2007-12-28 15:11:51

Paquistão, uma nação abalada pela violência; a morte de Benazir Bhutto coloca a paz mais distante


(28/12/2007) A principal líder da oposição paquistanesa e ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, de 54 anos de idade, faleceu nesta quinta feira depois de ser atingida a tiro no pescoço, segundo fontes policiais, na altura em que se preparava para abandonar o local do comício, um parque, na cidade de Rawalpindi.
A líder do Partido Popular do Paquistão (PPP) ainda foi levada para o hospital e, em vão, submetida a uma intervenção cirúrgica. Acabaria por morrer, vítima dos ferimentos. O autor do disparo, um homem não identificado, fez-se explodir em seguida, tirando a vida a pelo menos mais 20 pessoas, deixando feridas outras 56.
O director da Sala de Imprensa da Santa Sè Pe. Federico Lombardi, disse que “este ataque mostra como é extremamente difícil pacificar uma nação tão abalada pela violência", acrescentando que a morte de Bhutto "faz com que a paz fique mais distante".
"Partilhamos da tristeza da população paquistanesa", disse ainda o Pe. Lombardi, sublinhando que Bento XVI foi “imediatamente informado” do atentado.
O actual Chefe do Estado paquistanês, Pervez Musharraf, a quem Benazir criticava abertamente, sem receios, tal como fazia com os islamitas, declarou três dias de luto nacional em memória da sua opositora. Na intervenção televisiva que fez Musharraf apelou à paz no Paquistão.

Não deixou, porém, claro, se as legislativas poderão ser adiadas ou se o estado de emergência que impôs entre 3 de Novembro e 15 de Dezembro poderá regressar ao país. Ao longo das oito semanas em que vigorou, Benazir pediu, várias vezes, que Musharraf abandonasse o poder.

 
A morte de Benazir Bhutto torna o Paquistão muito mais instável. A rede terrorista ligada à Al-Qaeda mostra notável eficácia, a ponto de impedir uma solução política para a crise em que o país se continua a afundar. Além disso, a líder do Partido do Povo Paquistanês (PPP) foi assassinada em Rawalpindi, no centro do poder militar nacional.

O Ocidente tem fortes razões para preocupação. A estratégia ocidental passava pela contenção dos grupos fundamentalistas e pela estabilização de um sistema democrático. A aliança entre Benazir e o Presidente Musharraf, concebida antes do regresso de Benazir do exílio, em Outubro, foi apoiada pelos EUA e era o pilar central dessa estratégia.

O acordo de partilha de poder tinha diversas vantagens: fornecia um mínimo de estabilidade e facilitava a transição da ditadura militar para a democracia: Musharraf teria de largar a farda e organizar eleições livres. Nos últimos meses, houve comportamentos contraditórios, foi decretado o estado de emergência durante oito semanas, mas alcançar a meta parecia possível.

Benazir era alvo prioritário para a Al-Qaeda e os talibãs e as autoridades paquistanesas não a protegeram. Todos os analistas afirmam que as forças de segurança, sobretudo os poderosos serviços de informação (ISI), estão infiltrados por radicais.

Musharraf tem agora nas mãos um país ainda mais perigoso. O seu partido, Liga Muçulmana do Paquistão, surge nas sondagens com 23% de intenções de voto. No que respeita à distribuição do poder, o Presidente parece ter a faca e o queijo na mão, estando à beira de vencer as legislativas.

No entanto, depois deste assassinato, qualquer vitória sua será manchada por uma sombra de ilegitimidade. Musharraf abandonou a chefia do exército (Estado dentro do Estado), que entregou a um fiel adjunto, mas a paciência dos militares é uma incógnita adicional na equação.

Num único golpe, o partido de Benazir foi decapitado e tem duas saídas possíveis: boicotar as eleições (o que a sua líder nunca quis) ou seguir com a estratégia inicial e apoiar Musharraf, se conseguir vencer a votação.
Se os partidos democráticos ficarem fora do Governo e o Presidente for incapaz de estabelecer a sua legitimidade, os únicos vencedores serão os islamitas. Fortes nas regiões tribais e nas zonas de maioria Pastune ou Baluche, têm laços tribais e políticos com os talibãs afegãos.

Para além dos islamitas , os maiores beneficiários deste assassinato político são os extremistas ligados ao terrorismo islâmico. Foi nestes meios ultra-radicais que nasceu e cresceu a Al-Qaeda, com a cumplicidade dos serviços de informação paquistaneses, os secretos vencedores.








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