Como Bento XV, há 90 anos, também o Papa actual considera a guerra "um massacre inútil"
(22/7/2007) Há que “rejeitar a tentação de enfrentar novas situações com velhos sistemas”:
advertiu Bento XVI domingo ao meio-dia, antes do Angelus, nos Alpes, onde se encontra
em repouso. Aludindo à esplêndida beleza natural daquela paisagem de montanha,
o Papa referiu sentir intensamente o impacto doloroso das notícias que lhe chegam
de sangrentos recontros e de episódios de violência que se verificam em tantas partes
do mundo. A beleza da natureza – observou Bento XVI - recorda-nos que fomos postos
por Deus a cultivar e defender este jardim que é a Terra. Se os homens
vivessem em paz com Deus e entre si, a Terra assemelhar-se-ia a um paraíso.
Infelizmente, o pecado arruinou este projecto divino, gerando divisões e fazendo entrar
no mundo a morte. Cedendo às tentações do Maligno, os homens fazem-se guerra uns aos
outros. É assim que neste estupendo jardim que é o mundo se abrem espaços de
inferno. Com todo o seu corolário de lutos e destruições (acrescentou ainda
o Papa), a guerra sempre foi justamente considerada uma calamidade em contraste com
o projecto de Deus, que tudo criou para a existência e que quer fazer do género humano
uma família. E foi neste contexto que Bento XVI aludiu a uma data significativa:
A
1 de Agosto de 1917 – faz agora precisamente 90 anos – o meu venerado predecessor,
o Papa Bento XV, dirigiu a sua célebre Nota às potências beligerantes, pedindo
que pusessem termo à I Guerra Mundial. Enquanto decorria com toda a sua violência
aquele imane conflito, o Papa teve a coragem de afirmar que se tratava de um inútil
massacre. Esta sua expressão ficou esculpida na história
Embora referidas
à situação concreta daquele verão de 1917, aquelas palavras contêm um valor mais amplo,
profético, que bem se pode aplicar a tantos outros conflitos, que têm dizimado inumeráveis
vidas humanas. Bento XVI evocou o facto de que, há 90 anos, durante a I Grande
Guerra, uma das mais ferozes frentes de batalha ocorria precisamente naquelas montanhas
dos dolomitas onde se encontravam agora. São acontecimentos a não esquecer! - advertiu.
Há que aprender com as experiências negativas, para as não repetir. E recordou as
orientações concretas apontadas pelo seu antecessor em 1917 mas ainda hoje válidas.
A
Nota do Papa Bento XV não se limitava a condenar a guerra. Indicava, num plano jurídico,
os caminhos para construir uma paz équa e duradoura: a força moral do direito, o desarmamento
balanceado e controlado, a arbitragem nas controvérsias, a liberdade dos mares, condonar
reciprocamente as despesas bélicas, restituir os territórios ocupados e encetar negociações
justas para dirimir as questões. A proposta da Santa Sé era orientada para o futuro
da Europa e do mundo, segundo um projecto cristão na inspiração, mas condivisível
por todos, porque fundado sobre o direito das gentes.
Foi nessa mesma linha
que, sucessivamente, se situaram Paulo VI e João Paulo, nos seus memoráveis discursos
à Assembleia das Nações Unidas, repetindo em nome da Igreja:
‘Nunca mais
a guerra’. Deste lugar de paz, em que ainda mais vivamente se advertem como inaceitáveis
dos horrores dos inúteis massacres, renovo o apelo a seguirem com tenacidade
as vias do direito, recusando com determinação a corrida aos armamentos, rejeitando
mais em geral a tentação de enfrentar novas situações com velhos sistemas.
Nas
saudações finais às diversas personalidades e grupos presentes, de destacar as palavras
cordiais dirigidas pelo Papa ao cardeal Joseph Ze-Kiun, arcebispo de Hong-Kong (acompanhado
de um grupo de diáconos chineses), assim como o irmão do Papa João Paulo I, que era
natural desta região.