Em Fátima Semana Nacional de Pastoral Social: Igreja preocupada com a área social
(5/9/2007) A necessidade de criação, pelas instituições de solidariedade social ligadas
à Igreja Católica, de uma “carta de princípios” que balize a sua relação com o Estado,
foi defendida, em Fátima, nesta terça feira na abertura da XXIV Semana Nacional
da Pastoral Social. O repto foi lançado por Maria José Nogueira Pinto, que perspectivou
a inevitabilidade de conflitos entre as instituições e o Estado, caso o relacionamento
entre as duas partes não evolua da contratualização estatal de serviços para “uma
verdadeira parceria público-privada”. Estes conflitos surgirão quando as instituições
cristãs quiserem fazer valer essa sua identidade em hipotéticos casos como a eutanásia,
a adopção de crianças por casais homossexuais ou na criação de salas de injecção assistida.
Perante uma assembleia de 270 participantes na XXIV Semana Nacional da Pastoral
Social, que decorre até Quinta-feira em Fátima, Maria José Nogueira Pinto apontou
também os aspectos que distinguem o papel das instituições sociais da Igreja do papel
do Estado no sector. Começando pelo “o modo. Não vamos perguntar a quem precisa o
que é que pensa de Deus”, ao mesmo tempo que “o cuidar [de alguém] não tem guichet,
não tem horário, mas tem preocupação permanente”. Estes são factores que Nogueira
Pinto entende como fundamentais na relação entre as instituições da Igreja e um Estado
que “garante, mas também regulamenta e fiscaliza tudo o que se faz”. Na sessão
de abertura, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga,
apelou a que os membros das instituições de solidariedade da Igreja não se inibam
no testemunho da fé cristã perante quem cuidam. O Arcebispo primaz de Braga considera
que as instituições sociais da Igreja devem com a sua especificidade e “identidade
muito própria” exigir ”o reconhecimento legal de poder usufruir de contributos iguais”.
Mas, “ nunca devemos renunciar ao que nos deveria distinguir”, frisou. Esse apoio
pedido faz falta para “que consigamos corresponder melhor aos desafios e para que
as Instituições da Igreja sejam capazes de mostrar a sua verdadeira identidade de
servir o homem na sua integridade”. D. José Alves, presidente da Comissão Episcopal
da Pastoral Social, na abertura desta XXIV Semana Nacional da Pastoral Social, avisou
que não é intenção dos cristãos que intervêm na acção social “impor aos outros” as
suas opções religiosas, mas consideram-se “com o direito de serem aceites e respeitados
pelos outros, inclusive pelo poder político”. A XXIV Semana Nacional da Pastoral
Social, dedicada à “Identidade Cristã das Instituições de Acção Social da Igreja”,
vai debruçar-se, até Quinta feira, sobre temas como “Os cristãos na intervenção social”,
“Intervenção Cristã: que originalidade?” e “A qualidade na intervenção cristã” e organizar
espaços de reflexão sobre “Pobreza e novas formas de pobreza”, “Exclusão”, “Solidão”,
“Novos meios de comunicação e formação”, “Família: novas questões”, “Novos comportamentos”,
“Cuidados paliativos” e “Multiculturalismo e imigração”. Ao longo da Semana da
Pastoral Social vai ser promovida a petição da Comissão Nacional Justiça e Paz para
que o Parlamento reconheça a pobreza como “violação grave de direitos humanos”. O
texto da petição, que deverá ter as assinaturas recolhidas até ao final de Setembro,
sublinha que “a pobreza constitui uma grave negação dos direitos humanos fundamentais
e das condições necessárias ao exercício da cidadania”. “A pobreza e a exclusão
têm causas estruturais e, por isso, não se resolvem apenas com sobras ou gestos de
generosidade esporádica”, acrescenta a petição a entregar na Assembleia da República
pela CNJP. Considera ainda que “o nível de rendimento já alcançado no nosso país
permitiria eliminar a pobreza que afecta cerca de um quinto da população residente
em Portugal”. Os signatários da petição pretendem que o Parlamento português “estabeleça
um limiar oficial de pobreza, em função do nível de rendimento nacional e das condições
de vida padrão” na sociedade, que sirva “de referência obrigatória à definição e à
avaliação das políticas públicas de erradicação da pobreza, bem como à fixação de
prestações sociais”. A petição, cujo texto foi distribuído a cada um dos participantes
da XXIV Semana Nacional da Pastoral Social, exorta ainda a que a Assembleia da República
“proceda, anualmente, a uma avaliação da situação da pobreza” no país e “do progresso
feito na sua erradicação”. (Com Ecclesia)