terrenas
que testemunham ser Ele o Verbo eterno do Pai. Trata-se de uma solenidade que tem
matriz oriental, ligada à Vinda do Redentor, antes mesmo de Roma instituir a festa
do Natal.
Em sua homilia na celebração desta manhã, o pontífice sublinhou que
embora a estrela que guiou os Reis Magos fosse vista por todos, nem todos compreendiam
o seu sentido. Da mesma forma _ sublinhou _ embora o Salvador tenha nascido para todos,
nem todos O acolheram.
"A chegada dos Reis Magos do Oriente a Belém, para adorar
o Messias recém-nascido _ destacou o papa _ é o sinal da manifestação do Rei universal
aos povos e a todos os homens que buscam a verdade. É o início do movimento oposto
ao de Babel: de fato, se passa da confusão à compreensão, da dispersão à reconciliação."
Referindo-se
ao "mistério" de que São Paulo fala em suas cartas, o papa sublinhou: "Este "mistério"
da fidelidade de Deus constitui a esperança da história. É claro que esse mistério
é cercado de obstáculos, ou seja, por pressões de divisões e pela prepotência, que
laceram a humanidade, em virtude do pecado e do conflito dos egoísmos. A Igreja, na
história, está a serviço desse "mistério" de bênção para toda a humanidade. Nesse
mistério da fidelidade de Deus, a Igreja realiza plenamente sua missão somente quando
reflete, em si mesma, a luz de Cristo Senhor e, assim ajuda os povos do mundo, no
caminho da paz e do autêntico progresso."
Comentando as palavras do profeta
Isaías sobre as dificuldades que pairam ainda sobre as nações, apesar da vinda do
Messias, Bento XVI advertiu: "Não se pode dizer, de fato, que a globalização seja
sinônimo de ordem mundial, ao contrário! Os conflitos pela supremacia econômica e
pela obtenção de recursos energéticos, hídricos e de matéria-prima tornam difícil
o trabalho daqueles que, em todos os níveis, se esforçam para construir um mundo justo
e solidário. É necessária uma esperança maior, que permita preferir o bem comum de
todos ao invés do luxo de poucos e da miséria de muitos. E esta grande esperança só
pode ser Deus... não um deus qualquer, mas aquele Deus que tem feições humanas."
Concluindo
sua homilia nesta solenidade da Epifania, o Santo Padre ressaltou: "É claro para todos,
a este ponto, que somente adotando um estilo de vida0 sóbrio, acompanhado de um sério
empenho por uma équa distribuição das riquezas, será possível instaurar uma ordem
de desenvolvimento justo e sustentável. Por isso, necessitamos de homens que nutram
uma grande esperança e, por isso mesmo, tenham grande coragem. A coragem dos Reis
Magos que, seguindo uma estrela, empreenderam uma longa viagem, para ajoelhar-se aos
pés de um Menino e oferecer-lhe seus dons preciosos. Temos todos, necessidade dessa
coragem, ancorada a uma sólida esperança."
"Que Maria nos ajude a obter essa
esperança e essa coragem, acompanhando-nos em nossa peregrinação terrena, com sua
proteção materna" _ concluiu o pontífice. (AF)