Dedicação, fidelidade,acção pastoral renovada: o empenho assumido pelo Presidente
da Conferencia Episcopal Portuguesa no discurso de saudação ao Papa.
Santidade: A nossa
peregrinação a Roma experimenta neste momento a comum declaração da mais sincera comunhão
cum Petro e sub Petro. Fazemo-lo na corresponsabilidade de quem pretende
gastar as suas energias para que a Igreja siga um itinerário de espiritualidade de
comunhão e seja no mundo uma verdadeira «casa e escola de comunhão» (N.M.I., 43).
Com a Exortação Apostólica do saudoso Papa João Paulo II, Pastores Gregis,
queremos assegurar a vontade de nos tornarmos Bispos «servidores do Evangelho de Jesus
Cristo para a esperança do mundo». Trata-se dum programa pessoal que colocamos nos
nossos propósitos e intenções.
1 - O anúncio feito por Vossa Santidade da
vivência dum «Ano Paulino», coloca-nos numa atitude colegial de discernir conteúdos
numa sintonia plena com as orientações que nos poderão ser sugeridas. Este Ano Paulino
vem dar maior consistência ao Programa que a Conferência Episcopal delineou para o
triénio actual. O Povo Português continua, na sua grande maioria, a afirmar-se católico
embora reconheçamos que os ventos do relativismo e indiferentismo exercem uma grande
pressão, provocando atitudes e opções ambíguas e, em alguns casos, contraditórias.
Nem sempre a fé significa uma opção pessoal por Cristo e as tradições ocupam um espaço
gerador duma religiosidade que pode não ter consistência. A Paixão de S. Paulo
pela causa do Evangelho e a itinerância das suas viagens apostólicas irão conduzir-nos
às páginas mais belas dum Povo que penetrou nos mares desconhecidos, norteado pela
aventura de dilatar a «fé e o império». Procuraremos ser fiéis à nossa história. Nesta
sociedade, maioritariamente católica, aceitamos com esperança a assinatura da Concordata
entre a Santa Sé e o Governo Português. No princípio da separação, procuramos intuir
caminhos novos de cooperação como serviço ao Povo Português e na perspectiva do bem
comum. Pequenos grupos, imbuídos dum espírito laicista, têm pretendido suscitar possíveis
conflitos. Pretendemos dialogar para que a igualdade de direitos não seja capaz de
abafar a proporcionalidade. Gostaríamos de, sempre e em tudo, mostrar a originalidade
e diferença cristãs para, através do testemunho, propor Cristo como sentido de vida
e recusar o estatuto de privilégio ou atitudes de mero proselitismo que destroem a
consciência individual. Reconhecendo a necessidade duma profunda evangelização dos
cristãos, sabemos que devemos partir ao encontro de mundos que progressivamente se
afastam, talvez não de Cristo (embora o digam!), mas da Igreja. No mundo e sem ser
do mundo, queremos seguir quanto Vossa Santidade tem proclamado em variadíssimas ocasiões:
«Cristo não se impõe; propõe-se». «Ele nada tira, mas dá tudo».
2 - Nesta
atitude nunca esquecemos que Portugal foi – e queremos que continue a ser – terra
de Santa Maria. Ela foi discípula. Acreditou firmemente em tudo quanto Deus anunciou
e se deveria realizar. Tornou-se apóstola. Proclamou as maravilhas de Deus, ficando
como modelo programático para a Igreja, dum Cristo-Palavra no mundo. Caminhou com
o povo. Guiada e habitada pela Palavra Viva, de todos se tomou Serva porque Serva
do Senhor. A nossa visita ad Limina acontece num ambiente de celebração
dos 90 anos das Aparições de Fátima. Aí Maria apelou à conversão do mundo que, necessariamente,
deve começar pela Igreja. Se nos parece que a sociedade caminha nas sombras dum hedonismo
fácil, dum relativismo moral impressionante, duma desvinculação dos valores, dum desenvolvimento
explorador e aproveitador dos mais fracos, duma desigualdade marcante e repleta de
contrastes, nunca nos poderemos fechar na defesa do nosso tesouro e fazer condenações
a anunciar destruição e catástrofes. Só a luz de Cristo, nos fiéis e nas comunidades,
qual «milagre do Sol» em Fátima, conseguirá permitir que a Igreja encontre o seu espaço
naquilo que foi a «Nação Fidelíssima».
3 - Necessitamos, por isso, dum novo
alento à missionariedade – dentro ou fora das comunidades, no país ou no mundo –,
como urgência dum legado histórico que nunca podemos esquecer. Portugal será sempre
aquele pequeno país desafiado pelos horizontes do mar onde o risco e a morte se ultrapassam
pela fé num mundo de concórdia e paz. Santo Padre, o Papa Paulo VI, no discurso
de inauguração da terceira Sessão do Concílio Ecuménico Vaticano II em 14 de Setembro
de 1964, referiu palavras que o saudoso Papa João Paulo II quis citar na Exortação
pós-Sinodal Pastores Gregis: «Como vós, veneráveis Irmãos no episcopado, espalhados
pela terra, tendes necessidade dum centro, dum princípio de unidade na fé e na comunhão
– para dar consistência e expressão à verdadeira catolicidade da Igreja – e isso exactamente
encontrais na cátedra de Pedro; assim Nós temos necessidade que vós estejais sempre
ao Nosso lado, para dardes cada vez mais ao rosto desta Sé Apostólica a sua verdadeira
fisionomia, a sua realidade humana e histórica, e até mesmo para lhe oferecerdes concordância
com a sua fé, o exemplo no cumprimento dos seus deveres e o conforto nas suas tribulações». Estamos
aqui hoje – e estaremos sempre no quotidiano das nossas vidas pessoais e das nossas
Igrejas Particulares – para reconhecer a necessidade deste princípio de unidade, na
fé e na comunhão cum Petro e sub Petro. Gostaríamos, também, que aceitasse
a certeza de que estaremos sempre «ao lado» de Sua Santidade. Fazendo, mais uma vez,
referência à nossa história, na aventura dos descobrimentos, os Reis apressavam-se
a enviar ao Papa da época o que de mais precioso ou especial tinham encontrado. Hoje,
não temos pedras nem outros exemplares exóticos. Trazemos a fé em Deus Amor e a responsabilidade
de, corresponsávelmente, edificar a Igreja através do mesmo Amor. Colocando-nos
diante de todos os portugueses, queremos depositar nas mãos de Vossa Santidade a vontade
duma dedicação incondicional, duma fidelidade intrépida e uma acção pastoral renovada
acolhendo a responsabilidade de tornar visível o Amor de Deus. Que Maria nos ensine
a conhecer e a amar Cristo para nos tornarmos capazes de verdadeiro amor e «ser fonte
de água viva no meio de um mundo sequioso».