UM GESTO DE AMOR DO PAPA PARA COM A IGREJA NA CHINA: A CARTA DE BENTO XVI AOS CATÓLICOS
DO GIGANTE ASIÁTICO
Cidade do Vaticano, 30 jun (RV) - Um documento esperado, sinal do amor e da
proximidade do Papa para com a comunidade católica presente na China: com esse espírito,
foi publicada hoje, a carta de Bento XVI aos bispos, presbíteros, consagrados e fiéis
leigos da Igreja Católica na República Popular da China.
O documento pontifício
_ dividido em 20 capítulos _ oferece orientações sobre a vida da Igreja e sobre a
obra de evangelização na China, respondendo a numerosos pedidos que chegaram à Santa
Sé, nos últimos anos.
Numa nota, difundida pela Sala de Imprensa da Santa Sé,
se ressalta que a carta "trata de questões eminentemente religiosas" e "não é, portanto,
um documento político", nem "quer ser um ato de acusação contra as autoridades governamentais,
embora não possa ignorar as conhecidas dificuldades que a Igreja na China deve afrontar,
diariamente".
Tais problemas _ precisa a nota explicativa _ foram analisados,
no Vaticano, por uma comissão especialmente instituída para essa finalidade. O papa
convocou, para os dias 19 e 20 de janeiro passado, uma reunião que contou com a participação
de vários eclesiásticos, também chineses.
Ao término desse encontro, a comissão
se ocupou de preparar o documento que, significativamente, foi assinado pelo papa
no dia 27 de maio passado, solenidade de Pentecostes. Com a carta, o Santo Padre institui
um Dia de oração pela Igreja na China, a ser celebrado no dia 24 de maio.
Um
profundo afeto por toda a comunidade católica na China e uma grande fidelidade aos
valores da tradição católica no campo eclesiológico: são esses os dois princípios
nos quais se inspirou Bento XVI, para redigir sua carta aos católicos chineses, aos
quais o papa manifesta, sobretudo, a sua "fraterna proximidade".
"Vocês _ escreve
o pontífice no início da carta _ sabem muito bem como estão presentes em meu coração."
Desde as primeiras linhas, o Santo Padre expressa sua intensa alegria, pela fidelidade
dos católicos chineses a Cristo e à Igreja, "por vezes à custa de graves sofrimentos".
Um
testemunho de fidelidade _ reitera o documento _ oferecido "em circunstâncias verdadeiramente
difíceis". O pontífice pede aos fiéis, compreensão e perdão quando for necessário.
E os convida a um caminho sério rumo a uma completa comunhão, para permanecer fiéis
a Cristo e ao Sucessor de Pedro, num diálogo "respeitoso e construtivo" com o governo.
O
papa mostra apreço pelo fato de a China ter conseguido alcançar significativas metas
de progresso socioeconômico, e ressalta que, de modo particular entre os jovens, por
um lado cresce o interesse pela dimensão espiritual; e por outro, se percebe "a tendência
ao materialismo e ao hedonismo".
Assim sendo, o pontífice exorta a Igreja Católica
na China a ser testemunha de Cristo, "a olhar avante com esperança, e a confrontar-se,
no anúncio do Evangelho, com os novos desafios que o povo chinês deve afrontar".
Com
sua carta, Bento XVI envia também, uma mensagem particular às autoridades civis: A
Santa Sé reafirma a "própria disponibilidade ao diálogo e ressalta não querer interferir
nos assuntos internos das comunidades políticas".
"A China fique sabendo _
afirma Bento XVI _ que a Igreja Católica tem o firme propósito de oferecer, mais uma
vez, um humilde e desinteressado serviço naquilo que lhe compete, para o bem dos católicos
chineses e de todos os habitantes do país."
O pontífice reitera, todavia, a
posição da Santa Sé sobre a liberdade religiosa: "A solução dos problemas existentes
_ lê-se no capítulo IV _ não pode ser buscada mediante um permanente conflito com
as autoridades civis; ao mesmo tempo, porém, não é aceitável render-se aos mesmos,
quando eles interferem indevidamente, em matérias que concernem à fé e à disciplina
da Igreja."
As autoridades civis _ escreve Bento XVI _ "têm consciência de
que a Igreja, em seu ensinamento, convida os fiéis a serem bons cidadãos", "mas é
igualmente claro, que ela pede ao Estado que garanta" aos cidadãos católicos "o exercício
pleno de sua fé, no respeito por uma autêntica liberdade religiosa".
Portanto,
a Santa Sé, em nome de toda a Igreja Católica, faz votos de que se possa instaurar
um espaço de diálogo com as autoridades de Pequim, a fim de que, superadas as incompreensões
do passado, se possa trabalhar juntos, pelo bem do povo chinês.
O papa reconhece
que tal normalização de relações exigirá tempo. Todavia, como o seu predecessor, João
Paulo II, está convencido de que tal normalização oferecerá uma inigualável contribuição
à paz no mundo.
Passando aos aspectos mais especificamente eclesiais, o pontífice
se detém sobre a "situação de fortes contrastes que envolvem fiéis e pastores" chineses.
E recorda que, para a unidade da Igreja em cada nação, todo bispo deve estar em comunhão
com os outros bispos, e todos, por sua vez, em comunhão visível e concreta com o Sucessor
de Pedro.
"A Igreja que está na China _ lê-se na carta _ é chamada a viver
e a manifestar essa unidade numa mais rica espiritualidade de comunhão."
No
capítulo sete, o documento pontifício se detém sobre a Associação Patriótica, que
_ reitera o texto _ é o organismo instituído pelo Estado, estranho à estrutura da
Igreja, com a pretensão de se colocar acima dos próprios bispos e de guiar a comunidade
eclesial.
As declaradas finalidades da Associação Patriótica, de aplicar os
princípios de independência e autonomia, autogestão e administração da Igreja são,
portanto, _ afirma a carta do papa _ inconciliáveis com a doutrina católica, e têm,
no mais, "causado divisões, tanto entre o clero quanto entre os fiéis".
Além
disso, o documento evidencia que a comunidade e a unidade "são elementos essenciais
e integrais da Igreja Católica". Portanto _ sublinha _ "o projeto de uma Igreja "independente",
em âmbito religioso, é incompatível com a doutrina católica".
Nos capítulos
oito e nove, Bento XVI volta sua atenção para as condições do Episcopado chinês, e
aborda a delicada questão das ordenações episcopais _ uma questão que "toca o coração
da Igreja" e representa "um elemento constitutivo do exercício pleno da liberdade
religiosa". A carta reafirma que a nomeação dos bispos é uma prerrogativa do papa,
que tem como motivação "a garantia da unidade da Igreja".
Nesse contexto, o
documento pontifício sublinha que cada ordenação ilegítima representa uma "dolorosa
ferida à comunhão eclesial". (RL)