ANGELUS: BENTO XVI REFLETE SOBRE AS LÓGICAS DO LUCRO E DA SOLIDARIEDADE

Castel Gandolfo, 23 set (RV) - Bento XVI rezou, ao meio-dia de hoje, a tradicional oração mariana do Angelus, com os fiéis e peregrinos reunidos no pátio interno da residência apostólica de verão, de Castel Gandolfo. Na breve reflexão que precedeu a oração mariana, o Santo Padre ampliou a reflexão sobre as lógicas do lucro e da solidariedade, reflexão que fizera, horas antes, durante sua visita pastoral à Diocese italiana de Velletri-Segni.

O papa voltou a falar sobre o dinheiro, mas precisou que "o dinheiro não é desonesto em si mesmo, porém mais do que qualquer outra coisa, pode fechar o homem num cego egoísmo".

"Trata-se, portanto, de realizar uma espécie de conversão dos bens econômicos: ao invés de usá-los somente para o próprio interesse, é necessário pensar também nas necessidades dos pobres. Que jamais falte a fantasia nas obras de misericórdia. É preciso imitar o próprio Cristo, que _ escreve São Paulo _ "sendo rico, se fez pobre por vós, a fim de vos enriquecer com sua pobreza"."

Parece um paradoxo _ continuou o papa: "Cristo não nos enriqueceu com a sua riqueza, mas com a sua pobreza, isto é, com o seu amor, que O levou a entregar-se totalmente a nós."

O Santo Padre explicou que as duas lógicas econômicas _ a lógica do lucro e da eqüitativa distribuição dos bens _"não estão em contradição uma com a outra, se o relacionamento entre elas for bem ordenado". A Doutrina Social católica _ sublinhou _ "sempre sustentou que a igual distribuição dos bens é prioritária".

"O lucro é, naturalmente, legítimo e, na justa medida, necessário ao desenvolvimento econômico. João Paulo II assim escreveu na encíclica Centesimus Annus: a moderna economia de empresa comporta aspectos positivos, cuja raiz é a liberdade da pessoa, que se exprime em campo econômico como em tantos outros campos. Todavia, ele acrescentou que o capitalismo não deve ser considerado como o único modelo válido de organização econômica."

"A emergência da fome e a ecológica denunciam com crescente evidência _ acrescentou o Santo Padre _ o que ocorre, quando prevalece a lógica do lucro." Nesse contexto, o pontífice invocou Maria, modelo dos pobres em espírito, de todos aqueles que escolheram viver para Deus e não para o dinheiro: "Que Maria Santíssima, que no Magnificat proclama... o Senhor encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias... ajude os cristãos a usarem com sabedoria evangélica, isto é com generosa solidariedade, os bens terrenos, e inspire os governantes e os economistas estratégias que favoreçam o autêntico progresso de todos os povos."

Após a oração do Angelus o Papa saudou os participantes do I Encontro Mundial de Sacerdotes, Diáconos, Religiosos e Religiosas Ciganos, organizado em Roma, pelo Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes, sobre o tema "Com Cristo, a serviço do povo cigano".

O pontífice recordou ainda, que hoje, na Itália, a Sociedade de São Vicente de Paulo promoveu uma campanha contra o analfabetismo que definiu "uma grave chaga social, que ainda atinge muitas pessoas em várias regiões do mundo". (SP/AF)