DOM BRUNO FORTE: OS ÚLTIMOS DOCUMENTOS DE BENTO XVI RENOVAM O VALOR DO CONCÍLIO VATICANO
II
Chieti, 14 jul (RV) – O arcebispo de Chieti-Vasto, Dom Bruno Forte, renomado
teólogo, comenta o Motu proprio do papa sobre a celebração dos sacramentos
segundo o antigo rito tridentino e também o documento da Congregação para a Doutrina
da Fé, acerca de alguns aspectos da doutrina sobre a Igreja...
Dom Bruno
Forte:- "Este documento da Congregação para a Doutrina da Fé reafirma exatamente
aquilo que diz o Concílio Vaticano II, que faz distinção entre Igrejas e comunidades
eclesiais, referindo-se às comunidades de cristãos não-católicos. Isso, com o objetivo
do Vaticano II de distinguir aquelas comunidades que mantiveram a natureza da Igreja
segundo a idéia católica e, portanto, mantiveram o sacerdócio na sucessão apostólica
e na Eucaristia, e aquelas comunidades que, ao invés, não tendo mantido essa mesma
natureza, não podem ser consideradas Igrejas. Essa distinção quer ajudar o ecumenismo
a construir-se, sempre no respeito pelo outro. Em outras palavras, a diversa idéia
de Igreja que têm as comunidades nascidas da Reforma, faz com que _ elas mesmas _
em seus documentos, sublinhem essa diversidade em relação à Igreja Católica. Portanto,
é justo respeitar essa autoconsciência de diversidade e exprimi-la também com uma
terminologia diversa."
P. Desde o início de seu pontificado, Bento XVI invocou
um diálogo ecumênico que caminhasse sobre os trilhos paralelos da verdade e da caridade.
Este documento se insere nesse quadro?
Dom Bruno Forte:- "Sim, se
insere, justamente porque evidencia uma distinção fundamental, relativa ao conceito
de Igreja, que é preciso, peremptoriamente, não ignorar, sob pena de transformação
do ecumenismo num irenismo fácil, que não beneficia ninguém. Evidencia também o valor
do diálogo da caridade, porque retoma a idéia da "Lumen gentium" (Constituição
dogmática sobre a Igreja, ndr), onde ela afirma que a Igreja Una, Santa, Católica
e Apostólica subsiste na Igreja Católica, sob a guia do Sucessor de Pedro e dos bispos,
em comunhão com ele. Usando aquele "subsistit in", ou seja, aquele "subsiste"
e retomando o seu valor, este esclarecimento doutrinal quer nos recordar as razões
pelas quais o Concílio Vaticano II preferiu o termo "subsistit in" ao invés da simples
afirmação "est". Se o documento conciliar tivesse dito que a Igreja Una, Santa, Católica
e Apostólica "é" a Igreja Católica, guiada pelo Sucessor de Pedro e pelos bispos,
em união com ele, tratar-se-ia da mera afirmação de uma identidade que excluía, fora
da comunhão católica, todo outro grau de comunhão, toda presença real dos meios da
graça."
P. Dom Bruno, o senhor sublinha que o papa faz referências constantes
ao Concílio Vaticano II. Todavia, algumas críticas ao Motu proprio
"Summorum Pontificum" afirmam que Bento XVI quer retroceder ao período pré-conciliar.
No entanto, por exemplo, na sua carta aos católicos chineses, o papa não menciona
sequer um documento anterior ao Concílio...
Dom Bruno Forte:- "Estou
convencido _ baseado nas afirmações feitas pelo papa, desde o início de seu pontificado
_ de que toda a orientação de fundo, de sua mensagem às Igrejas e ao mundo, segue
a linha do Concílio Vaticano II. E foi o que o papa reiterou também nestes recentes
documentos. Também no documento relativo à celebração da santa missa segundo o Missal
de São Pio V, Bento XVI sublinha, com muita clareza, o valor indiscutível do Concílio
Vaticano II e da Liturgia renovada por ele, e considera esta, a forma ordinária da
Liturgia da Igreja. Não vejo nesse documento nenhuma forma de traição do Concílio
e quem assim o interpretasse, cairia no mesmo erro dos seguidores de Dom Marcel Lefèbvre,
que sempre declararam abertamente, rejeitar a autenticidade doutrinal do Concílio
Vaticano II." (AF)