"Salvação" é bem mais do que "saúde": sublinhou o Papa, ao Angelus. Bento XVI invocou
a libertação de dois padres iraquianos sequestrados
Na alocução em italiano, para além do costumado comentário sobre o Evangelho do dia,
o Papa referiu-se aos 90 anos das aparições da Cova da Iria, com o apelo evangélico
ali renovado – “Convertei-vos e acreditai no Evangelho” - que “continua a ressoar
na Igreja. "Hoje pensamos especialmente em Fátima onde, faz agora precisamente
90 anos, de 13 de Maio a 13 de Outubro de 1917, a Virgem apareceu aos três pastorinhos
Lúcia, Jacinta e Francisco. Graças às ligações radiotelevisivas quereria tornar-me
espiritualmente presente naquele Santuário mariano, onde o cardeal Tarcísio Bertone,
Secretário de Estado, presidiu em meu nome às celebrações conclusivas de um aniversário
tão significativo." Saudando “cordialmente”, na pessoa do cardeal Bertone, os
outros Cardeais e Bispos presentes, os padres que trabalham no santuário e os peregrinos
vindos de todas as parte do mundo, Bento XVI confiou a Nossa Senhora uma intenção
especial: “À Senhora pedimos, para todos os cristãos, o dom de uma verdadeira conversão,
para que se anuncie e testemunho com coerência e fidelidade a perene mensagem evangélica,
que indica à humanidade a via da autêntica paz”. A sua bênção apostólica aos
peregrinos de Fátima, exprimiu-a o Papa em língua portuguesa, nas palavras pronunciadas
depois da recitação do Angelus, sempre em ligação directa com a Cova da Iria: “Esta
minha Bênção para quantos rezam comigo a oração do Angelus – fisicamente presentes
ou unidos pelos meios de comunicação social – de bom grado a estendo aos peregrinos
congregados no Santuário de Fátima, em Portugal. Lá, desde há noventa anos, continuam
a ecoar os apelos da Virgem Mãe que chama os seus filhos a viverem a própria consagração
baptismal em todos os momentos da existência. Tudo se torna possível e mais fácil,
vivendo aquela entrega a Maria feita pelo próprio Jesus na cruz, quando disse: «Mulher,
eis o teu filho!». Ela é o refúgio e o caminho que conduz a Deus. Sinal palpável desta
entrega é a reza diária do terço.” Prosseguindo ainda, a partir de Roma, da janela
dos seus aposentos, esta sua saudação aos peregrinos congregados em Fátima, Bento
XVI exortou todos a “renovarem pessoalmente a própria consagração ao Coração Imaculado
de Maria”, vivendo com uma existência renovada este “acto de culto”: "Enquanto saúdo
o Senhor Cardeal Legado Tarcisio Bertone, o Senhor Bispo de Leiria-Fátima e todo o
Episcopado Português, bem como os demais Bispos presentes e cada um dos peregrinos
de Fátima, a todos exorto a renovarem pessoalmente a própria consagração ao Imaculado
Coração de Maria e a viverem este acto de culto com uma vida cada vez mais conforme
à Vontade divina e em espírito de serviço filial e devota imitação da sua celeste
Rainha. Nunca esqueçais o Papa!" A concluir este costumado encontro dominical
com os dezenas de milhares de romanos e peregrinos congregados na Praça de São Pedro
sob um esplêndido sol outonal, o Papa evocou as trágicas notícias de atentados e
violências que quotidianamente chegam do Iraque e que (observou) “abalam a consciência
de todos os que têm a peito o bem daquele país e a paz na região”. Neste contexto,
Bento XVI referiu expressamente a notícia do sequestro de “dois bons sacerdotes da
arquidiocese siro-católica de Mossul, ameaçados de morte”.
FACCIO APPELO AI
RAPITORI “Dirijo um apelo aos raptores, para que libertem sem mais tardar os
dois religiosos e, recordando uma vez mais que a violência não resolve as tensões,
elevo ao Senhor um vibrante apelo pela sua libertação, por todos os que sofrem violência
e pela paz”. Na alocução inicial, em italiano, neste domingo ao meio-dia, na
Praça de São Pedro, o Papa comentou – como habitualmente – o Evangelho deste domingo:
a cura dos dez leprosos. Bento XVI observou que esta página evangélica “faz pensar
em dois graus de cura: um mais superficial, diz respeito ao corpo; o outro, mais profundo,
toca o íntimo da pessoa, aquilo que a Bíblia chama o coração, e dali irradia
para toda a existência. A cura completa e radical é a salvação”. Justamente
– observou – a linguagem comum distingue “saúde” e “salvação”. “A salvação é bem mais
do que a saúde: é a vida nova, plena, definitiva”. Como diz Jesus: “A tua fé te salvou”.
"A tua fé te salvou. É a fé que salva o homem, restabelecendo na sua relação
profunda com Deus, consigo mesmo e com os outros; e a fé exprime-se no reconhecimento.
Quem, como o samaritano curado, sabe agradecer, demonstra não considerar tudo como
devido, mas como um dom que, mesmo quando chega através dos homens ou da natureza,
em última análise provém de Deus. A fé comporta pois o abrir-se do homem à graça do
Senhor; reconhecer que tudo é dom, tudo é graça. Que tesouro escondido se encontra
numa pequenina palavra: “obrigado”."