Nairóbi, 02 jan (RV) - "A Igreja Católica no Quênia está muito amedrontada
e preocupada, e teme uma catástrofe humanitária" _ disse o porta-voz da Conferência
Episcopal, Pe. Martin Wanyoike, em declarações ao SIR - Serviço de Informação Religiosa,
da Conferência Episcopal Italiana.
Até agora, são 316 as vítimas fatais e
70 mil os desabrigados. Entre os mortos, estão as cerca de 50 pessoas que morreram,
no primeiro dia do ano, no interior de uma igreja da Assembléia de Deus, incendiada
por grupos manifestantes, em Eldoret.
Os atos violentos, que tomam rumos de
um conflito étnico, iniciaram-se no país, após o resultado das eleições presidenciais
da última quinta-feira, marcadas pela disputa entre dois candidatos de etnias distintas.
O líder da oposição queniana, que se encontrava à frente nas pesquisas eleitorais,
Raila Odinga, contesta o resultado do pleito, que reelegeu o presidente Mwai Kibaki.
A própria Comissão Eleitoral expressou dúvidas quanto aos resultados da votação. As
últimas informações são de que situação e oposição trocam acusações recíprocas de
estarem colocando em ato uma "limpeza étnica".
A Comissão Episcopal Queniana
promove, nesta quarta-feira, um apelo pela paz e a reconciliação. Pe. Martin informa
que a situação é dramática: "Muitas pessoas estão refugiadas perto dos comissariados
de polícia e nas paróquias. Acabei de receber um telefonema _ descreve o porta-voz
dos bispos quenianos _ de uma paróquia que teve de alojar e dar de comer a milhares
de pessoas. Dizem-nos que não há comida, que não se encontram os gêneros de primeira
necessidade nas lojas, nem combustível (...), as linhas telefônicas não funcionam
bem, e as estradas estão bloqueadas."
"Não queremos repetir a experiência de
Ruanda" _ afirma Pe. Martin, referindo-se ao conflito étnico ocorrido nos anos 90,
na região dos Grandes Lagos.
A comunidade internacional também demonstra preocupação
com a situação. O chefe da missão de observação da União Européia, Alexander Lambsdorff,
considerou indispensável a abertura de "um inquérito imparcial sobre a exatidão das
presidenciais".
Enquanto isso, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon,
lamentou o número de mortes e pediu contenção às forças de segurança. Além disso,
o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, propôs a Kibaki e a Odinga _ os concorrentes
ao pleito eleitoral _ que considerem a hipótese de formar um Governo de Unidade Nacional.
(EP/AF)