CONGO: VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS ACUSADAS DE BRUXARIA
Roma, 12 jul (RV) - A ONG "Save the Children" denunciou ontem, o abusos e a
violência de que são vítimas milhares de crianças, acusadas de bruxaria, na República
Democrática do Congo _ um fenômeno que começou no início da década de 90, nas grandes
cidades desse país africano.
A "Save the Children" publicou um informe, segundo
o qual, em torno de 70 mil crianças são acusadas ou perseguidas por bruxaria, a maioria
das quais, na capital do país, Kinshasa.
O informe revela que a perda dos valores
tradicionais, o poder alcançado por alguns grupos religiosos como, por exemplo, a
"Igreja do despertar", e o trauma dos anos de guerra (que deixaram um saldo de quatro
milhões de mortos e um milhão e 600 mil deslocados) têm levado a coletividade a considerar
certas crianças como uma possível ameaça, da qual é preciso se proteger.
As
crianças são acusadas por pregadores da "Igreja do despertar", por seus próprios pais
ou por vizinhos. O informe da "Save the Children" disse que alguns genitores culpam
os próprios filhos, pelas mortes causadas pela AIDS e pela malária, além de atribuir
a eles a responsabilidade pelo atraso em que vivem, e por todo e qualquer desastre
natural.
Alguns eventos naturais ao crescimento de uma criança são considerados,
por alguns pregadores e por numerosas famílias congolenses como "sinais inequívocos
de bruxaria": debilidade física, magreza, baixa estatura, aspecto de desnutrido, sujeira,
epilepsia, desordens de comportamento, desobediência, má-educação, nervosismo e incontinência
urinária, além do fato de vagar pelas ruas, tudo isso pode ser sinônimo de que a criança
é uma bruxa ou um bruxo. A maioria dessas "características" é própria da adolescência
e, outras tantas derivam da pobreza e do escasso nutrimento.
Os pregadores
da "Igreja do despertar" asseguram que a bruxaria é capaz de provocar danos, de trazer
má sorte, de contagiar enfermidades e desencadear matanças. Essa "seita" religiosa
atua graças a doações que obtém, por meio de exorcismos, e conta com a condescendência
de funcionários estatais, aos quais paga consistentes subornos. (AF)