Cidade do Vaticano, 25 dez (RV) – Publicamos na íntegra, a mensagem "urbi et
orbi" de Bento XVI, no dia de Natal...
"Santo é o dia que nos trouxe a luz.
Vinde e adorai o Senhor! Hoje uma grande luz desceu sobre a Terra!"
Caros irmãos
e irmãs!
"Santo é o dia que nos trouxe a luz". Um dia de grande esperança:
nasceu hoje o Salvador da humanidade! O nascimento de uma criança traz normalmente
uma luz de esperança para os que ansiosamente a esperam. Quando Jesus nasceu na gruta
de Belém, "uma grande luz" apareceu sobre a terra; uma grande esperança entrou no
coração dos que O esperavam: "lux magna", canta a liturgia deste dia de Natal. Não
foi certamente "grande" como o mundo pensa, pois os primeiros a vê-la foram só Maria,
José e alguns pastores, depois os Magos, o velho Simeão, a profetiza Ana: os que Deus
tinha escolhido. No entanto, na humildade e no silêncio daquela noite santa, acendeu-se
para cada homem uma luz esplêndida e inextinguível; chegou ao mundo a grande esperança
portadora de felicidade: "O Verbo fez-Se carne e [...] nós vimos a sua glória" (Jo
1,14).
"Deus é luz - afirma S. João - e n"Ele não há trevas" (1 Jo 1,5). No
Livro do Gênesis, lemos que, quando teve início o universo, "a terra era informe e
vazia. As trevas cobriam o abismo". "Deus disse: "Faça-se a luz!". E a luz foi feita"
(Gn 1,2-3). A Palavra criadora de Deus - Dabar em hebraico, Verbum em latim, Logos
em grego - é Luz, fonte da vida. Tudo foi feito por meio do Logos e sem Ele nada foi
feito de tudo quanto existe (cf. Jo 1,3). Eis porque todas as criaturas no fundo são
boas, e trazem em si o vestígio de Deus, uma centelha da sua luz. Porém, quando Jesus
nasceu da Virgem Maria, a mesma Luz veio ao mundo: "Deus de Deus, Luz da Luz", professamos
no Credo. Em Jesus, Deus assumiu o que não era permanecendo aquilo que era: "a omnipotência
entrou num corpo infantil e não se privou do governo do universo" (cf. S. Agostinho,
Serm. 184, 1 sobre o Natal). Fez-Se homem Aquele que é o criador do homem para trazer
paz ao mundo. Por isso, na noite de Natal, cantam os exércitos do Anjos: "Glória a
Deus nas alturas e paz na terra aos homens do Seu agrado" (Lc 2,14).
"Hoje
uma grande luz desceu sobre a Terra". A Luz de Cristo é portadora de paz. Na Missa
da Meia Noite a liturgia eucarística iniciou precisamente com este canto: "Hoje desceu
do Céu sobre nós a verdadeira paz" (Antífona de Entrada). Mais ainda, só a "grande"
luz vinda de Cristo pode dar aos homens a "verdadeira" paz: eis porque cada geração
é chamada a acolhê-la, a acolher a Deus que em Belém Se fez um de nós.
Isto
é o Natal! Acontecimento histórico e mistério de amor que, há mais de dois mil anos,
interpela os homens e as mulheres de cada época e lugar. É o dia santo em que brilha
a "grande luz" de Cristo portadora de paz! Certamente, para reconhecê-la, para acolhê-la,
é preciso fé, é preciso humildade. A humildade de Maria, que acreditou na palavra
do Senhor e foi a primeira que, inclinada sobre a manjedoura, adorou o Fruto do seu
ventre; a humildade de José, homem justo, que teve a coragem da fé e preferiu obedecer
a Deus mais que preservar a própria reputação; a humildade dos pastores, dos pobres
e anónimos pastores, que acolheram o anúncio do mensageiro celeste e à pressa foram
à gruta onde encontraram o Menino recém-nascido e, cheios de maravilha, O adoraram
louvando a Deus (cf. Lc 2,15-20). Os pequenos, os pobres em espírito: eis os protagonistas
do Natal, ontem como hoje; os protagonistas de sempre da história de Deus, os construtores
incansáveis do seu Reino de justiça, de amor e de paz.
