Expressão da catolicidade da Igreja o colégio cardinalício: Bento XVI no consistório
deste sábado, em que recordou os sofrimentos dos cristãos do Iraque
(24/11/2007) Teve lugar na manhã deste sábado o segundo consistório público ordinário
do pontificado de Bento XVI, no qual foram criados 23 novos Cardeais. As cerimónias,
na Basílica de São Pedro, seguiram o rito introduzido por João Paulo II a 28 de Junho
de 1991. Após um breve momento de oração, o Papa leu a fórmula de criação e proclamou
solenemente os nomes dos 23 Cardeais. Em seguida, o Cardeal Leonardo Sandri, primeiro
do elenco, pronunciou um discurso de homenagem a Bento XVI, em nome de todos, prometendo
ao Papa um apoio incondicional dos purpurados na defesa da vida humana, desde a sua
concepção até á morte natural. Com Vossa Santidade – disse - queremos servir a
causa do homem, estamos prontos a segui-lo quando reafirma que a pessoa sem Deus perde-se
a si mesma; quando, tornando-se defensor do homem, ensina que o matrimónio e a família
são a célula original da sociedade, que a vida deve ser defendida desde o primeiro
instante, que os direitos fundamentais de cada um, e em particular a liberdade religiosa,
devem ser respeitados e reivindicados ; quando defende a dignidade da pessoa humana
perante todas as opressões. Depois da proclamação do Evangelho Bento XVI proferiu
a sua homilia na qual deixou aos 23 novos Cardeais uma forte mensagem contra o "arrivismo"
ou o carreirismo dentro da Igreja, à qual se devem dedicar num "serviço de amor".
Na sua homilia, o Papa classificou esta celebração como “uma providencial ocasião
para oferecer urbi et orbi, à cidade de Roma e ao mundo inteiro, o testemunho
daquela singular unidade que liga profundamente os cardeais ao Papa, Bispo de Roma”.
“Com esta celebração, vós, caros Irmãos – declarou o Papa, dirigindo-se aos
novos purpurados - vós sois inseridos a pleno título na veneranda Igreja de Roma,
cujo Pastor é o Sucessor de Pedro”.
“No Colégio dos Cardeais revive assim
o antigo presbyterium do Bispo de Roma, cujos componentes, ao mesmo tempo que
desempenhavam funções pastorais e litúrgicas nas várias igrejas, não lhe faziam faltar
a sua preciosa colaboração no que dizia respeito ao cumprimento das tarefas ligadas
ao seu ministério apostólico universal. Os tempos mudaram e a grande família dos
discípulos de Cristo encontra-se hoje disseminada em todos os continentes, até aos
mais remotos confins da terra, fala praticamente todas as línguas do mundo e a ela
pertencem povos de todas as culturas. A diversidade dos membros do Colégio cardinalício,
tanto pela proveniência geográfica como cultural, põe em relevo este crescimento providencial
e evidencia ao mesmo tempo as novas exigências pastorais a que o Papa deve dar resposta.
A universalidade, a catolicidade da igreja bem se reflecte portanto na composição
do Colégio dos Cardeais”.
Observando que cada um dos novos cardeais “representa
uma porção do variegado Corpo místico de Cristo que é a Igreja espalhada por toda
a parte”, Bento XVI assegurou pensar com afecto nas “comunidades confiadas aos cuidados
pastorais” de cada um deles, “especialmente as que mais provadas são pelo sofrimento,
por desafios e dificuldades de diversas espécies”. E aqui o Papa, muito aplaudido,
evocou o Iraque e os grandes sofrimentos enfrentados pela sua população, nomeadamente
pelos cristãos:
“Como não dirigir o olhar com apreensão e afecto, neste momento
de alegria, às queridas comunidades cristãs que se encontram no Iraque? Estes nossos
irmãos e irmãs na fé experimentam na sua própria carne as dramáticas consequências
de um perdurante conflito e vivem presentemente numa situação política bem frágil
e delicada. Chamando a entrar no Colégio dos Cardeais o Patriarca da Igreja Caldeia
pretendi exprimir de modo concreto a minha proximidade espiritual e o meu afecto àquelas
populações. Queremos conjuntamente, queridos e venerados Irmãos, reafirmar a solidariedade
de toda a Igreja para com os cristãos daquela amada terra e convidar a invocar de
Deus misericordioso, para todos os povos envolvidos, o advento da desejada reconciliação
e da paz”.
