SECRETÁRIO DA SANTA SÉ DAS RELAÇÕES COM OS ESTADOS FALA SOBRE RISCOS DE GLOBALIZAÇÃO
SEM FACE HUMANA
Cidade do Vaticano, 05 out (RV) - Globalização e secularização, liberdade religiosa
nas sociedades multiculturais e riscos de sincretismo: são os temas no centro da reflexão
do secretário da Santa Sé das Relações com os Estados, Dom Dominique Mamberti, lida
no âmbito do Congresso promovido _ na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma
_ pela Academia Católica bávara e pela embaixada da Alemanha junto à Santa Sé sobre
o tema: "Globalização e Religião: desafios para a política e a Igreja". A referida
reflexão foi apresentada pelo subsecretário da Santa Sé das Relações com os Estados,
Mons. Piero Parolin, por via do compromisso de Dom Mamberti nestes dias na ONU.
Deve-se
dar uma face à globalização e deve ser uma face humana: foi esse o princípio de fundo
da reflexão, que evidencia diversos riscos. A globalização poderia trazer o sincretismo:
se a técnica é colocada ao centro de tudo, se governa a integração das economias ou
as revoluções nas comunicações, se se torna concessão da política, então se pode chegar
ao sincretismo, porque a tendência a nivelar tudo de modo técnico leva a fazer o mesmo
também com as religiões. Pode-se acabar relativizando tudo, também a verdade.
Precisamente,
Dom Mamberti ressalta que "se acaba por considerar que toda religião substancialmente
equivale às outras, capaz _ por isso mesmo _ de conduzir os homens à salvação. Conseqüentemente,
toda religião _ e o cristianismo em particular _ que se apresente com a pretensão
de verdade _ diz Dom Mamberti _ é considerada como um movimento quase fanático e potencialmente
fundamentalista".
Na realidade _ explica o secretário da Santa Sé das Relações
com os Estados _ "o encontro entre as religiões não pode dar-se na renúncia à verdade,
mas é possível somente mediante o seu aprofundamento".
"O relativismo não une.
E muito menos o puro pragmatismo." É o que acrescenta Dom Mamberti, ressaltando que
"a renúncia à verdade e à convicção não eleva o homem e muito menos o aproxima dos
outros, mas o entrega ao cálculo do útil e do egoísmo, privando-o de sua grandeza".
Dom
Mamberti recorda que "a globalização colocou em xeque as sociedades fechadas de matriz
ideológica, étnica, nacionalista e cultural, e favoreceu uma positiva abertura a uma
cidadania universal".
Portanto, o problema não é a globalização em si, mas
somente o risco de perder a centralidade do homem e da transcendência, que significaria
perder também o respeito pela liberdade religiosa.
Ademais, Dom Mamberti faz
votos de que os sistemas jurídicos sejam articulados a partir do conceito de igual
dignidade de todos os homens _ também prescindindo de seu credo religioso _ e que,
portanto, garantam igualdade entre os homens e as mulheres.
"Essa questão é
fundamental _ reitera o prelado _ não somente no plano jurídico, mas, igualmente,
para elaborar modelos de sociedades capazes de afrontar a globalização de modo positivo,
para adquirir benefício de seus recursos e conviver pacificamente, tanto em nível
nacional quanto internacional." (RL)