2007-09-09 18:51:39

“Pessoas que oferecem, na Igreja e na sociedade, uma experiência concreta daquele amor pelo qual nós cristãos fomos conquistados”: assim se exprimiu Bento XVI referindo os voluntários, no último encontro da sua viagem à Áustria, na grande “Sala de concertos” de Viena.


(9/9/2007) "Pessoas que oferecem, na Igreja e na sociedade, uma experiência concreta daquele amor pelo qual nós cristãos fomos conquistados”: assim se exprimiu Bento XVI referindo os voluntários, no último encontro de sua viagem à Áustria, na grande “Sala de concertos” de Viena. “É o amor de Deus que nos faz reconhecer no outro o próximo, o irmão e a irmã” – advertiu.
O Papa congratulou-se com a “cultura do voluntariado” existente na Áustria, fazendo questão de “agradecer” todos e cada um por esta actividade que contribui – recordou – “para a edificação de uma civilização do amor, que se coloca ao serviço de todos e cria Pátria!”

“O amor do próximo não se pode delegar. Não o podem substituir o Estado e a política, não obstante as prestações sociais e as justas medidas para aliviar os que se encontram em situação de necessidade. O amor do próximo requer sempre o empenho pessoal e voluntário, para o qual, sem dúvida o Estado deve criar condições gerais favoráveis. Graças a este empenho, a ajuda mantém a sua dimensão humana e não se despersonaliza. Precisamente por isso, vós não sois tapa buracos na rede social, mas sim pessoas que contribuem para o rosto humano e cristão da nossa sociedade”.

Citando uma frase do pensador e teólogo medieval Duns Scoto – “Deus quer pessoas que amem com Ele”, observou Bento XVI que “empenhar-se de modo voluntário constitui um eco da gratidão e ao mesmo tempo é transmissão do amor recebido.

“Empenhar-se de modo gratuito tem muito que ver com a Graça. Um cultura que tudo quer contabilizar e pagar, que coloca a relação entre os homens numa espécie de esquema constritivo de direitos e deveres, experimenta graças às inumeráveis pessoas empenhadas a título gratuito que a própria vida é um dom imerecido”.


“Foi gratuitamente que recebemos do nosso Criador a vida – sublinhou ainda o Papa. Gratuitamente fomos libertados do pecado e do mal. Gratuitamente nos foi dado o Espírito e seus múltiplos dons… É portanto gratuitamente que transmitimos o que recebemos… Esta lógica da gratuidade situa-se para além do mero dever e poder moral”.


“Sem empenho voluntarista, o bem comum e a sociedade não podiam, não podem e não poderão perdurar. A disponibilidade espontânea vive e demonstra-se para além do cálculo e da contra-resposta aguardada: rompe com as regras da economia do mercado. De facto, o homem é muito mais do que um mero factor económico a avaliar segundo critérios económicos. O progresso e a dignidade de uma sociedade dependem sempre de novo precisamente daquelas pessoas que fazem mais do que o seu mero dever”.


Na parte final do seu discurso aos representantes do voluntariado austríaco, Bento XVI deteve-se a considerar “o olhar” – olhar de Deus e olhar do homem, segundo o olhar de Deus. Partindo de duas citações de Santo Ireneu de Lyon e de Nicolau de Cusa, o Papa observou que “o olhar de Deus – o olhar de Jesus – contagia-nos com o amor de Deus”.


“Há olhares que podem perder-se na indiferença ou mesmo desprezar. E há olhares que conseguem exprimir respeito e amor. As pessoas que se empenham gratuitamente conferem ao próximo apreço, recordam a dignidade do homem e suscitam esperança e alegria de viver. Os expoentes do voluntariado defendem e mantêm os direitos do homem e a sua dignidade”.


A concluir, Bento XVI acrescentou mais uma observação a propósito do olhar de Jesus, citando a parábola do bom samaritano e aqueles que fingem não ver o homem abandonado na berma da estrada:


“Há quem faz de conta que não vê. A necessidade encontra-se diante dos olhos e não obstante permanece indiferente. No olhar do outro, precisamente do que tem necessidade da nossa ajuda, fazemos a experiência concreta do amor cristão. Jesus Cristo não nos ensina uma mística dos olhos fechados, mas sim uma mística do olhar aberto, com o dever absoluto de advertir a situação dos outros, a situação em que se encontra o homem que, segundo o Evangelho, é nosso próximo. O olhar de Jesus, a escola dos olhos de Jesus, introduz-nos numa proximidade humana, na solidariedade, na partilha do tempo, na partilha das capacidades e também dos bens materiais”.


E o Papa concluiu com uma referência expressa à “força e importância da oração para todos os que se encontram empenhados na actividade caritativa. A oração – recordou – é a via de saída da ideologia e da resignação perante a ilimitada dimensão das necessidades”: “Embora imersos como os outros homens na dramática complexidade das vicissitudes históricas, os cristãos continuam firmes na certeza de que Deus é Pai e nos ama, mesmo se o seu silêncio permanece incompreensível para nós” (citação da Encíclica “Deus caritas est”).










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