DE NÁPOLES, PAPA CONDENA A CAMORRA E AFIRMA QUE A RELIGIÃO JAMAIS PODE JUSTIFICAR
A VIOLÊNCIA
Nápoles, 21 out (RV) - Bento XVI lançou um apelo, neste domingo, em Nápoles,
sul da Itália, em favor da "luta contra todas as formas de violências". O apelo do
pontífice foi feito durante uma missa campal presidida por ele, no contexto de sua
visita a Nápoles, durante a qual também denunciou a atuação _ na cidade _ da "Camorra",
como é conhecida a máfia napolitana.
O pontífice chegou a Nápoles, à Praça
da Estação Marítima, no porto napolitano, pouco depois das 9h deste domingo. Logo
após, na Praça do Plebiscito, presidiu à concelebração eucarística que se concluiu
com a recitação da oração mariana do Angelus.
Esta manhã, o Santo Padre celebrou
a missa na principal praça de Nápoles _ a Praça do Plebiscito _ para milhares de fiéis,
sob chuva e forte vento. Em sua homilia, o papa reconheceu que, para muitos, nessa
cidade do sul da Iália, a vida é bastante difícil, em virtude "da pobreza, da falta
de moradia, do desemprego e da falta de perspectivas para o futuro".
"Não se
trata apenas do número lamentável de crimes da "Camorra" _ analisou o pontífice _
mas também do fato que a violência tende a se tornar uma mentalidade difusa, que se
insinua na trama da sociedade... particularmente entre a juventude" _ sublinhou.
Bento
XVI pediu mais esforços, voltados para a prevenção da violência, tanto na escola quanto
no trabalho, e exortou as instituições a ajudarem os jovens, para que ocupem de modo
sadio seu tempo livre.
"É necessária uma intervenção que envolva todos na
luta contra toda e qualquer forma de violência, partindo da formação das consciências
e transformando as mentalidades, as atitudes e os comportamentos cotidianos" _ disse
o pontífice.
A missão da Igreja _ ressaltou o papa _ é nutrir sempre, a fé
e a esperança do povo cristão. Nesse contexto, sublinhou que a semente da esperança
existe em Nápoles e pode germinar, apesar dos problemas e dificuldades.
"Peçamos
ao Senhor _ exortou o Santo Padre _ que faça crescer na comunidade cristã napolitana,
uma fé autêntica e uma esperança sólida, capazes de combater, eficazmente, o desânimo
e a violência."
Embora reconhecendo que Nápoles necessita de uma séria intervenção
política, para solucionar seus problemas, o papa disse que a cidade precisa, porém,
antes de tudo, de uma "profunda renovação espiritual", de fiéis que confiem plenamente
em Deus e que, com a Sua ajuda, se empenhem em difundir na sociedade, os valores do
Evangelho.
Na reflexão que precedeu a oração mariana do Angelus, recitada ao
término da celebração eucarística, o pontífice dirigiu uma saudação particular às
numerosas delegações provenientes de todo o mundo, para participar, na capital partenopéia
_ Nápoles _ do Encontro Internacional de Oração pela Paz, promovido pela comunidade
romana de Santo Egídio, no marco do 21º aniversário do primeiro desses encontros,
realizado em Assis, a convite de João Paulo II.
O encontro deste ano tem como
tema: "Por um mundo sem violência _ Religiões e culturas em diálogo".
O papa
fez votos para que essa importante iniciativa cultural e religiosa "possa contribuir
para a consolidação da paz no mundo", recordando que a Igreja celebra neste domingo,
o Dia Mundial das Missões, com um tema muito significativo: "Todas as Igrejas para
todo o mundo".
Após o Angelus, a visita do pontífice a Nápoles prosseguiu,
com seu encontro _ no Seminário Arquiepiscopal de Capodimonte _ com os numerosos expoentes
das diversas religiões do mundo, no contexto desse Encontro Internacional de Oração
pela Paz. Presentes o patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, o arcebispo
anglicano de Cantuária, Dr. Rowan Williams, o grão-rabino de Israel, Yona Metzger,
e o imame dos Emirados Árabes Unidos, Ibrahim Ezzedin.
Rememorando o inesquecível
encontro de Assis, em 1986, a convite de João Paulo II, Bento XVI evocou o autêntico
"espírito de Assis", que "se opõe a toda e qualquer forma de violência e ao abuso
da religião como pretexto para a violência", e que nos convida _ sublinhou _ no respeito
às diferenças entre as várias religiões, "a trabalhar pela paz e a um efetivo empenho
para promover a reconciliação entre os povos".
"Diante de um mundo lacerado
por conflitos, onde, às vezes, se busca justificar a violência, em nome de Deus, é
importante reiterar que as religiões jamais podem se tornar veículos de ódio; que
jamais, invocando o nome de Deus, se pode chegar a justificar o mal e a violência.
Ao contrário, as religiões podem e devem oferecer preciosos recursos para construir
uma humanidade pacífica, porque falam de paz ao coração do homem" _ sublinhou Bento
XVI.
"A Igreja Católica _ concluiu o Santo Padre _ pretende continuar a percorrer
o caminho do diálogo, para favorecer o entendimento entre as diversas culturas, tradições
e sabedoria religiosas. "Desejo que este espírito se difunda sempre mais _ foram os
votos do papa _ sobretudo onde as tensões são mais fortes, e onde a liberdade e o
respeito pelo outro são negados a homens e mulheres que sofrem as conseqüências da
intolerância e da incompreensão. (AF)