No silêncio da noite
de Belém, Jesus nasceu e foi acolhido por mãos carinhosas. E agora, neste nosso Natal
em que continua a ressoar o feliz anúncio do seu nascimento redentor, quem está preparado
para Lhe abrir a porta do coração? Homens e mulheres deste nosso tempo, Cristo vem
trazer a luz também a nós, vem dar-nos a paz também a nós! Mas quem vigia, na noite
da dúvida e da incerteza, com o coração desperto e em oração? Quem espera a aurora
do novo dia, mantendo acesa a chamazinha da fé? Quem tem tempo para escutar a sua
palavra e deixar-se envolver pelo fascínio do seu amor? Sim! É para todos a sua mensagem
de paz; é a todos que vem oferecer-Se a Si próprio como esperança certa de salvação.
A
luz de Cristo, que vem iluminar cada ser humano, possa finalmente brilhar, e sirva
de consolação especialmente para os que vivem nas trevas da miséria, da injustiça,
da guerra; para os que ainda se vêem negada à legítima aspiração a uma mais garantida
sustentação, à saúde, à instrução, a uma ocupação estável, a uma maior participação
nas responsabilidades civis e políticas, livres de qualquer opressão e ao abrigo de
condições que ofendem a dignidade humana. Vítimas de conflitos armados sangrentos,
do terrorismo e de violências de todo tipo, que acarretam incríveis sofrimentos a
inúmeras populações, são de modo particular as faixas mais vulneráveis, as crianças,
as mulheres, os anciãos. Enquanto que as tensões étnicas, religiosas e políticas,
a instabilidade, a rivalidade, as contraposições, as injustiças e as discriminações,
que dilaceram o tecido interno de muitos Países, exacerbam as relações internacionais.
E no mundo cresce sempre mais o número dos imigrantes, dos refugiados, dos desamparados,
devido também às freqüentes calamidades naturais, causadas não raro pelos preocupantes
desastres ambientais.
Neste dia de paz, o pensamento se dirige sobretudo ali
onde ressoa o fragor das armas: às martirizadas terras do Darfur, da Somália e do
norte da República do Congo, às fronteiras da Eritreia e da Etiópia, a todo o Oriente
Médio, nomeadamente ao Iraque, ao Líbano e à Terra Santa, ao Afeganistão, ao Paquistão
e ao Sri Lanka, à região dos Bálcãs, e às outras muitas regiões em crise, infelizmente
muitas vezes esquecidas. O Menino Jesus traga alivio a quem passa pela provação e
infunda aos responsáveis de governo a sabedoria e a coragem de procurar e encontrar
soluções humanas, justas e duradouras. À sede de sentido e de valor que anela o mundo
de hoje, à procura de bem-estar e de paz que aspira a vida de toda a humanidade,
às expectativas dos pobres Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, responde com
o seu Natal. Não tenham medo os indivíduos e as nações de reconhecê-Lo e de acolhê-Lo:
com Ele "uma esplêndida luz" ilumina o horizonte da humanidade; com Ele abre-se um
"dia santo" que não conhece ocaso. Este Natal seja verdadeiramente para todos um dia
de alegria, de esperança e de paz!
"Vinde e adorai o Senhor!". À sede de sentido
e de valor que hoje o mundo experimenta; à procura de bem-estar e de paz que caracteriza
a vida de toda a humanidade; às expectativas dos pobres, Cristo, verdadeiro Deus e
verdadeiro Homem, responde com o seu Natal. Não temam os indivíduos e as nações reconhecê-Lo
e acolhê-Lo: com Ele, "uma esplêndida luz" ilumina o horizonte da humanidade; com
Ele, abre-se "um dia santo" que não conhece ocaso. Este Natal seja verdadeiramente
para todos um dia de alegria, de esperança e de paz!
Com Maria, José e os pastores,
com os magos e a multidão inumerável de humildes adoradores do Menino recém-nascido
que, ao longo dos séculos, acolheram o mistério do Natal, também nós, irmãos e irmãs
de cada continente, deixemos que a luz deste dia se propague em o todo lugar; entre
nos nossos corações, ilumine e aqueça as nossas casas, traga serenidade e esperança
às nossas cidades, dê paz ao mundo. Estes são os meus votos para vós que me escutais.
Votos que se fazem prece humilde e confiante ao Menino Jesus, a fim de que a sua luz
dissipe todas as trevas da vossa vida e vos encha do amor e da paz. O Senhor, que
fez resplandecer em Cristo a sua face misericordiosa, vos sacie da sua felicidade
e vos torne mensageiros da sua bondade. Feliz Natal!"