Congregação para a Doutrina da Fé publica “Nota doutrinal sobre alguns aspectos da
evangelização”; condena relativismo e nega acusações de "proselitismo"
(14/12/2007) O documento, assinado por Bento XVI a 3 de Dezembro, festa de São Francisco
Xavier, grande missionário da época moderna, convida os cristãos a um anúncio convicto
do Evangelho, comunicando aos outros, sem timidez nem respeitos humanos, as razões
da própria esperança e alegria da fé em Cristo salvador.
A Nota enfrenta o
tema da compreensão católica e cristã do nosso crer em Jesus Cristo, o tema da evangelização.
Deseja-se ajudar a redescobrir a missão e motivar de novo a urgência e necessidade
da evangelização de todos os povos. O magistério pontifício tem repetidamente recordado
que, após dois mil anos de cristianismo, a missio ad gentes se encontra ainda nos
seus inícios. A Igreja está chamada à sua tarefa primordial: anunciar a toda a humanidade
a boa nova da salvação em Cristo. Dizia São Paulo: “Pregar o Evangelho é para mim
um dever. Ai de mim se não evangelizasse!”
A este propósito existem por vezes
mal-entendidos, como a ideia de que a evangelização fosse um limite colocado à liberdade
dos outros. Há quem considere que os próprios missionários se deveriam limitar a testemunhar
a sua fé e a exercer uma actividade de promoção humana, sem convidar directamente
à conversão e ao baptismo. Ora já em 1990, na Encíclica “Redemptoris missio”,
João Paulo II falava da urgência do anúncio de Cristo como salvador de toda a humanidade
e da necessidade da Igreja como sacramento universal de salvação. No ano 2000, a Congregação
para a Doutrina da Fé, na Declaração “Dominus Jesus”, sublinhava os esrros da teologia
pluralista das religiões, reafirmando a universalidade da revelação cristã, a unicidade
e a universalidade salvífica do mistério da incarnação e a universalidade salvífica
da Igreja.
A Nota Doutrinal agora publicada enfrenta a questão de um tríplice
ponto de vista: antropológico, eclesiológico e ecuménico. No primeiro aspecto, sublinha
três conceitos: a liberdade de cada pessoa nas suas opções religiosas; a sua capacidade
de procurar e acolher livremente o bem e a verdade; e o seu direito a partilhar com
outros os próprios bens espirituais. A plena adesão a Cristo e à sua verdade não diminui
mas exalta a liberdade humana, orientando-a para o seu pleno cumprimento.
No
aspecto eclesiológico, faz-se notar que desde os inícios a Igreja sempre foi chamada
por Jesus à conversão, chamando depois por sua vez as pessoas à conversão ao Evangelho,
como expressão da vida nova em Cristo. A incorporação da Igreja não a extensão de
um grupo de poder, mas a entrada livre na rede de amizade com Cristo. Trata-se de
um dom de comunhão na caridade. O dilatar-se da Igreja na história mais não é do que
um serviço à presença de Deus na história e um instrumento de autêntica humanização
do homem e do mundo. Quem anuncia o Evangelho torna-se embaixador de Cristo, da sua
verdade e salvação.
Finalmente, do ponto ecuménico, a Nota Doutrinal agora
publicada procura esclarecer um equívoco relativo à acusação de “proselitismo” da
parte dos católicos em alguns países de maioria ortodoxa. Nas regiões onde os católicos
são maioria, vigora uma grande liberdade de culto e de acção para os cristãos não-católicos.
Muitas assim não sucede no caso oposto. A Nota reafirma a urgência e o respeito da
liberdade religiosa de cada pessoa humana, também para quem quer aceder à Igreja católica.
Afirma o texto: “se um cristão não católico, por razões de consciência e convicto
da verdade católica, pede para entrar na plena comunhão da Igreja Católica, há que
respeitar tal passo como obra do Espírito Santo e como expressão da liberdade de consciência
e de religião” (fim de citação). Não se trata portanto de proselitismo mas de respeito
pela dignidade da pessoa e de respeito pelas suas opções religiosas. Nada se impõe
pela força, mas na total gratuidade da partilha de um dom.