2007-09-09 12:06:16

Domingo dia do Senhor no duplo sentido de dom de Deus ao homem e de louvor do homem a Deus. Bento XVI na homilia da Missa dominical na Catedral de Santo Estevão, em Viena, recorda o convite de Jesus a criar oásis de amor desinteressado num mundo em que parece contar só o poder e o dinheiro


(9/9/2007) Bento XVI que se encontra na Áustria aonde se deslocou para uma visita de três dias por ocasião dos 850 anos do santuário mariano de Mariazzel, celebrou a missa deste Domingo na Catedral de São Estêvão em Viena.
Na homilia o Papa deteve-se a comentar o Evangelho deste domingo, em que Jesus sublinha a radicalidade com que há-de ser seguido. Um texto que pode “assustar” (reconheceu Bento XVI), pois parece pedir uma renúncia total à família, ao amor humano, a todos os bens (quando, por outro lado, sabemos que o Senhor chama a viver estas realidades). Antes de mais, observou o Papa, é necessário advertir que Jesus não exige de todos a mesma coisa. Cada um tem uma tarefa pessoal e está chamado a seguir o Senhor na forma projectada para si.
Neste texto do Evangelho, Jesus dirige-se antes de mais aos Doze, a caminho de Jerusalém. Eles têm que superar o escândalo da Cruz, prontos a deixar mesmo tudo aceitando ”a missão aparentemente absurda de ir até aos confins da terra e, com a sua limitada cultura, anunciar a um mundo cheio de presumida erudição e de formação autêntica ou fictícia - mas também e especialmente aos pobres e simples – o Evangelho de Jesus Cristo. Têm que estar prontos, no seu caminho pela vastidão do mundo, a sofrer em pessoa o martírio, para testemunhar o Evangelho do Senhor crucificado e ressuscitado”.
Em todo o caso (prosseguiu ainda o Papa), “embora esta palavra de Jesus seja dirigida antes de mais aos Doze, a sua chamada diz naturalmente respeito, para além daquele momento histórico, a todos os séculos”.


“Em todos os tempos Ele chama pessoas a contarem exclusivamente sobre Ele, a deixarem tudo e a estarem totalmente à sua disposição e a portanto também à disposição dos outros: a criarem oásis de amor desinteressado num mundo em que tantas vezes parecem contar só o poder e o dinheiro”.


E o Papa convidou a dar graças a Deus por tantos homens e mulheres que por seu amor deixaram tudo - santos e santas como Bento e Escolástica, Francisco e Clara, Isabel de Turíngia e Hedwiges da Silésia, Inácio de Loyola, Teresa de Ávila, Teresa de Calcutá e Padre Pio. Pessoas que, “com toda a sua vida – sublinhou – “se tornaram uma interpretação da palavra de Jesus, que neles se torna próxima e compreensiva para nós”.


Retomando o texto evangélico, Bento XVI observou que, para além do sentido específico que a vocação de Jesus assume para quem é chamado a uma especial missão e consagração, o núcleo central do que Ele diz vale para todos, à luz daquela outra sua formulação “Quem quiser salvar a própria vida, perdê-la-á, e quem perderá a própria vida, salvá-la-á. Que interessa ao homem ganhar o mundo inteiro se depois se perde a si mesmo?”


“Quem se limita a querer possuir a própria vida, vivê-la só para si mesmo, perdê-la-á. Só quem se dá recebe a vida. Por outras palavras: só quem ama encontra a vida. E o amor exige sempre que uma pessoa saia de si mesmo. Quem olha para trás procurando-se a si mesmo, e quer ter o outro só para si, perde-se a si e perde o outro. Sem este profundo perder-se a si mesmo, não há vida. A irrequieta preocupação de vida que hoje em dia não deixa os homens em paz conduz ao vazio de uma vida perdida. O Senhor diz “Quem perder a vida por mim”: deixarmo-nos radicalmente a nós mesmos só é possível se desse modo não caímos no vazio, mas não mãos do Amor eterno. Só o amor de Deus, que se perdeu a sim mesmo por nós, entregando-se por nós, torna possível que nos tornemos livres”.


Na parte final da sua homilia, Bento XVI retomou um aspecto a que já aludira no início: a importância do Domingo como “dia do Senhor” no duplo sentido de dom de Deus ao homem e de louvor do homem a Deus. E deplorou a perda do sentido do domingo:


“Nas nossas sociedades ocidentais, o Domingo transformou-se em fim de semana, em tempo livre. O tempo livre, especialmente na azáfama do mundo moderno, é certamente algo de belo e de necessário. Mas se não tiver um centro interior, que anima o conjunto, o tempo livre acaba por ser um tempo vazio que não nos revigora nem renova. O tempo livre carece de um centro – o encontro com Aquele que é a nossa origem e a nossa meta”.


“É precisamente porque ao domingo tem lugar o profundo encontro – na Palavra e no Sacramento – com Cristo ressuscitado, que a irradiação deste dia abrange toda a realidade. Os primeiros cristãos celebravam o primeiro dia da semana como Dia do Senhor, porque era o dia da ressurreição. Mas bem cedo a Igreja tomou consciência também do facto de o primeiro dia da semana ser o dia da manhã da criação… Na Igreja o Domingo é também a festa da gratidão e da alegria pela criação de Deus”.


A concluir, uma referência à Oração colecta deste domingo, em que se pede a Deus Pai, que “mediante o Seu Filho, nos remiu e adoptou como filhos”, que nos olhe “com benevolência” e nos dê “a verdadeira liberdade e a vida eterna”. “Invocamos um olhar de bondade da parte de Deus.”


“Ser filho – sabia-o muito bem a comunidade primitiva – significa ser uma pessoa livre, não um servo, mas alguém que pertence pessoalmente uma família. E significa ser herdeiro. Se nós pertencemos àquele Deus que é o poder acima de todo o poder, então não temos medo e somos livres. E somos herdeiro. A herança que Ele nos deixou é Ele próprio, o seu Amor. Sim, Senhor, faz que esta consciência nos penetre profundamente e assim aprendemos a alegria dos redimidos. Ámen”








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