Erguer a voz para salvar o Darfur:ONG's portuguesas apresentam Campanha para que o
genocidio nesta região sudanesa não seja esquecido
(8/8/2007) O genocídio contra a população negra da região sudanesa do Darfur levou
uma plataforma de ONG’s portuguesas a apresentar em Lisboa a primeira campanha nacional
por esta causa. O mote destas organizações, apresentado em conferência de imprensa
no Clube de Jornalistas, é claro: "O silêncio mata, mas a tua voz salva". A intenção
é "semear a esperança", procurando dar a conhecer o conflito, acelerar a colocação
de forças de paz no terreno e promover uma petição de urgência pelo Darfur. Esta
petição, dirigida à presidência portuguesa da UE, exige que o drama humano naquela
região seja "assumido como prioridade na agenda da Cimeira Europa-África", a realizar
este ano em Portugal. Os signatários pedem ainda um acordo global para a paz e o fim
da impunidade dos responsáveis "pelos crimes de guerra e pelos crimes contra a humanidade
no Darfur". Assassinatos, violações e tortura marcam o dia-a-dia dos Fur, tribo
sedentária dominante no sudoeste sudanês. Tropas de Cartum, voluntários da Líbia e
do Irão foram mobilizados em 2003 para o Darfur (em árabe, "terra dos Fur"), dando
início ao massacre. As povoações estão completamente desertas, com as populações
a amontoarem-se nos acampamentos, onde trabalham cerca de 14 mil voluntários de organizações
internacionais. Apesar da protecção da ONU estes acampamentos são atacados pelos
mercenários árabes ao serviço do governo sudanês, os Janjaweed. Registam-se constantemente
casos de assassinatos e violações: no Clube de Jornalistas em Lisboa , local onde
decorreu a conferência de imprensa, era possível ver o desenho de uma criança do Darfur,
que mostrava mulheres em fuga, violações e o camelo dos "guerreiros do Islão", que
perseguem a população negra. Em apenas cinco anos, morreram ali, vítimas da guerra,
da fome ou da doença pelo menos 200 mil pessoas – os piores prognósticos apontam para
cerca de meio milhão de pessoas. Calcula-se que pelo menos 2,3 milhões tenham
sido obrigadas a deixar as suas casas e a procurar refúgio em campos onde estão totalmente
dependentes das Nações Unidas e organizações humanitárias. Todos os dias morrem pessoas,
a maior parte das quais crianças. O conflito internacionalizou-se, passou as fronteiras
do Sudão, para o Chade e República Centro-Africana (RCA), onde as populações negras
do Darfur procuravam fugir ao conflito. A campanha por Darfur (www.pordargur.org)
é organizada pela recém-criada "Plataforma por África" dinamizada pelos Missionários
Combonianos, a Amnistia Internacional, a Africa-Europe Faith and Justice Network,
a Fundação Gonçalo da Silveira e a Comissão Justiça e Paz dos Religiosos, com a participação
da Comissão Nacional Justiça e Paz. O Pe. José Vieira, missionário Comboniano,
jornalista e director de informação de uma cadeia de rádios no Sudão, denuncia o projecto
de "arabizar" a região, violando "sistematicamente os Direitos Humanos das populações
do Darfur. O religioso, que tem permanecido em permanente ligação com os portugueses
no terreno, considera os campos de refugiados como verdadeiros "campos de concentração",
onde falta água e lenha. Victor Nogueira, comentador da RDP África para os Direitos
Humanos e membro da Amnistia Internacional, criticou a "hipocrisia da Liga Árabe"
que se tem oposto a todos os esforços para levar a cabo alguma intervenção internacional,
bem como os "interesses económicos" que se sobrepõem aos interesses da população,
como no caso da China e de petrolíferas norte-americanas. A campanha conta com
o apoio da MissãoPress (associação da imprensa missionária), da TESE (projectos de
apoio ao desenvolvimento), da Cáritas Portuguesa (ajuda de emergência), estando aberta
à participação de toda a sociedade civil portuguesa. (Ecclesia)