GRANDEZA DO CRISTÃO ESTÁ NO SERVIR, NÃO NO DOMINAR: ENFATIZA BENTO XVI AO CRIAR 23
NOVOS CARDEAIS
Cidade do Vaticano, 24 nov (RV) - Todo verdadeiro discípulo de Jesus partilhe
a Sua paixão, sem reivindicar nenhuma recompensa: foi a exortação dirigida por Bento
XVI aos 23 novos cardeais, 18 dos quais eleitores, criados pelo papa no Consistório
celebrado esta manhã na Basílica vaticana. Ressaltamos que entre eles encontrava-se
o Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer.
Uma cerimônia emocionante,
como o disse o próprio Santo Padre, porque expressa de modo eloqüente a unidade dos
cardeais em torno do Sucessor de Pedro. O discurso do Santo Padre precedeu o momento
solene da entrega do chapéu cardinalício aos 23 purpurados.
Uma "ocasião providencial"
para oferecer "à cidade de Roma e ao mundo inteiro, o testemunho daquela unidade singular
que une os cardeais em torno do papa": assim, Bento XVI sintetizou o valor extraordinário
do Consistório de hoje para a criação de 23 novos cardeais. Um "eloqüente sinal de
unidade católica" _ disse _ que suscita "toda vez uma emoção especial".
Em
seguida, o pontífice comentou a passagem do Evangelho de Lucas na qual os discípulos
manifestam uma ambição carreirista ao reivindicar para si mesmos os melhores lugares
no reino messiânico.
Jesus _ advertiu Bento XVI _ corrige a "concepção distorcida
do mérito, por eles manifestada", segundo a qual "o homem pode adquirir direitos diante
de Deus". Uma advertência mais do que nunca atual:
"O evangelista Marcos nos
recorda, caros e venerados Irmãos, que todo verdadeiro discípulo de Cristo pode aspirar
a uma só coisa _ frisou o papa: a partilhar a Sua paixão, sem reivindicar nenhuma
recompensa. O cristão é chamado a assumir a condição de 'servo' seguindo as pegadas
de Jesus, isto é, vivendo a sua vida pelos outros de modo gratuito e desinteressado.
Aquilo que deve caracterizar todo nosso gesto e toda nossa palavra não é a busca do
poder e do sucesso, mas a humilde doação de si para o bem da Igreja. De fato, a verdadeira
grandeza cristã não consiste em dominar, mas no servir."
"Eis o ideal que deve
orientar o nosso serviço", disse o pontífice, ressaltando que o Senhor pede e confia
aos novos purpurados "o serviço do amor" até a efusão do sangue:
"Amor por
Deus, amor pela Sua Igreja, amor pelos irmãos com uma dedicação máxima e incondicionada,
usque ad sanguinis effusionem, como cita a fórmula para a imposição do chapéu
cardinalício e como indica a cor púrpura das vestes que os senhores usam."
A
cerimônia de hoje _ constatou _ ressalta a grande responsabilidade que pesa sobre
os cardeais, chamados por Cristo a "confessar diante dos homens a Sua verdade, a abraçar
e partilhar a Sua causa".
Um anúncio _ foi a sua exortação _ a ser feito "com
doçura e respeito, com uma reta consciência", isto é, "com aquela humildade interior
que é fruto da cooperação com a graça de Deus". É _ advertiu o papa _ uma responsabilidade
acompanhada de risco, mas como recorda São Pedro, "é melhor padecer, se Deus assim
o quiser, por fazer o bem do que por fazer o mal" (1 Pd 3, 17).
Bento
XVI deteve-se sobre o papel do Sacro Colégio dos cardeais, no qual _ explicou _ revive
o antigo presbyterium do Bispo de Roma, cujos componentes, "ao tempo em que
desempenhavam funções pastorais e litúrgicas nas várias igrejas, não lhe deixavam
faltar a sua preciosa colaboração" no cumprimento "das tarefas ligadas a seu ministério
apostólico universal":
"Os tempos mudaram e a grande família dos discípulos
de Cristo está hoje espalhada em todos os continentes até os extremos confins da terra,
fala praticamente todas as línguas do mundo e a ela pertencem povos de todas as culturas.
A diversidade dos membros do Colégio cardinalício, tanto por proveniência geográfica
quanto cultural, ressalta esse crescimento providencial e evidencia, ao mesmo tempo,
as novas exigências pastorais às quais o papa deve responder" _ frisou Bento XVI.
A
universalidade, a catolicidade _ reiterou _ "se reflete, portanto, na composição do
Colégio dos cardeais". Cada um dos senhores _ disse o pontífice _ representa uma "porção
do articulado Corpo místico de Cristo que é a Igreja espalhada em todos os lugares".
Em seguida, o Santo Padre dirigiu um pensamento especial às comunidades cristãs "mais
provadas pelo sofrimento, pelos desafios e dificuldades de diversos tipos".
"Entre
essas, como não voltar o olhar com apreensão e afeto, neste momento de alegria, para
as caras comunidades cristãs que se encontram no Iraque? Esses nossos irmãos e irmãs
na fé experimentam na própria carne as conseqüências dramáticas de um perdurante conflito,
e vivem no presente numa mais do que nunca frágil e delicada situação política. Chamando
a entrar no Colégio cardinalício o patriarca da Igreja caldéia, quis expressar de
modo concreto _ ressaltou o Santo Padre _ a minha proximidade espiritual e o meu afeto
por aquelas populações."
Assim, o papa reafirmou "a solidariedade de toda a
Igreja para com os cristãos" da "amada terra" iraquiana, invocando de Deus misericordioso,
"para todos os povos envolvidos, o advento da desejada reconciliação e da paz". Uma
proximidade à Igreja iraquiana expressa com veemência também pelo prefeito da Congregação
para as Igrejas Orientais, o novo Cardeal Leonardo Sandri, que dirigiu uma saudação
ao papa em nome dos novos purpurados. Uma saudação na qual o Cardeal Sandri ressaltou
a fidelidade ao Sucessor de Pedro:
"Desejamos permanecer com o papa tanto quando
se faz servidor da verdade e proclama o primado de Deus, como quando conduz a Igreja
na renovação que nasce da fidelidade à tradição; como quando invoca a paz, indicando
a grande força da oração e do diálogo; como quando promove a unidade dos cristãos
e o respeito a todas as religiões e as culturas na recíproca exclusão de todo tipo
de violência."
Por fim, Bento XVI recordou que amanhã, sempre na Basílica vaticana,
celebrará a Missa com os novos purpurados, aos quais entregará o anel cardinalício.
"Uma ocasião mais do que nunca oportuna _ foi seu auspício _ para reafirmar a nossa
unidade em Cristo e para renovar a vontade comum de servi-Lo com toda generosidade."
Esta
tarde, das 16h30 às 18h30 locais, realizaram-se, no Vaticano, as tradicionais visitas
de cortesia aos novos cardeais. (RL)
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