Cimeira de Lisboa, EU-Africa, deve falar de Direitos Humanos, pede o Bispo auxiliar
de Cartum
(6/12/2007) O Bispo auxiliar de Cartum, D. Daniel Adwok, defende que a questão dos
Direitos Humanos em África deve estar na agenda da cimeira UE-África, a realizar este
fim-de-semana em Lisboa. Em declarações ao Programa ECCLESIA, este responsável
sudanês falou na necessidade de não discutir apenas um "desenvolvimento mecânico"
para o continente africano, centrado em aspectos económicos, mas propor um desenvolvimento
integral e humano. "A minha esperança é que se olhe, em primeiro lugar, para o
desenvolvimento de toda a pessoa, para os Direitos Humanos e a dignidade humana em
todos os países e, como é lógico, no meu país, o Sudão", referiu. D. Adwok criticou
duramente o governo sudanês e espera que o mesmo seja questionado em relação ao que
se passa no Sudão, em especial na região do Darfur e no Sul, palcos de guerra no país.
"É preciso saber se as partes estão realmente a negociar, porque seria um desperdício
de energias falar de desenvolvimento económico para o Sudão enquanto o seu povo geme
na opressão, gritando por liberdade e segurança", apontou. Neste contexto, questionou
como pode ser possível "desenvolver realmente um país sem o seu povo". Por isso, o
desenvolvimento proposto ao Sudão deve ser "um desenvolvimento com um rosto humano".
"Primeiro, a paz e a segurança devem ser garantidas, também para o Sul agora que
o acordo de paz enfrenta dificuldades de aplicação", afirmou.
O Sudão é hoje
o maior país da África e está em guerra civil há várias décadas. O conflito entre
o governo islâmico e guerrilheiros não-muçulmanos, no Sul e no Oeste, revela as realidades
culturais opostas da Nação. O genocídio contra a população negra da região ocidental
do Darfur é, neste momento, a maior crise humanitária da actualidade. Assassinatos,
violações e tortura marcam o dia-a-dia dos Fur, tribo sedentária dominante no sudoeste
sudanês. Tropas de Cartum, voluntários da Líbia e do Irão foram mobilizados em 2003
para o Darfur (em árabe, "terra dos Fur"), dando início ao massacre: pelo menos 200
mil mortos, havendo mesmo quem fale em meio milhão de vítimas. As povoações estão
completamente desertas, com as populações a amontoarem-se nos acampamentos, onde trabalham
cerca de 14 mil voluntários de organizações internacionais. Apesar da protecção
da ONU estes acampamentos são atacados pelos mercenários árabes ao serviço do governo
sudanês. Registam-se constantemente casos de assassinatos e violações e calcula-se
que pelo menos 2,5 milhões tenham sido obrigadas a deixar as suas casas e a procurar
refúgio em campos onde estão totalmente dependentes das Nações Unidas e organizações
humanitárias. Todos os dias morrem pessoas, a maior parte das quais crianças.
O conflito internacionalizou-se, passou as fronteiras do Sudão, para o Chade e República
Centro-Africana, onde as populações negras do Darfur procuravam fugir ao conflito.