2007-06-30 19:24:07

UM GESTO DE AMOR DO PAPA PARA COM A IGREJA NA CHINA: A CARTA DE BENTO XVI AOS CATÓLICOS DO GIGANTE ASIÁTICO


Cidade do Vaticano, 30 jun (RV) - Um documento esperado, sinal do amor e da proximidade do Papa para com a comunidade católica presente na China: com esse espírito, foi publicada hoje, a carta de Bento XVI aos bispos, presbíteros, consagrados e fiéis leigos da Igreja Católica na República Popular da China.

O documento pontifício _ dividido em 20 capítulos _ oferece orientações sobre a vida da Igreja e sobre a obra de evangelização na China, respondendo a numerosos pedidos que chegaram à Santa Sé, nos últimos anos.

Numa nota, difundida pela Sala de Imprensa da Santa Sé, se ressalta que a carta "trata de questões eminentemente religiosas" e "não é, portanto, um documento político", nem "quer ser um ato de acusação contra as autoridades governamentais, embora não possa ignorar as conhecidas dificuldades que a Igreja na China deve afrontar, diariamente".

Tais problemas _ precisa a nota explicativa _ foram analisados, no Vaticano, por uma comissão especialmente instituída para essa finalidade. O papa convocou, para os dias 19 e 20 de janeiro passado, uma reunião que contou com a participação de vários eclesiásticos, também chineses.

Ao término desse encontro, a comissão se ocupou de preparar o documento que, significativamente, foi assinado pelo papa no dia 27 de maio passado, solenidade de Pentecostes. Com a carta, o Santo Padre institui um Dia de oração pela Igreja na China, a ser celebrado no dia 24 de maio.

Um profundo afeto por toda a comunidade católica na China e uma grande fidelidade aos valores da tradição católica no campo eclesiológico: são esses os dois princípios nos quais se inspirou Bento XVI, para redigir sua carta aos católicos chineses, aos quais o papa manifesta, sobretudo, a sua "fraterna proximidade".

"Vocês _ escreve o pontífice no início da carta _ sabem muito bem como estão presentes em meu coração." Desde as primeiras linhas, o Santo Padre expressa sua intensa alegria, pela fidelidade dos católicos chineses a Cristo e à Igreja, "por vezes à custa de graves sofrimentos".

Um testemunho de fidelidade _ reitera o documento _ oferecido "em circunstâncias verdadeiramente difíceis". O pontífice pede aos fiéis, compreensão e perdão quando for necessário. E os convida a um caminho sério rumo a uma completa comunhão, para permanecer fiéis a Cristo e ao Sucessor de Pedro, num diálogo "respeitoso e construtivo" com o governo.

O papa mostra apreço pelo fato de a China ter conseguido alcançar significativas metas de progresso socioeconômico, e ressalta que, de modo particular entre os jovens, por um lado cresce o interesse pela dimensão espiritual; e por outro, se percebe "a tendência ao materialismo e ao hedonismo".

Assim sendo, o pontífice exorta a Igreja Católica na China a ser testemunha de Cristo, "a olhar avante com esperança, e a confrontar-se, no anúncio do Evangelho, com os novos desafios que o povo chinês deve afrontar".

Com sua carta, Bento XVI envia também, uma mensagem particular às autoridades civis: A Santa Sé reafirma a "própria disponibilidade ao diálogo e ressalta não querer interferir nos assuntos internos das comunidades políticas".

"A China fique sabendo _ afirma Bento XVI _ que a Igreja Católica tem o firme propósito de oferecer, mais uma vez, um humilde e desinteressado serviço naquilo que lhe compete, para o bem dos católicos chineses e de todos os habitantes do país."

O pontífice reitera, todavia, a posição da Santa Sé sobre a liberdade religiosa: "A solução dos problemas existentes _ lê-se no capítulo IV _ não pode ser buscada mediante um permanente conflito com as autoridades civis; ao mesmo tempo, porém, não é aceitável render-se aos mesmos, quando eles interferem indevidamente, em matérias que concernem à fé e à disciplina da Igreja."

As autoridades civis _ escreve Bento XVI _ "têm consciência de que a Igreja, em seu ensinamento, convida os fiéis a serem bons cidadãos", "mas é igualmente claro, que ela pede ao Estado que garanta" aos cidadãos católicos "o exercício pleno de sua fé, no respeito por uma autêntica liberdade religiosa".

Portanto, a Santa Sé, em nome de toda a Igreja Católica, faz votos de que se possa instaurar um espaço de diálogo com as autoridades de Pequim, a fim de que, superadas as incompreensões do passado, se possa trabalhar juntos, pelo bem do povo chinês.

O papa reconhece que tal normalização de relações exigirá tempo. Todavia, como o seu predecessor, João Paulo II, está convencido de que tal normalização oferecerá uma inigualável contribuição à paz no mundo.

Passando aos aspectos mais especificamente eclesiais, o pontífice se detém sobre a "situação de fortes contrastes que envolvem fiéis e pastores" chineses. E recorda que, para a unidade da Igreja em cada nação, todo bispo deve estar em comunhão com os outros bispos, e todos, por sua vez, em comunhão visível e concreta com o Sucessor de Pedro.

"A Igreja que está na China _ lê-se na carta _ é chamada a viver e a manifestar essa unidade numa mais rica espiritualidade de comunhão."

No capítulo sete, o documento pontifício se detém sobre a Associação Patriótica, que _ reitera o texto _ é o organismo instituído pelo Estado, estranho à estrutura da Igreja, com a pretensão de se colocar acima dos próprios bispos e de guiar a comunidade eclesial.

As declaradas finalidades da Associação Patriótica, de aplicar os princípios de independência e autonomia, autogestão e administração da Igreja são, portanto, _ afirma a carta do papa _ inconciliáveis com a doutrina católica, e têm, no mais, "causado divisões, tanto entre o clero quanto entre os fiéis".

Além disso, o documento evidencia que a comunidade e a unidade "são elementos essenciais e integrais da Igreja Católica". Portanto _ sublinha _ "o projeto de uma Igreja "independente", em âmbito religioso, é incompatível com a doutrina católica".

Nos capítulos oito e nove, Bento XVI volta sua atenção para as condições do Episcopado chinês, e aborda a delicada questão das ordenações episcopais _ uma questão que "toca o coração da Igreja" e representa "um elemento constitutivo do exercício pleno da liberdade religiosa". A carta reafirma que a nomeação dos bispos é uma prerrogativa do papa, que tem como motivação "a garantia da unidade da Igreja".

Nesse contexto, o documento pontifício sublinha que cada ordenação ilegítima representa uma "dolorosa ferida à comunhão eclesial". (RL)







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