Cidade do Vaticano, 21 ago (RV) - As declarações do cardeal secretário de Estado,
Tarcisio Bertone, sobre a obrigatoriedade de pagar impostos, se as leis forem justas,
reabriram o debate, na Itália, em relação ao combate à sonegação de impostos.
No
último domingo, o Cardeal Bertone discursou na reunião do movimento "Comunhão e Libertação",
em Rimini, nordeste da Itália, afirmando que todos têm o dever de pagar os impostos,
segundo leis justas. Leis que, segundo ele, precisam prestar atenção aos mais vulneráveis
e garantir que não ocorrerão injustiças na distribuição dos recursos do Estado.
Com
essas palavras, o Cardeal Bertone respondia, indiretamente, ao primeiro-ministro da
Itália, Romano Prodi, que, dias atrás, pediu à Igreja Católica que se mobilizasse
no combate à sonegação de impostos. "Por que quando vou à missa, esse tema não é abordado
nas homilias, não obstante o seu forte valor ético?" _ questionou Prodi, na ocasião.
As
palavras do secretário de Estado vaticano geraram várias declarações e interpretações
no mundo político. Prodi, naturalmente, se mostrou "completamente de acordo" com suas
palavras, enquanto alguns opositores disseram que a declaração do cardeal era uma
crítica à política fiscal do governo.
"É importante que o cardeal tenha feito
essas declarações, com força e autoridade, mas é fundamental que o governo, o Parlamento
e os cidadãos cumpram sua parte" _ disse o subsecretário da Economia e Finanças, Vincenzo
Visco.
A Secretária do Partido Radical, Rita Bernardini, acusou os entes eclesiais
de terem deixado de declarar à Fazenda, seis bilhões de euros, graças às atuais leis.
De
fato, desde 2005, quando foi promulgada pelo governo Silvio Berlusconi, está em vigor
na Itália,uma lei que isenta a Igreja de pagar o imposto sobre bens imóveis, para
os edifícios de sua propriedade.
Do sul da Itália emerge também a declaração
de um sacerdote especialista em Moral, Pe. Antonio Rungi: "Não é suficiente _ afirma
ele _ observar a lei de Deus, observar todos os seus mandamentos e preceitos. O Senhor
pede um compromisso mais radical em favor dos mais pobres e necessitados, principalmente
por parte dos cristãos mais abastados. E os católicos devem dar seu exemplo, desse
ponto de vista."
"É inexplicável _ ressalta Pe. Rungi _ que tantas pessoas
que se declaram pobres, declarem rendas "miseráveis" e, na vida cotidiana, possuam
imóveis e outros bens, ostentando grandes riquezas. Isso deixa supor que fazem negócios
desonestos ou que não pagam os impostos. Estes são os mais resistentes a fazer caridade.
Existem categorias de pessoas que ganham de modo despropositado em relação às suas
exigências reais, enquanto milhões de outras vivem abaixo da linha da pobreza" _ escreve
Pe. Rungi.
"Como podem fechar os olhos diante da miséria que nos interpela
todos os dias, simplesmente passando de carro por nossas ruas, praias, bairros, campos,
periferias e igrejas? Como ignorar nossos compatriotas que revistam no lixo, procurando
o que comer? É preciso restituir dignidade e posição social, para sermos uma nação
e um povo que fazem da justiça e do direito as bases de seu agir, humano e social"
_– conclui o sacerdote da região da Campania _ uma das mais pobres da Itália, no sul
da península. (CM/AF)