IGREJA ARGENTINA ABALADA COM CONDENAÇÃO DE CAPELÃO CÚMPLICE DA DITADURA
Buenos Aires, 10 out. (RV) - A Igreja Católica argentina demonstrou comoção
ontem à noite, ao tomar conhecimento da condenação do ex-capelão da polícia Christian
Von Wernich, que cumprirá prisão perpétua por homicídio, seqüestro e tortura durante
a ditadura militar (1976-83). A sentença foi emitida pelo Tribunal de La Plata
(60 Km ao sul de Buenos Aires). "A Igreja na Argentina está comovida pela dor que
nos causa a participação de um sacerdote em delitos gravíssimos", destacou o episcopado
em uma nota. "Acreditamos que os passos da Justiça para o esclarecimento destes fatos
devem servir para renovar os esforços de todos os cidadãos no caminho da reconciliação
e são um apelo contra a impunidade, o ódio e o rancor", disse a cúpula eclesiástica. A
declaração é assinada pelo cardeal primaz da Argentina, dom Jorge Bergoglio, e por
integrantes da comissão executiva da Conferência Episcopal. A cúpula católica destaca
que "se algum membro da Igreja (...) deu seu aval ou foi cúmplice da repressão violenta
agiu sob sua responsabilidade, errando ou pecando gravemente contra Deus, a humanidade
e sua consciência". "Pedimos a Jesus misericordioso e a Nossa Senhora de Luján que
nos acompanhe neste doloroso caminho para a reconciliação". Von Wernich, de 69
anos, foi considerado culpado de sete homicídios, 31 casos de tortura e 42 seqüestros,
no primeiro julgamento contra um sacerdote ligado a uma ditadura da América Latina. Ainda
no âmbito do esclarecimento dos fatos ligados à história recente no país, a Equipe
Argentina de Antropologia Forense está trabalhando em Santa Fé na identificação de
600 restos humanos encontrados nas duas últimas décadas, e que poderiam pertencer
a pessoas desaparecidas durante a ditadura militar.
A Secretaria de Direitos
Humanos de Santa Fé informou que coordenou, com sua equivalente nacional, o sistema
que prevê a extração voluntária de sangue de familiares de vítimas da ditadura militar
nessa região, que serão enviados aos Estados Unidos no próximo ano para formar o Banco
Nacional de Dados Genéticos.
Miguel Nieva, da Equipe Argentina de Antropologia
Forense, ressaltou à imprensa que "se trata de aumentar consideravelmente o número
de identificações que estamos fazendo dentro do marco das investigações que efetuamos".
"A idéia desse projeto é ter acesso à tecnologia de DNA para poder realizar
estudos com a mesma tecnologia que foi utilizada nas Torres Gêmeas, em 11 de setembro
de 2001", disse.
Em 16 de outubro, começarão a recolher as mostras de sangue
dos familiares de pessoas desaparecidas em todo o país para formar o banco de dados.
(CM)