Não faltou na homilia do Papa, um comentário ao Evangelho de São
Marcos, proclamado nesta celebração: o episódio em que os dois filhos de Zebedeu pedem
a Jesus que lhes sejam concedido os primeiros lugares no seu Reino. Isso depois de
os doze terem vindo a discutir pelo caminho qual deles era o mais importante e de
Jesus lhes ter recordado, pela terceira vez, aquilo que o aguardava em Jerusalém…
O evangelista Marcos recorda, assim, nesta passagem, que “todos os verdadeiros discípulos
de Cristo podem aspirar a uma só coisa: partilhar a sua paixão, sem reivindicar nenhuma
recompensa”.
“O cristão está chamado a assumir a sua condição de servo
segundo os passos de Jesus, isto é, gastando a sua vida a favor dos outros, de modo
gratuito e desinteressado. Não a busca do poder e do sucesso, mas o humilde dom de
si, para o bem da Igreja, deve caracterizar todos os nossos gestos e todas as nossas
palavras. De facto, a verdadeira grandeza cristã não consiste em dominar, mas sim
em servir. Jesus repete hoje a cada um de nós que não veio para ser servido, mas
sim para servir e dar a vida em resgate por muitos. Eis o ideal que deve orientar
o vosso serviço”.
Bento XVI concluiu convidando os cardeais a serem “apóstolos
de Deus que é amor e testemunhas da esperança evangélica”, pois que é isto – recordou
– o que deles espera o povo cristão.
Concluída a homilia teve
lugar a profissão de fé e o juramento dos novos Cardeais, de fidelidade e obediência
ao Papa e aos seus sucessores. Cada um deles aproxima-se do Papa e ajoelhou-se,
então, para receber o barrete cardinalício, que Bento XVI impôs pronunciando a fórmula
"vermelho como sinal da dignidade do cardinalato, significando que deveis estar prontos
a comportar-vos com fortaleza, até à efusão do sangue, pelo aumento da fé cristã,
pela paz e a tranquilidade do povo de Deus e pela liberdade e a difusão da Santa Igreja
Romana". Nesta altura, o Papa atribuiu a cada Cardeal uma igreja de Roma (título
ou diaconia), simbolizando a participação na solicitude pastoral do Papa na cidade,
e a bula de criação cardinalícia. Um abraço de paz selou este momento. O rito
conclui-se com a recitação do Pai-Nosso e a bênção final. Devido ás condições meteorológicas
instáveis a cerimónia decorreu dentro da Basílica, mas quatro ecrãs gigantes foram
colocados na Praça de São Pedro para permitir que os milhares de fiéis presentes no
Vaticano pudessem acompanhar a celebração. E a eles, Bentos XVI quis reservar
uma agradável surpresa; saiu da Basílica e do átrio saudou a multidão presente na
Praça de São Pedro, começando por motivar a decisão de efectuar a cerimonia dentro
da Basílica:” tínhamos medo que chovesse. Obrigado pela vossa presença e pela vossa
participação de oração neste passo importante da Igreja católica - acrescentou aplaudido
pela multidão. Depois recordou o facto de os cardeais representarem a inteira catolicidade
e universalidade da Igreja, além de todos os países e culturas do mundo.
Amanhã, Solenidade de Cristo Rei, os Cardeais celebram com Bento XVI na Basílica de
São Pedro, onde terá lugar a entrega do anel cardinalício, antecedida pela fórmula
"recebe o anel da mão de Pedro, sinal de dignidade, de solicitude pastoral e de mais
sólida comunhão com a Sede de Pedro".